Bailarina de 61 anos é destaque de Aulão do Bem

Não existe idade para começar do zero algo que se tem vontade de fazer. Apesar de ter pensado exatamente o contrário durante boa parte de sua trajetória, foi depois de comemorar 60 anos que Lu Fernandez decidiu se matricular em um curso de balé, em janeiro do ano passado. Completar mais uma década de vida foi o estopim para uma mudança de rota e para a decisão de fazer tudo o que antes achava que não lhe cabia mais. O primeiro passo foi, na verdade, uma libertação, uma virada de chave.

— Eu sempre tive vontade, mas tinha medo do julgamento das pessoas. Não tive oportunidade de fazer balé na infância e depois achei que estava velha para começar. Quando fiz 60, aconteceu uma mudança na minha cabeça. Decidi romper barreiras porque quando você atinge o que chamam de “terceira idade”, enxerga com mais clareza a proximidade do fim do túnel. E aí decidi fechar completamente os olhos e os ouvidos para as opiniões alheias e focar no que podia me fazer feliz — conta Lu, que é prima de Ana Botafogo, primeira bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

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Hoje, Lu será uma das alunas do Aulão do Bem que acontecerá amanhã, às 10h, no Studio ValorArte, na Rua Ministro Viveiros de Castro, em Copacabana, e que reunirá bailarinas e bailarinos de todas as faixas etárias. Para participar, é preciso se inscrever pelo direct do perfil de Lu no Instagram (@balletaos60) e levar alimentos e/ou fraldas geriátricas que serão doados à ONG Solar Meninos de Luz, no mesmo bairro.

—Fico feliz de receber carinho e apoio de bailarinas jovens que fazem aulas comigo. Eu sempre procurava por turmas de pessoas mais velhas. Hoje penso diferente. Não temos que fazer uma segregação etária. O convívio plural é muito benéfico — afirma Lu.

Moradora de Botafogo, ela conta que deu outros passos depois dos 60. Parou de pintar os cabelos e fez duas tatuagens com a filha mais velha, Ana Julia Botafogo (@anajutattoo):

— Ela sempre insistiu, mas eu também achei que já tinha passado da idade e dizia: jamais. Depois, decidi fazer duas tatuagens de uma só vez. Quatro andorinhas representam meus dois netos e minhas duas filhas. E uma abelha representa o projeto solidário Bees of Love (@beesoflove), do qual eu sou parceira. Pretendo ir para a terceira — diz Lu, que completará 62 anos em julho.

A troca com outras mulheres acontece também em seu perfil no Instagram, que conta com mais de cinco mil seguidoras.

— Gostaria que outras mulheres pudessem realizar seus desejos. Há muita gente falando sobre etarismo e beleza na minha idade, mas é preciso lembrar que muitas pessoas não têm acesso ao básico — diz Lu, que está em busca de uma bolsa de balé para uma mulher que mora na Vila da Penha e que não tem condições de arcar com os custos das aulas.