Alemanha lembra os 75 anos da 'Noite dos cristais'

A Alemanha lembra neste sĂĄbado e domingo a "Noite dos Cristais", um pogrom contra os judeus organizado pelo regime de Hitler, hĂĄ 75 anos, que revelou ao mundo sua violĂȘncia antissemita.
Na madrugada de 9 para 10 de novembro de 1938, e durante todo o dia que se seguiu, propriedades de judeus foram saqueadas em todo o paĂs, sinagogas foram queimadas e 30.000 homens presos e deportados.
Estes episĂłdios de violĂȘncia deixaram 90 mortos entre a população judaica alemĂŁ.
Esta sĂșbita explosĂŁo de violĂȘncia foi apresentada pelos nazistas como uma revolta espontĂąnea em resposta ao assassinato de Ernst vom Rath, secretĂĄrio da embaixada alemĂŁ em Paris, por Herschel Grynszpan, um estudante de 17 anos que queria vingar a expulsĂŁo de sua famĂlia da Alemanha.
Mas os tumultos foram, de fato, organizados pelo regime de Hitler.
No Ășltimo sĂĄbado, em uma mensagem de vĂdeo semanal publicada em sua pĂĄgina na internet, a chanceler Angela Merkel considerou que esses eventos "foram os piores momentos da histĂłria alemĂŁ", mesmo que o Holocausto que se seguiu tenha sido "um evento mais dramĂĄtico".
Ela pediu que os alemĂŁes "demonstrem coragem cĂvica para que nenhuma forma de antissemitismo seja tolerada".
A Alemanha acolhe atualmente a terceira comunidade judaica da Europa - atrås de França e Grã-Bretanha - com 200.000 pessoas.
No momento em que Hitler chegou ao poder, em 1933, havia 560.000 judeus na Alemanha. Mas, em 1950, apenas 15.000 ainda viviam no paĂs. A comunidade renasceu apĂłs a queda do Muro de Berlim.
Em uma entrevista à imprensa, publicada neste såbado, o presidente do Conselho Central de judeus da Alemanha, Dieter Baumann, desejou que seus concidadãos "participem sinceramente e com emoção" e declarou que estes aniversårios conduzem muito frequentemente a um "recolhimento ritualizado".
O presidente alemĂŁo, Joachim Gauck, participarĂĄ na tarde deste sĂĄbado de uma cerimĂŽnia no Memorial da sinagoga queimada de Eberswalde, cidade perto de Berlim, em 9 de novembro de 1938.
E, no domingo, o ministro do Interior, Hans-Peter Friedrich, irĂĄ discursar em uma sinagoga no centro de Berlim.
Dezenas de lojas na capital alemĂŁ vĂŁo colar neste fim de semana em suas vitrines um adesivo plĂĄstico que cria a impressĂŁo de que elas estĂŁo quebradas, para lembrar as lojas judaicas saqueadas pelos nazistas.
A prefeitura pediu que os moradores limpem os cerca de 5.000 pequenos tijolos dourados, sobre os quais estão inscritos os nomes dos judeus e a data de sua deportação, e que estão inseridos nas calçadas de Berlim na frente de suas antigas casas.
No domingo, em frente ao PortĂŁo de Brandemburgo, coração turĂstico de Berlim, haverĂĄ uma instalação multimĂdia, com jovens apresentando vĂdeos curtos contra o racismo e o antissemitismo. Testemunhas e sobreviventes da Ă©poca estarĂŁo presentes.
NĂŁo muito longe dali, o centro de documentação "Topografia do Terror" abriu na Ășltima sexta-feira uma exposição intitulada "Isso queima! 75 anos apĂłs o pogrom de 9 de novembro". Ela estarĂĄ aberta Ă visitação atĂ© o dia 2 de março de 2014.
No Twitter, a conta @9Nov38 conta "em tempo real" - em alemĂŁo - os incidentes ocorridos na Noite dos Cristais.
O dia 9 de novembro marca outros momentos importantes da HistĂłria alemĂŁ, o que lhe vale o apelido de "dia do destino" (Schicksalstag). Ă, entre outros, o aniversĂĄrio da queda do Muro de Berlim (1989).
Neste sĂĄbado tambĂ©m Ă© lembrado o 90Âș aniversĂĄrio do Putsch de Munique (1923), uma tentativa frustrada de tomada de poder por parte de Adolf Hitler que nĂŁo impediu sua ascensĂŁo polĂtica posterior.
E o dia marca ainda o 85Âș aniversĂĄrio da primeira RepĂșblica AlemĂŁ, com a abdicação do Imperador Guilherme II em 1918.