‘É um disco emotivo pelas lembranças do subúrbio’, diz Guinga sobre show com Cláudio Jorge

Cláudio Jorge e Guinga previnem o público: podem rolar lágrimas no show de hoje — ao menos no palco. Quando gravaram o álbum “Farinha do mesmo saco”, que lançam esta noite no Teatro Rival Refit, choraram bastante no estúdio.

— É um disco muito emotivo, por causa das lembranças do subúrbio, das pessoas que a gente perdeu pelo caminho — explica Cláudio.

O repertório não é triste, mas é unido por esse conceito: o subúrbio carioca, onde ambos nasceram e cresceram. Tem humor — forte na única composição que os dois assinam juntos, “Domingueira” — e tem lirismo, farto em outras canções, como “Minha alma suburbana”, criada por Cláudio em 1983.

Da lavra de Guinga há duas parcerias com Anna Paes: “Mello baloeiro” — homenagem ao artista plástico Mello Menezes, autor da capa do álbum — e “Largo das Cinco Bocas”.

— Eu propus o disco. Somos amigos há mais de 50 anos, e falei para o Cláudio: “Estamos velhos e vamos morrer sem fazer um disco juntos” — conta Guinga. — Não é um trabalho para mostrar virtuosismo. É um encontro, como se estivéssemos em casa.

Guinga, hoje com 72 anos, e Cláudio, com 73, ambos violonistas consagrados, se aproximaram graças à música. O primeiro viu o segundo tocando violão e guitarra em noites de samba e jazz no Cachambi, o bairro natal de Cláudio. Acabou chamando-o para a banda que acompanhava João Nogueira, na qual faltava um contrabaixista. Depois que Guinga deixou a música em segundo plano para ganhar a vida como dentista, o amigo assumiu o violão do conjunto.

— Ficamos afastados por muito tempo, mas antes íamos à casa um do outro. Eu me lembro desses momentos — diz Cláudio, para quem “em qualquer lugar do mundo a gente não deixa de ser uma alma suburbana”. — O suburbano tem um permanente correr atrás, porque não tem nada de mão beijada. E é uma cultura muito forte. Boa parte da história da música brasileira vem do subúrbio.

Guinga nasceu em Madureira e cresceu em Vila Valqueire, na fronteira com Jacarepaguá — onde Cláudio mora. Até hoje, mesmo morando no Leblon, dá longas caminhadas pelo Valqueire e chega a compor enquanto anda.

Além de “Domingueira”, há outras duas inéditas no repertório, ambas de Cláudio: “Bom bocado”, com Nei Lopes, e “Bilhete pro Guinga”, com Gilson Peranzzetta. Dele com Nei também há “Senhora da canção”, para Dona Ivone Lara; “Chorando pelos dedos”, para Joel Nascimento; e “Parceiros e amigos”, com Luiz Carlos da Vila. De Guinga há “Mar de Maracanã”, com Edu Kneip.

Ainda haverá momentos solo no show, quando Guinga interpretará, por exemplo, “Catavento e girassol” (letra de Aldir Blanc) e Cláudio, “Fundo de quintal” (com Cartola e Hermínio Bello de Carvalho).

Onde: Teatro Rival Refit. Rua Álvaro Alvim 33, Centro. Quando: hoje, às 19h30. Quanto: R$ 100. Classificação: 18 anos.