BBB23: com Aline e Fred, reality mostra que não monogamia tem regras diferentes para cada casal
Assunto repercutia antes mesmo do início do programa, desde o anúncio dos participantes
Mesmo antes da estreia desta edição do Big Brother Brasil, os fãs do programa já sabiam que pelo menos dois participantes têm relacionamentos abertos – ou seja, relações em que, de comum acordo, os dois podem se relacionar com outras pessoas: Fred Nicácio, que é casado com o médico Fabio Gelonese, e Aline Wirley, casada com o ator Igor Rickli.
Já na primeira semana, o assunto veio à tona mais de uma vez entre os brothers. E essa pode ser uma ótima oportunidade para “ajudar a tornar o assunto mais acessível para quem nunca teve contato”, acredita a empresária e podcaster Mayumi Sato, que vive uma relação não monogâmica há pelo menos 12 anos.
“Tá todo mundo aprendendo e essa troca [de informações] é importante porque, a partir dela, a gente para de naturalizar um só modelo de relação. Pensa: ‘Caraca, nem todo mundo vive assim, existem outras opções, que legal’”.
Não tem jeito, esse é o BBB do debate da monogamia #BBB24
— Ciro OBQDC (@cirohamen) January 17, 2023
A psicóloga Michelle Sampaio, especialista em Sexualidade Humana pela Faculdade de Medicina da USP, percebe que, nos últimos anos, cada vez mais pessoas e casais têm questionado a monogamia e buscado outras formas de se relacionar. E, embora essa busca ainda esteja muito mais ligada à necessidade de dar vazão aos desejos sexuais – ela chama atenção para o aumento de casas de swing e redes sociais específicas para a prática de ménage, por exemplo – a não monogamia também abraça a possibilidade de sentir afetos por outras pessoas.
A psicóloga Michelle Sampaio, especialista em Sexualidade Humana pela Faculdade de Medicina da USP, percebe que, nos últimos anos, cada vez mais pessoas e casais têm questionado a monogamia e buscado outras formas de se relacionar.
Embora cada vez mais casais anônimos e famosos – Will Smith e Jada Pinkett Smith, Fernanda Nobre e José Roberto Jardim, Enrique Diaz e Mariana Lima, entre outros – falem abertamente sobre suas relações não monogâmicas, Michelle conta que as pessoas ainda enxergam este formato de relação como algo ligado à promiscuidade. “Essa visão tem que cair por terra. Os desejos estão aí e as pessoas estão buscando formas de lidar com ele. Isso é ótimo”, diz a psicóloga.
Mas, afinal, o que exatamente é uma relação não monogâmica? Como ela funciona? É para todo mundo? E como começar? Yahoo te explica.
O que é a não monogamia e como ela funciona?
A monogamia é o formato de relação em que as pessoas se relacionam com apenas uma outra pessoa, sexualmente e afetivamente – basicamente, o que aprendemos desde criança: uma vez dentro de um relacionamento, você só beija ou transa com a mesma pessoa.
A não monogamia, por sua vez, comporta uma série de outros formatos possíveis – poligamia, poliamor, relações abertas, todas as ramificações que fogem à monogamia e que podem se adaptar a cada casal.
“Para alguns teóricos, a monogamia não é natural, mas uma construção social”, pontua a psicóloga Michelle Sampaio. “O desejo humano não é monogâmico, a escolha do comportamento monogâmico foi imposta em algum momento da nossa vida”.
Mas, embora uma relação não monogâmica envolva as possibilidades de se relacionar sexual e também afetivamente com outras pessoas, em geral essa busca ainda está muito mais ligada à necessidade de dar vazão aos desejos sexuais – ela chama atenção para o aumento de casas de swing e redes sociais específicas para a prática de ménage, por exemplo. "Isso é aceito, enquanto os afetos mais livres, direcionados a mais de uma pessoa e sem hierarquia, ainda não são compreendidos".
O Brasileiro vai descobrir como funciona a não monogamia pelo bbb... vai ser o caos.
— Winnie Bueno (@winniebueno) January 12, 2023
É para todo mundo?
“Não é um formato que funciona para todo mundo”, ressalta a especialista. As pessoas têm que estar muito alinhadas para que essa decisão não gere brigas, especialmente motivadas por ciúmes e sentimento de posse, mas acrescente à relação. “O mais importante para quem decide por uma relação aberta é o diálogo”, alerta.
Michelle conta que muitos casais começam a ter contato com a possibilidade de praticar a não monogamia nas redes sociais, em filmes ou em programas de TV – como o Big Brother Brasil deste ano.
Nestes casos, aconselha a especialista, vale conversar sobre os desejos e os limites de cada um. E, se for de comum acordo, começar a experimentar a abertura do relacionamento aos poucos: um ménage ou uma ida a uma casa de swing podem ser os primeiros passos para as pessoas envolvidas entenderem como se sentem, se estão confortáveis com isso, se querem ir além.
Há, ainda, casais que decidem abrir a relação como forma de tentar “salvar” um relacionamento que não vai muito bem. “Como sexóloga, diria que pode acabar sendo um tiro no pé”.
O que é importante combinar
A ideia da não monogamia é que cada casal estabeleça seus próprios combinados, contratos, o que pode e o que não pode a partir de seus desejos e limites.
Mayumi conta que essa é uma das características que mais gosta numa relação não monogâmica: entender que há um terreno vasto de opções para o casal traçar seu próprio caminho. “Essa troca de experiências tem que estar pautada no entendimento de seus próprios valores, desejos e limites”, percebe a empresária.
“O maior respeito que a gente pode ter por alguém é reconhecer que as pessoas e a relação vão mudando ao longo do tempo. Isso torna as relações mais sólidas mas mais interessantes. Só dá pra fazer isso se comunicando, olhar gentil”.
A questão mais importante de todas que deve ser estabelecida, aconselha a psicóloga Michelle Sampaio, é o uso de preservativos para proteger todas as pessoas envolvidas. Além disso, também vale alinhar os seguintes pontos:
Tem que contar para o parceiro?
Podem ser pessoas conhecidas?
As pessoas que convivem com o casal podem saber do acordo ou preferem que seja algo privado?
Pode ficar mais de uma vez com a mesma pessoa?
A especialista lembra, ainda, que todo contrato pode e deve ser revisitado de tempos em tempos: “A cada vivência nova, vale conversar sobre como cada um se sentiu e, se for necessário, rever os acordos”.
Tanto Aline Wirley quanto Fred Nicácio falaram sobre isso no programa
“A gente sempre soube que as coisas iam se transformar, que o nosso casamento não é um casamento convencional. Existem necessidades emocionais que ao longo da vida a gente vai mudando e a gente foi descobrindo”, disse a cantora.
“Eu mudo, ele muda, nossa relação muda. Estamos juntos há oito anos, eu não sou o mesmo de oito anos atrás, nem ele. Então por que nós temos que continuar em moldes, modelos, pactos, acordos que foram feitos há oito anos? Vamos reconversar”, pontuou o médico, que já trocou beijos com Gabriel Santana no reality.
Por isso, percebe a psicóloga, uma relação aberta demanda ainda mais diálogo e sinceridade: “Na não monogamia, cada detalhezinho é conversado – os desejos, os limites, os acordos. Isso nem sempre aparece nas relações monogâmicas. Mesmo que a regra geral seja não beijar ou transar com outras pessoas, é saudável que casais monogâmicos também conversem sobre seus limites, por exemplo ‘flertar pode?’, ‘e mandar nude, pode?”, exemplifica.