Ana Moura de volta aos palcos internacionais com uma nova batida a aquecer o Fado

Ana Moura estå de regresso aos palcos internacionais e com um trabalho inovador no universo do Fado, inspirado num conselho do amigo Prince. A artista portuguesa lança em setembro um novo ålbum, onde a tradição fadista lisboeta se funde a ritmos de outras latitudes, nomeadamente de Angola.

Encontråmos Ana Moura, em Lyon, França, poucas horas antes de a fadista se apresentar ao vivo, no Festival Nuits de FourviÚre, o primeiro concerto fora de Portugal desde que foi mãe da agora inseparåvel Emília.

À Euronews, a fadista falou de "um disco especial" e que por isso "estĂĄ tambĂ©m a custar muito a sair". Esteve anunciado para outubro passado, mas teve de ser adiado. Com justa causa.

"Entretanto fiquei gråvida e queria esperar para ter mais disponibilidade quando disco saísse", explicou-nos Ana Moura, sem querer avançar para jå o nome do disco, que numa reportagem da RTP, em casa da fadista, chegou a ser referido como "Andorinhas".

Ora, "Andorinhas" Ă© exatamente o nome do primeiro tema avançado por Ana Moura deste novo trabalho. Foi revelado em abril do ano passado e assenta numa letra jĂĄ a dar mostras da evolução que estava a ser preparada na obra da artista: o recurso Ă  eletrĂłnica e a influĂȘncias pouco habituais no contexto do Fado.

“O tema ‘Andorinhas’ tem sabores tanto de fadistas como minhotos, porque eu tambĂ©m tenho raĂ­zes ali, o meu pai Ă© do norte. Mas depois hĂĄ o ‘Jacarandá’ e o ‘Agarra em mim’, que tĂȘm a cadĂȘncia da sensualidade da Kizomba", referiu Ana Moura, filha de pai portuguĂȘs e mĂŁe angolana.

A fadista cresceu sob forte influĂȘncia da cultura angolana. O pai foi viver para aquela antiga colĂłnia portuguesa com 11 anos e ali se casou. Ainda antes de a fadista nascer em SantarĂ©m, o casal mudou-se para Portugal apĂłs a Revolução de Abril. SaĂ­ram de Angola, mas Angola nunca deixou a famĂ­lia.

"Era o meu grande sonho, conhecer Angola. JĂĄ o realizei. Eu cresci rodeada de mĂșsica angolana, os meus pais sempre ouviram muita mĂșsica em casa, tambĂ©m tocavam e cantavam. E eu cresci neste ambiente muito musical, onde vĂĄrios gĂ©neros eram ouvidos e sentidos", recordou a fadista, explicando a urgĂȘncia que sentiu em trazer essas influĂȘncias para a sua mĂșsica, que terĂĄ sempre, assegura, um tom fadista.

Paul Bourdrel/Nuits de FourviĂšre
A alegria de ana Moura durante o concerto em Lyon - Paul Bourdrel/Nuits de FourviĂšre

Ainda assim, esta evolução teve outro impulso: Prince. Ana Moura tem desenvolvido algumas amizades no mundo da mĂșsica Pop Rock.Ainda hĂĄ poucos dias foi anfitriĂŁ informal de Dua Lipa em Lisboa.

JĂĄ atuou com os Rolling Stones e Mick Jagger Ă© um confesso admirador do talento da portuguesa, mas o prĂ­ncipe de Minneapolis, que morreu em 2016, foi talvez a referĂȘncia mais importante. Os dois chegaram a partilhar o palco, por exemplo, no Festival Super Rock, em Sesimbra, no ano de 2010.

Eram visita de casa um do outro e Prince terĂĄ passado muita da sua experiĂȘncia musical a Ana Moura. Um dos conselhos que o norte-americano deu Ă  portuguesa estĂĄ agora a fazer-se ouvir.

"Escrevi a ‘Jacarandá’ para o Prince. É uma homenagem ao Prince. O Prince adorava a minha mĂșsica, mas dizia ‘a tua mĂșsica sĂł precisa de um ‘beat’'. E foi assim na verdade que entrou o ‘beat’ nesta histĂłria, com o ‘Jacarandá’, e acho que ele [Prince] iria ficar muito contente", disse-nos Ana Moura, revelando assim como o Fado, o seu fado, ganhou agora uma nova batida.

O tema, o segundo do novo ĂĄlbum, revelado em julho do ano passado, conta com um 'riff' de guitarra cedido a Ana Moura por Mike Scott, guitarrista que acompanhou Prince ao longo de vĂĄrios anos e que ofereceu um pouco do espĂ­rito do autor de "Purple Rain" ao novo disco da fadista portuguesa.

Outro tema do novo disco jĂĄ conhecido Ă© "Agarra em Mim", que mereceu um videoclipe gravado com Ana Moura grĂĄvida e que termina com as primeiras imagens pĂșblicas de EmĂ­lia, a filha bebĂ© da fadista com Pedro Mafama, o marido e produtor do novo disco, que tambĂ©m canta neste tema.

"JacarandĂĄ" e "Agarra em Mim" sĂŁo dois dos novos temas onde mais se sente a cadĂȘncia angolana, jĂĄ ensaiada tambĂ©m em "2020", um dueto com Conan e OsĂ­ris, produzido por Branko, que fez parte dos Buraka Som Sistema, e Conan OsĂ­ris.

A mĂșsica foi revelada no inĂ­cio de 2020 e ganhou um videoclipe de tom fĂșnebre em março de 2021, expressando "uma homenagem a todas as pessoas que viveram a escuridĂŁo que 2020 trouxe", numa referĂȘncia aos confinamentos impostos pela pandemia de Covid-19.

"Na esperança de dias melhores, pedimos aos cĂ©us que nos devolvam a luz, o ar e o amor que o passado ano nos tirou. Enterremos o que passou, para ver nascer o que virĂĄ", expressaram os mĂșsicos no videoclipe.

Ainda sem as datas devidamente anunciadas, Ana Moura vai andar na estrada nos prĂłximos meses.

Além de Portugal, a fadista tem jå atuaçÔes previstas este verão em Espanha, de novo em França e ainda na Hungria.

Em setembro chega o novo ĂĄlbum, o primeiro de "batida fado" da autoria de Ana Moura. A ver se pega o nome  deste novo estilo "mulato" de se fazer ouvir a tradição musical de Lisboa.

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