Após pressão de Bolsonaro, Conitec adia relatório contra tratamento precoce
Conitec votaria nesta quinta um relatório contra o uso do chamado "tratamento precoce"
Parecer do órgão técnico teria irritado Bolsonaro, que pressionou o Ministério da Saúde
Não há nova data para que relatório técnico seja votado
O governo federal adiou a análise da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) sobre o chamado “tratamento precoce”, isto é, o uso de medicamentos ineficazes contra a covid-19. A previsão era de que o órgão votaria nesta quinta-feira (7) um relatório sobre o uso dos remédios.
Segundo informações da rádio CBN, o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), ficou irritado com as informações técnicas que constavam no documento e com a iminente posição do Conitec de criticar o “tratamento precoce”. Por isso, Bolsonaro pressionou o Ministério da Saúde por mudanças no relatório.
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A pasta, então, afirmou que o grupo de especialistas que criou o relatório contra o tratamento precoce decidiu retirar o documento de pauta para aprimorar o relatório. À CBN, o Ministério da Saúde alegou que os especialistas pediram mais tempo para investigar publicações de novas evidências científicas sobre os medicamentos em análise.
O grupo é formado por mais de 20 especialistas, responsáveis por fazer o relatório sobre o “tratamento precoce”, defendido por Bolsonaro em diversas ocasião, incluindo a Assembleia Geral da ONU.
Membros do grupo ouvidos pela CBN se disseram surpresos que o tema tenha sido retirado da pauta, contrariando a versão do Ministério da Saúde. Eles ainda explicam que não há qualquer novidade sobre o uso de cloroquina ou outros medicamentos sem eficácia no tratamento da covid-19 que justificariam o adiamento do parecer.
Ainda não há uma nova data para que a votação aconteça.
Discurso na ONU
Segundo informações do jornal O Globo, o governo federal ficou preocupado com a repercussão negativa sobre o chamado “kit covid” poucas semanas depois de Bolsonaro defender o uso de medicamentos ineficazes contra a covid-19 na ONU.
“Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina. Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial. Respeitamos a relação médico-paciente na decisão da medicação a ser utilizada e no seu uso off-label. Não entendemos porque muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial”, disse Bolsonaro durante o discurso.
O discurso foi criticado internacionalmente.