'Antes de eu ir embora, a senhora poderia deixar eu só jantar?', pede preso que conseguiu alvará de soltura em BH
A audiência de custódia de Luan Vitor da Silva, de 20 anos, estava terminando. O rapaz tinha conseguido o alvará de soltura na noite do último domingo (5), em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte. Antes que a juíza conseguisse terminar a sessão, o rapaz solicitou uma última declaração e fez um pedido.
- Antes de eu ir embora, a senhora poderia deixar eu só jantar? Meu corpo está muito fraco, eu não dormi nada essa noite, eu vou ter que pegar ônibus para ir embora, falou Luan.
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Luan da Silva confessou a prática do crime , mas não detinha antecedentes criminais. O jovem ficou preso por um dia, por ter roubado o celular de uma mulher usando uma faca, na noite da última sexta-feira (3). O promotor Luciano Sotero Santiago, que estava de plantão quando Luan chegou a delegacia, comentou que o celular foi restituído à vítima logo que o rapaz foi pego pela Polícia Militar.
– Como medida cautelar, foi determinado que o rapaz tivesse monitoramento eletrônico. Ele também não pode ter contato com a vítima e precisa comparecer ao juiz mensalmente para justificar as atividades.
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A audiência de custódia foi realizada no domingo (5). Participaram o promotor Santiago, a juíza Elaine de Campos Freitas e uma defensora pública. Segundo o promotor, quando Luan entrou na sessão, que foi realizada de forma virtual, os presentes perceberam que ele tinha algum tipo de transtorno psicológico.
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- Logo em seguida, ele relatou que, realmente, tinha crises de ansiedade, ouvia vozes e tem dificuldade para dormir. Ele não se mostrava um sujeito perigoso, não tinha linguajar e nem postura de alguém que é voltado para o crime. O roubo não foi com o objetivo de alimentar algum tipo de vício em drogas, complementa Santiago.
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A renda de Luan da Silva provinha de bicos que ele fazia de pedreiro. O promotor conta que ficou muito sentido com o pedido do jovem e diz que se ele ficasse na prisão, teria altas chances de ser cooptado por organizações criminosas
- Esses criminosos presos fazem essa cooptação através de intimidação dentro do presídio, ameaçando familiares ou dizendo que vão protegê-lo. Como ele tem um filho pequeno, a possibilidade de ele sofrer com isso era grande, complementou.
Santiago fala que é triste presenciar uma sociedade onde um jovem de 20 anos passa fome, não tem perspectiva nenhuma pessoal e nem profissional. O promotor diz que casos como o de Luan são mais comuns do que o imaginado.
- A maior violência é a miséria e a fome. O rapaz precisou ser preso para ter acesso a dois direitos fundamentais, alimentação e saúde. A gente percebe que muitos presos, às vezes, preferem ficar na cadeia a serem soltos. Fora de lá, eles não têm casa, comida e acesso a nada. Às vezes, seja o pior presídio que for, eles estão tendo acesso a esses atendimentos e suprimentos. Muito triste, complementa.
Dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, lançado nesta quarta-feira, atualmente, cerca de 33,1 milhões de brasileiros passam fome no país. Em mais de um ano, 14 milhões de pessoas foram adicionadas ao grupo que estão na condição de não ter o que comer todos os dias.
A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp) informou que Luan Vitor da Silva deixou o sistema prisional no domingo (5). O processo segue agora para a tramitação normal, na 3ª Vara Criminal da Comarca de Santa Luzia.