Análise: Flamengo, mesmo derrotado e estagnado, segue favorito ao título

Fazer uma partida equilibrada com o Independiente del Valle, dependendo do contexto, pode ser interpretado de maneiras diferentes. Nos 2.850m de Quito, é uma coisa. No Maracanã, será outra. A derrota por 1 a 0 de ontem precisa ser vista por diferentes prismas. O da altitude é um deles, sem dúvida.

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Outro é o do ritmo de jogo, do entrosamento. Neste, o gosto da derrota fica mais forte. O Flamengo do técnico Vítor Pereira é novo, mas veterano perto do Del Valle, que fez apenas a segunda partida na temporada. Em vez de usar essa maturidade, de 11 partidas em 2023, para fazer um jogo mais seguro na altitude, de tentativa de controle do rival equatoriano à base da posse da bola, o rubro-negro fez o óbvio: recuou as linhas e se colocou nas cordas, à espera dos golpes, à espreita de um contra-ataque surpreendente.

No primeiro tempo, foi exatamente isso o que aconteceu. Terminou com 37% de posse de bola, sofrendo 13 finalizações, oferecendo apenas quatro em troca. As suas foram mais perigosas, mas faltou um pouco mais de capricho nas conclusões.

Depois do intervalo, o cenário mudou um pouco. O time carioca entendeu que não poderia ficar tão recuado. Everton Cebolinha entrou na partida e criou chances de gol, mas tudo isso depois de o Independiente Del Valle abrir o placar, com uma cabeçada do lateral-direito Carabajal. Foi uma retomada das ações ofensivas do Flamengo influenciada pelo recuo dos equatorianos depois de fazerem o gol.

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O resultado acabou sendo bem razoável. Além das dificuldades impostas pela altitude, os cariocas tiveram mostras de que o atual campeão da Sul-Americana apresenta deficiências técnicas. É um time que gosta de jogar, mas que peca quando precisa de um recurso um pouco mais rebuscado.

Pressionado por título

Isso cria contornos diferentes para a partida de volta, no próximo dia 28. O Flamengo precisará mostrar bem mais do que apresentou em Quito porque somente a vitória por dois gols de diferença dará o título. E também porque o nível do adversário coloca a responsabilidade toda sobre os ombros dos rubro-negros. Se o time não conseguir reverter a desvantagem mínima dentro do Maracanã lotado, o que esperar de outros confrontos importantes que acontecerão contra times mais fortes ao longo do ano?

Vítor Pereira encontra-se em um momento delicado deste curto trabalho porque ele já abandona o que herdou de treinadores que o antecederam, o último deles, Dorival Júnior, sem que tenha tido muito tempo para aprimorar o que ele considera o melhor em termos de futebol. Sem contar que é mais difícil implementar um estilo próprio em meio a jogos decisivos, como foram a final da Supercopa e os jogos no Mundial de Clubes.

Mesmo assim, ele ensaia jogada ousada: prescindir do talento de Everton Ribeiro, em momento ruim, em vez de investir na recuperação do jogo do camisa 7. Quando foi isso que Dorival Júnior fez, corretamente, para fazer o Flamengo vencer a Libertadores e a Copa do Brasil ano passado.

O Flamengo ainda é favorito ao título da Recopa Sul-Americana, mesmo com a derrota. Mas isso não muda o fato de que, em termos de desempenho, o time evolui pouco. É preciso melhorar, pensando a longo prazo.