Análise: Bolsonaro ignora apelos do Centrão, que se cala diante de discurso que afasta eleitores
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- Jair BolsonaroCapitão reformado, político e 38º presidente do Brasil
Convenções políticas são, em todo o mundo, o ápice da campanha. O discurso do candidato cria o norte da reta final da busca por votos, une aliados e tonifica os apoiadores. Mas não com Jair Bolsonaro. O presidente que busca a reeleição em desvantagem nas pesquisas segue sem ouvir, ou executar, o que pede seu maior aliado e fiador: o Centrão. No evento do Maracanãzinho, Bolsonaro será lembrado por novas ameaças e questionamentos às urnas, algo que não agrada os partidos que o apoiam, mas que consentem em silêncio diante de uma narrativa que afasta o eleitor médio, além de gerar o temor de atos antidemocráticos.
O núcleo político da campanha de reeleição de Jair Bolsonaro tem usado pesquisas quantitativas e qualitativas para identificar as fragilidades eleitorais do titular do Palácio do Planalto. É com base nessas sondagens que aliados Centrão dizem tentar convencê-lo a deixar de lado os ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e às urnas eletrônicas com argumento de que não rendem voto além do grupo já consolidado, mas admitem: Bolsonaro faz o que quer e quanto a isso não há o que fazer.
Não é de agora que o presidente tem ignorado os tais conselhos por moderação como fez neste domingo ao lançar oficialmente sua candidatura à reeleição pelo PL no Rio com ataques ao STF e convocando apoiadores para irem às ruas “pela última vez” no próximo 7 de setembro. Ao longo da semana, caciques do Centrão diziam terem sugerido ao presidente um discurso de “harmonia” e "equilíbrio''.
Ao lado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o ministro-chefe da Casa Civil e presidente licenciado do PP, Ciro Nogueira, e do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, Bolsonaro, a despeito do que orientam seus aliados, falou o que quis por mais de uma hora. A cada ameaça ou ataque, a produção do evento se encarregava de colocar um efeito sonoro para aumentar a dramaticidade das falas do presidente para uma plateia de fãs.
– Esses poucos surdos de capa preta têm que entender o que é a voz do povo. Têm que entender que quem faz as leis é o Poder Executivo e o Legislativo. Todos têm que jogar dentro das quatro linhas da Constituição. Interessa para todos nós. Não queremos o Brasil dominado por outra potência. E temos outras poucas potências de olho no Brasil – disse Bolsonaro.
Bolsonaro, dessa vez, não foi tão explícito em seus ataques às urnas eletrônicas, mas também não deixou de levantar suspeitas sobre o processo eleitoral. Ao GLOBO, Ciro Nogueira, questionado sobre novos ataques às urnas durante a convenção, disse que o presidente faria “o discurso que quiser”, mas que sugeriria que ele mostrasse “o que fez e, principalmente, o que fará.”
– Nós, militares, juramos dar a vida pela pátria. Todos vocês aqui juraram dar a vida pela sua liberdade. Eu juro dar a vida pela minha liberdade, repitam. Esse é o nosso Exército. O exército do povo. É o Exército que não admite corrupção, não admite fraude. Que quer transparência, que merece respeito. E que vai ter. Esse é o exército que nos orgulha. O exército de 210 milhões de pessoas – disse o presidente no palco do Maracanãzinho.
Na última quinta-feira, em conversa com O GLOBO, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), questionado sobre as mudanças do candidato Bolsonaro entre 2018 e 2022, disse que o que não mudou de uma eleição a outra é que Bolsonaro é o dono do seu marketing.
– Uma coisa não mudou em relação a 2018. Quem manda no marketing é o presidente Bolsonaro. Isso não mudou. Ninguém convence ele de nada. Quando ele se convence, aí acontece. Ele tem feeling político, o mais apurado do Brasil, que tem dado certo. Não vai ser uma pesquisa que vai determinar como ele vai abordar determinado assunto. A verdade foi o pilar da campanha de 2018 e será da campanha de 2022 também – disse Flávio.
Quando o Centrão embarcou no governo, a expectativa era que o grupo político atuasse como uma espécie de freio aos arroubos do presidente. Não foi o que houve. Beneficiado com cargos, emendas parlamentares e poder, o grupo político critica reservadamente as atitudes do presidente, mas em público se cala e consente.