Canicross, o esporte de correr com o cachorro

Competição de Canicross na Inglaterra. Foto: Tim Ireland/PA Images via Getty Images
Competição de Canicross na Inglaterra. Foto: Tim Ireland/PA Images via Getty Images

VocĂȘ jĂĄ ouviu falar do esporte que reĂșne cĂŁo de estimação e seu dono realizando corridas na terra, ou atĂ© na neve. NĂŁo, nĂŁo Ă© disputa moderna. Vem de tradição no Velho Continente desde 1982 impulsionada pelas mĂŁos do veterinĂĄrio francĂȘs Gilles Pernound. Embora a versĂŁo mais oficial se sobreponha e aponte o surgimento da modalidade na dĂ©cada de 90 atravĂ©s do Reino Unido, cujo territĂłrio apresentava treinamento inicial para animais puxarem os trenĂłs, adaptando o cĂŁo Ă  tração atrelado ao condutor. Dentro deste contexto, o canicross teria nascido na Inglaterra e batizado de mushing em que cĂŁes tracionam puxando pessoas, bicicleta, scooter e atĂ© ski.

Praticado com raças de mĂ©dio ou grande porte, a modalidade consiste em correr com cachorro utilizando cinto e coleira amarrados Ă  cintura. Percursos variantes entre quatro e dez quilĂŽmetros. Existem os chamados percursos tĂ©cnicos (com obstĂĄculos, trilhas, subidas e descidas). No Reino Unido estas provas clĂĄssicas sĂŁo contra o relĂłgio ou em baterias. Exceção acontece na França, em competição disputada todo mĂȘs de agosto conhecida por ser ultra canicross. Com dez segmentos diferentes, tendo 250 duplas totalizando 65 quilĂŽmetros.

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Com federação oficial internacional, aqui no Brasil o destaque no canicross fica por conta do pioneirismo de William Oliveira. O educador fĂ­sico de 46 anos jĂĄ contabiliza dez anos nas provas. CampeĂŁo sul-americano em 2018, e com participação recente no latino-americano mĂȘs passado na cidade de Villa Rica no Chile, Ă© expert e de quebra atĂ© ensina por vĂ­deo-chamada o canicross. E nem a pandemia atrapalhou sua vida. Pelo contrĂĄrio, lecionou em outro idioma. Mas faz questĂŁo de destacar que nĂŁo Ă© professor de canicross apenas atende seus alunos de performance fĂ­sica que tambĂ©m praticam a modalidade. No entanto, inicialmente voltados aos exercĂ­cios que conduz em academias.

Seu grande companheiro de jornada Ă© Xico, um cĂŁo da raça braco alemĂŁo. AlĂ©m disso, a paixĂŁo por animais Ă© tamanha que ele tem ainda Bill, Lutrell, Snoopy e Meg. A novata Tonha, da raça greyster (criação originada na Noruega no inĂ­cio dos anos 80 a partir de cruzamento de raças alemĂŁs e inglesas e que puxa trenĂłs), serĂĄ a prĂłxima a ser empregada, mas nas provas do bikejoring. É uma modalidade derivada do canicross, no qual o cĂŁo ou grupo deles ligados a um reboque tem de puxar ou correr Ă  frente do ciclista, o equipamento preso Ă  bicicleta deve trazer o tutor.

AlĂ©m desta categoria, no evento latino americano que Oliveira marcou presença e reuniu competidores de ambos os sexos, contou tambĂ©m com a modalidade dog scooter. Se estĂĄ a fim de encarar desafios com muita adrenalina, vai a dica da emoção um pouco alĂ©m do canicross e do bikejoring. Neste caso, vocĂȘ precisa ter a scooter, que Ă© especialmente projetada para cĂŁes. A pessoa ficarĂĄ presa Ă  frente do veĂ­culo. O animal puxa o condutor que tem de se equilibrar. SĂŁo obrigatĂłrios capacetes e coletes.

Preparação e benefícios

O cão, que é atleta no canicross, faz treinos como seres humanos: tiros, intervalos, subida e até natação. Existe um preparo gradual para o animal de forma constante para não encarar logo de início o percurso. Segundo veterinårios especializados, o trabalho com o bicho tem de ser aos poucos para adaptar a musculatura e a respiração de modo a resistir às distùncias.

