Barra Torres justifica ida à manifestação sem máscara: "Não havia consenso sobre o assunto"

Antonio Barra Torres, presidente da Anvisa, depõe na CPI da Covid no Senado nesta terça-feira (11) (Foto: Reprodução/TV Senado)
Antonio Barra Torres, presidente da Anvisa, depõe na CPI da Covid no Senado nesta terça-feira (11) (Foto: Reprodução/TV Senado)
  • Presidente da Anvisa justificou participação em uma manifestação, em março, ao lado de Jair Bolsonaro, sem máscara

  • Antonio Barra Torres citou que, naquele momento, ainda não havia recomendação de uso de máscaras

  • Mas Barra Torres disse que se arrepende de ida ao evento

O diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, criticou a conduta do presidente Jair Bolsonaro de participar de aglomerações, sem máscara, durante a pandemia, mas justificou sua participação em um evento, em março, ao lado do presidente, sem máscara. O dirigente presta depoimento nesta terça-feira (11) na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado.

"A conduta do presidente difere da minha", afirmou sobre Bolsonaro ser contra o uso de máscaras e distanciamento social.

Em depoimento à CPI da Covid no Senado, ele disse, no entanto, que se arrepende de ter participado do ato ao lado de Bolsonaro em março de 2020.

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Segundo Barra Torres, o Ministério da Saúde recomendou o uso de máscaras, naquele momento, apenas por profissionais de saúde.

"Em março, ainda não havia consenso sobre o assunto", disse. "No Distrito Federal, só passou a ser obrigatório em abril", acrescentou.

"Se pensasse mais 5 minutos, não teria feito". "Foi um momento em que não refleti na imagem negativa que isso traria", afirma Barra Torres sobre presença em manifestação com Bolsonaro que descumpriu protocolos sanitários.

Campanhas de vacinação

Durante seu depoimento, Barra Torres criticou também as falas do presidente contra a vacinação contra a covid-19.

“A população não deve se orientar por essas declarações”, disse.

“Ela vai contra tudo o que temos preconizado, entendemos que a política de vacinação é essencial”.

Cloroquina

O presidente da Anvisa ainda admitiu reunião no Palácio do Planalto para tratar da alteração da bula da cloroquina, com o objetivo de incluir o medicamento no tratamento da covid-19.

A informação de tentativa de alteração da bula foi dada inicialmente pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, na CPI na semana passada. Mandetta, no entanto, afirmou que a iniciativa foi do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

"Esse documento foi comentado pela doutora Nise Yamaguchi, o que provou uma reação, confesso, até um pouco deseducada ou deselegante minha. Minha reação foi muito imediata de dizer que aquilo não poderia ser. Porque, talvez não seja do conhecimento de vossas excelências, só quem pode modificar uma bula de um medicamento registrado é a agência reguladora daquele país, mas, desde que solicitado pelo detentor do registro", relatou Barra Torres.

Sobre a cloroquina, Barra Torres disse que “até o momento, as informações vão contra o uso do medicamento contra a covid-19. “Minha posição sobre tratamento precoce na doença não contempla essa medicação”.

“Estudos apontam a não eficácia [da cloroquina] em estudos. Até o momento as informações vão contra o uso”, disse.

Dificuldades no acesso a insumos de vacinas

Presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres reconheceu que Brasil enfrenta dificuldade para adquirir insumo farmacêutico ativo (IFA) da China e da Índia. “Esses países influenciam em mais de 50% a produção mundial de medicamentos".

Questionado pelo relator, Renan Calheiros, se a dificuldade para acesso ao IFA é provocada por declarações do presidente Jair Bolsonaro e outros integrantes do governo, Barra Torres afirmou não ter "informação do nexo causal”.

Pressão sobre a Anvisa

Barra Torres explicou motivos da não aprovação da Covaxin, da empresa indiana Bharat Biotech, e negou ter havido precipitação do Ministério da Saúde ao contratar 20 milhões de doses, já que poderá vir a ser liberada futuramente.

Barra Torres diz que não houve pressão do governo para aprovação da vacina Covaxin.

Ao ser questionado sobre os encaminhamentos do Ministério da Saúde em parceria com a agência para aprovação do uso da Sputnik V, vacina russa desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, Barra Torres alegou que não há trabalhos em curso. Segundo ele, a agência aguarda informações da União Química.

Barra Torres explicou sobre o processo de registro da vacina. Entre outros pontos, a agência argumentou que não recebeu relatório técnico capaz de comprovar que a Sputnik V atende a padrões de qualidade e que o adenovírus usado para carregar o material genético do coronavírus é capaz de se reproduzir e pode causar doenças.

O Fundo Soberano Russo, responsável pela Sputnik V, enviou à Anvisa documento em que nega a a presença de adenovírus replicante em amostras da vacina, mas não “comprova” a alegação, afirmou Barra Torres. O presidente da Anvisa comentou sobre documento do Fundo Soberano Russo que critica integrantes da Anvisa. Ele considerou o documento como "surpreendente e inédito" no ambiente regulatório. O fundo é responsável pela produção da vacina Sputinik V.

Senadores da CPI da Covid planejam pedir a quebra do sigilo telefônico e telemático (do meio cibernético) do presidente da Anvisa. A intenção é verificar se ele sofreu pressão do presidente Jair Bolsonaro ou de outro integrante do governo para atrasar a análise do registro de vacinas.