Aposentado se forma na faculdade e emociona ao chegar de beca na casa da mãe de 98 anos: 'ela incentivou meu sonho'

Aos 78 anos de idade, seu Sebastião Roberto Reis realizou dois sonhos: concluir uma faculdade e tirar fotos de beca com a mãe, a dona Geralda Francisca Reis, de 98 anos. Acreditando fielmente que a educação salva, ele conta que iniciou a graduação de Gestão Financeira com estímulo do filho, que é professor, para tentar sair de um quadro de depressão profunda durante a pandemia. Além de torcer para que conseguisse se adaptar aos estudos na modalidade EaD, o mineiro rezava todos os dias para que dona Geralda pudesse vê-lo em vida com o diploma em mãos. E aconteceu. O momento emocionante ficou eternizado em um vídeo que viralizou nas redes sociais nesta quinta-feira (03).

A cerimônia de colação de grau foi realizada no último dia 25. Por estar se recuperando de uma infecção por Covid, que a manteve semanas internada, dona Geralda não pôde comparecer presencialmente no evento. Mas como para tudo existe um jeito, exceto para a morte, como diz seu Roberto, ele pediu à faculdade que o deixasse levar a beca para casa, a fim de que a mãe pudesse vê-lo. E aí acontece um dos momentos mais emocionantes do dia.

Ainda enquanto descia a rua da casa de dona Geralda, em Varginha (MG), o mais novo gestor financeiro gritava: “eu formei, mãe, eu formei!”. Com os cabelos brancos, um vestido roxo e um terço na mão, ela aguardava o filho sentada no sofá da sala, com um sorriso no rosto. Ao ficarem um de frente para o outro, muitos abraços, beijos e lágrimas de felicidade rolaram. Seu Roberto é o filho mais velho de oito irmãos e o segundo a concluir uma faculdade.

— Na pandemia eu fiquei paranóico porque eu queria proteger a minha esposa e minha mãe, que têm problemas de saúde. Então, eu não saía de casa e isso me fez muito mal. Até que um dia meu filho perguntou se eu queria estudar. No começo eu achei que não ia dar conta, mas minha mãe, de 94 anos na época, disse que eu era inteligente e ia conseguir, mesmo se ela não estivesse mais aqui nessa terra. Isso me deu forças e um desejo enorme de que Deus permitisse que me visse formado — afirma Roberto. — Agora perto da formatura, ela estava mal de saúde e meu coração apertava de medo de não dar tempo, mas ela é forte e comemorou comigo essa conquista — completa.

Ao longo de dois anos, o aposentado se entregou plenamente aos estudos, teve aulas com o próprio filho e impressionou colegas e professores ao gabaritar muitas disciplinas. O momento de pegar o diploma também foi surpreendente para seu Roberto, visto que, por uma quebra de protocolo, o Centro Universitário do Sul de Minas (Unis) permitiu que ele recebesse o canudo diretamente das mãos do filho, Dimas Reis, no palco do Theatro Capitólio, em Varginha.

— Foi muito emocionante. Antes de chegar a minha vez de pegar o diploma eles pararam a cerimônia para anunciar que meu filho Dimas iria me entregar. Quando disseram meu nome, eu abri os braços em direção a ele, a gente se abraçou, eu comecei a tremer, choramos tanto que a roupa ficou molhada. Foi a coisa mais linda do mundo — descreve o mineiro.

Sonho de ser contador

Segundo seu Roberto, seu sonho desde jovem era ser contador. Mas, depois que se casou , aos 23 anos, e se tornou pai de duas meninas e um menino, a prioridade do acesso à educação era dos filhos. Inclusive, os três possuem ensino superior. Dois são professores e uma seguiu o sonho do pai de ser contadora.

Por ter aptidão com cálculos, ele diz que o curso de Gestão Financeira era o que mais gostava. O aposentado conta ainda que o maior problema durante as aulas nem era entender as explicações dos professores, mas sim conseguir mexer no computador. Mas, esse problema era facilmente resolvido com ajuda dos filhos e netos.

— Eu sempre tive vontade de ter um curso superior, mas ficou no baú porque eu não podia pagar. Casei há 55 anos e sempre tive salário pequeno. Mas sempre digo e é verdade, nunca é tarde para realizar sonhos. Aliás, minha mãe nessa idade incentivou e muito meu sonho — diz.

Devido a problemas na coluna e na perna, seu Roberto acredita que atualmente não conseguiria se submeter a uma jornada integral de trabalho para exercer a profissão de gestor financeiro. No entanto, ele não descarta a possibilidade, caso surja uma oportunidade que se adeque a sua realidade. Agora, também com incentivo do filho, ele pensa em iniciar o mestrado.