Por outro lado, ao dono do animal, o esporte proporciona resistĂȘncia, preparo fĂ­sico e impacto positivo alĂ©m do ganho na saĂșde emocional. A parceria perfeita com o homem permite o resgate de vĂ­nculos que socializam os cĂŁes. Por estas e outras, a sugestĂŁo da escolha de um esporte estĂĄ dada. No entanto, Ă© preciso pensar no bolso antes de seguir em frente.

Oportunidade

TambĂ©m enquadrado em esportes com percursos em montanhas, o canicross abre espaço a quem deseja aprimorar sua experiĂȘncia no estado de SĂŁo Paulo. É que haverĂĄ o Master Rocky Mountain Games. O evento acontecerĂĄ entre 17 e 18 de setembro em Campos de JordĂŁo, municĂ­pio paulista conhecido como Suíça brasileira.

ApĂłs reunir trĂȘs mil competidores, o encontro realizado no inĂ­cio do ano em Pedra Grande (Atibaia) no interior paulista, bombou e estĂĄ com inscriçÔes abertas. Considerado o maior do paĂ­s, o Master Rocky Mountain Games contarĂĄ entre outros atrativos bandas musicais e as provas de subida de montanha, mountain bike, corridas de trilha (trail ranking). Este esporte que William Oliveira Ă© oriundo. E tambĂ©m o canicross, que reuniu em Atibaia 56 duplas na primeira etapa da Copa ABCAES. AçÔes que inspiram um provĂĄvel campeonato nacional. A seguir maiores detalhes de William Oliveira.

Yahoo Esportes – Qual a primeira modalidade que praticou e fale um pouco de sua trajetĂłria atĂ© chegar ao canicross?

William Oliveira – O primeiro esporte foi o judĂŽ. Eu cheguei ao canicross apĂłs fazer a transição das provas de mountain bike para o trail running. No inĂ­cio foi tudo muito difĂ­cil. NĂŁo havia equipamentos e comecei a fabricĂĄ-los e organizar torneios desde 2012 e ranking anual em trĂȘs estados diferentes. Meu primeiro cĂŁo estĂĄ comigo hĂĄ 13 anos. E representa verdadeiro amor por animais.

Como analisa o canicross em termos de custos para ser disponibilizada a prĂĄtica Ă s pessoas interessadas?

Um kit para o canicross varia de R$ 300,00 a R$1.200,00. É um esporte em geral não muito barato. Outros gastos são alimentação do cão e vacinas. E mais despesas com as viagens para competir. Sendo preciso ainda o deslocamento de carro ou avião.

Como foram suas experiĂȘncias em disputas no canicross?

Eu disputei um Mundial ficando em 27Âș na elite. TambĂ©m recebi convites para o Europeu. Mas a disputa recente do latino americano foi Ășnica. Eu queria disputar o canicross e bikejoring com o Xico. VĂ­nhamos treinando. E tĂ­nhamos chance de medalha nas duas modalidades na categoria Master. No dia 13 de dezembro do ano passado, comecei a sentir dores na coxa e perna direita. ApĂłs exames descobri quatro protrusĂ”es (deslocamento) discais uma delas no nervo L4. Perdi mais dois centĂ­metros na coxa direita. Praticamente reaprendi a andar em um mĂȘs. Hoje ainda tenho dores na coxa direita se eu correr rĂĄpido. Fiquei quase um mĂȘs sem treinar. Quando pedalo nĂŁo sinto dor, entĂŁo competi somente no bikejoring, mas o meu condicionamento fĂ­sico nĂŁo me dava muita confiança. Fiz o melhor tempo no primeiro dia, mas no segundo nĂŁo consegui pedalar tĂŁo bem porque estava cansado do primeiro dia. Ficamos em segundo lugar, que dĂłi muito.

HĂĄ algum Ă­dolo que vocĂȘ possa destacar no canicross ou em outra modalidade?

No canicross tem a multicampeã mundial de dupla nacionalidade norueguesa e belga Tessa Philipaerts. E no mountain, bike o suíço Nino Schurter – medalha de ouro em 2016, na Olimpíada do Rio de Janeiro, no mountain bike cross country.

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