Apoiadores de Castillo bloqueiam estradas em volta de protestos no Peru
SĂO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - ApĂłs uma pausa na reta final de 2022, apoiadores de Pedro Castillo, lĂder deposto apĂłs uma tentativa de golpe de Estado no Peru, voltaram a organizar manifestaçÔes nas ruas e bloqueios de estradas em vĂĄrias regiĂ”es do paĂs para exigir a renĂșncia da presidente Dina Boluarte.
Os primeiros atos dessa retomada aconteceram ainda na quarta-feira (4), mas nesta quinta (5), diversas rodovias ainda estavam impedidas pelos protestos. De acordo com a imprensa peruana, as manifestaçÔes se concentraram no sul do paĂs e foram majoritariamente pacĂficas, com episĂłdios isolados de violĂȘncia.
Não hå registros de mortes ou ferimentos, segundo a Defensoria do Povo, órgão responsåvel por garantir direitos constitucionais da população peruana.
Na regiĂŁo de Cusco, 8 das 13 provĂncias registraram bloqueios em estradas, em especial nas rodovias que se conectam Ă s regiĂ”es vizinhas. O comĂ©rcio fechou as portas e o transporte pĂșblico tambĂ©m ficou paralisado. Um aeroporto que havia sido invadido por manifestantes nos atos de dezembro continuou em operação, mas com segurança reforçada pela polĂcia e permitindo a entrada apenas de passageiros.
Por precaução, o trem entre Cusco e Machu Picchu, um dos principais pontos turĂsticos do Peru, estĂĄ suspenso por tempo indeterminado para garantir a segurança. Em dezembro, milhares de turistas ficaram retidos na regiĂŁo devido ao fechamento da ferrovia e do aeroporto como consequĂȘncia dos protestos --agora, 2.000 turistas foram retirados da regiĂŁo para evitar problemas, segundo a polĂcia. O turismo responde por 4% do PIB e gera cerca de 8% dos empregos. Uma associação de hotĂ©is e restaurantes estima o prejuĂzo provocado pela crise polĂtica e social do paĂs em US$ 2,5 bilhĂ”es (R$ 13,5 bi).
Em entrevista ao jornal El Comercio, Rolando Luque, da Defensoria do Povo, disse que paralisaçÔes, bloqueios e manifestaçÔes se espalharam por 36 das 195 provĂncias do Peru --equivalente a 18,4% do territĂłrio. "NĂŁo hĂĄ articulação em nĂvel nacional, o que hĂĄ sĂŁo convocaçÔes locais", afirmou.
No centro de Lima, um grupo de dezenas de manifestantes que tentava chegar Ă sede do Congresso foi dispersado com gĂĄs lacrimogĂȘneo pela polĂcia. Na confusĂŁo, profissionais de imprensa foram feridos.
Em Arequipa, a polĂcia usou gĂĄs lacrimogĂȘneo para dispersar dezenas de pessoas e houve um confronto entre manifestantes e agentes nas proximidades do aeroporto local. Apoiadores de Castillo tambĂ©m usaram pedras e pneus para fechar rodovias nas regiĂ”es de JunĂn e ApurĂmac. Em Puno, uma cabine de pedĂĄgio foi incendiada e, na regiĂŁo amazĂŽnica de Madre de Dios, a rodovia InteroceĂąnica, que liga o Peru ao Brasil, tambĂ©m foi bloqueada.
Nesta quinta, segundo dia da nova onda de atos, os maiores protestos registrados reuniram cerca de 100 pessoas. Algumas empresas de transporte pĂșblico suspenderam suas atividades por razĂ”es de segurança em reação aos mais de 30 pontos de bloqueio contabilizados.
O ministro da Defesa, Jorge Chåvez, insinuou que hå "infiltrados com antecedentes terroristas" nos protestos. Ele se refere a pessoas ligadas à guerrilha Sendero Luminoso, que espalhou terror no Peru entre as décadas de 1980 e 2000.
ChĂĄvez tambĂ©m afirmou que cinco cidadĂŁos bolivianos que estariam incentivando as manifestaçÔes foram identificados. Entre grupos contrĂĄrios a Castillo, hĂĄ quem diga que o ex-presidente da BolĂvia Evo Morales, aliado do peruano, tambĂ©m tem participação no estĂmulo aos protestos.
A presidente Dina Boluarte, que assumiu a posição de Castillo apĂłs sua tentativa de golpe, pediu que Evo pare de interferir em assuntos peruanos e disse que autoridades migratĂłrias estĂŁo avaliando possĂveis restriçÔes a sua entrada no Peru. Horas depois, Evo pediu no Twitter que a direita peruana pare "massacres, detençÔes ilegais, perseguição" e acusaçÔes de terrorismo contra os indĂgenas --um dos grupos com papel mais relevante na onda de manifestaçÔes.
Na terça-feira, Dina foi denunciada ao Congresso pela parlamentar de esquerda Ruth Luque devido a uma suposta violação da Constituição nos atos do mĂȘs passado. Ao menos 22 morreram nos protestos, de acordo com os nĂșmeros oficiais. Na denĂșncia, que tambĂ©m inclui ministros do gabinete de Dina, Luque afirma que a presidente falhou em garantir a plena vigĂȘncia dos direitos humanos --prerrogativa do chefe do Executivo, segundo a Carta peruana. A denĂșncia serĂĄ avaliada por uma comissĂŁo parlamentar.