BC eleva Selic em 0,5 ponto, a 13,75%, e avalia aperto residual menor em setembro

Sede do Banco Central, em BrasĂ­lia

Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central subiu a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual pela segunda vez consecutiva, a 13,75% ao ano, maior patamar desde janeiro de 2017, e indicou que poderá encerrar o agressivo ciclo de aperto com um ajuste menor em setembro.

"O ComitĂȘ avaliarĂĄ a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua prĂłxima reuniĂŁo", afirmou comunicado do ComitĂȘ de PolĂ­tica MonetĂĄria (Copom) divulgado nesta quarta-feira pela autarquia.

A autoridade monetåria também fez um alerta ao afirmar que a possibilidade de que medidas fiscais de estímulo à demanda se tornem permanentes acentua os riscos de alta para o cenårio inflacionårio.

Por outro lado, afirmou que o aumento do risco de desaceleração da economia global também acentua os riscos de baixa nos preços.

"A incerteza da atual conjuntura, tanto doméstica quanto global, aliada ao estågio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional em sua atuação", disse o colegiado.

Em relação aos preços no Brasil, o comunicado afirmou que a inflação ao consumidor continua elevada, tanto em componentes mais volåteis como em itens associados à inflação subjacente --que desconsidera fatores mais sujeitos a oscilaçÔes conjunturais.

O BC agora vĂȘ o IPCA em 6,8% no fim deste ano, ante projeção de 8,8% na Ășltima reuniĂŁo. Por outro lado, a projeção subiu de 4,0% para 4,6% em 2023. Em 2024, ano que agora foi incorporado ao horizonte relevante da polĂ­tica monetĂĄria, iria a 2,7%, mesmo patamar estimado em junho.

As estimativas jĂĄ incorporam cortes tributĂĄrios aprovados pelo Congresso que serĂŁo parcialmente revertidos em janeiro. Entre as medidas que reduzem a inflação no curto prazo, estĂŁo o corte temporĂĄrio de tributo sobre gasolina e etanol e a definição de um teto para cobrança de ICMS sobre combustĂ­veis, energia elĂ©trica, telecomunicaçÔes e transporte pĂșblico.

O Copom disse que decidiu dar ĂȘnfase Ă  inflação acumulada em doze meses no primeiro trimestre de 2024, com o argumento de que ele suaviza os efeitos diretos das mudanças tributĂĄrias. Sua projeção Ă© de uma inflação de 3,5% para esse perĂ­odo.

O cenĂĄrio de referĂȘncia do BC pressupĂ”e trajetĂłria de juros prevista pelo mercado, que termina 2022 em 13,75% ao ano, caindo para 11% em 2023 e 8% em 2024, patamares mais elevados do que os previstos na reuniĂŁo anterior.

APERTO ESPERADO

A magnitude da elevação da taxa Selic foi ao encontro da expectativa do mercado, de acordo com pesquisa Reuters com 34 economistas.

Com a decisão, o BC levou a Selic a um patamar 11,75 pontos percentuais acima da mínima histórica de 2% ao ano, atingida em meio à pandemia de Covid-19 e que vigorou até março do ano passado. Foi a décima segunda elevação seguida da taxa båsica, que estå no nível mais alto desde janeiro de 2017, quando também estava em 13,75% ao ano.

Olhando à frente, analistas consultados após a decisão do Copom divergiram sobre a sinalização do BC para os próximos passos da política monetåria.

"Agora a gente tem um cenårio um pouco mais benigno de tal forma que provavelmente as expectativas vão parar de piorar até a próxima reunião, o que poderia dar algum grau de conforto para o BC interromper o ciclo", disse Vitor Martello, economista-chefe da Parcitas Investimentos, prevendo que o ciclo de alta da Selic jå se encerrou no patamar de 13,75%.

Para o economista-chefe da Necton, André Perfeito, por sua vez, o BC ainda apertarå a taxa mais duas vezes.

"O Copom sugere que poderia parar o ajuste jĂĄ em setembro, mas como este mesmo Copom se posicionou atento Ă s expectativas nos parece que podemos ter na data ainda motivos para um aperto mais prolongado", afirmou.

Além das medidas tributårias, o governo estå fazendo uma injeção direta de recursos na economia na reta final para as eleiçÔes, fator que estimula a economia e pode pressionar a inflação. Fazem parte das açÔes um reforço no Auxílio Brasil e no auxílio gås e a criação de benefícios para caminhoneiros e taxistas.

Analistas avaliam ainda que o aumento do risco fiscal por conta da ampliação de despesas fora do teto deteriora o cùmbio e as expectativas de mercado para a inflação. Além disso, o fim das desoneraçÔes no encerramento deste ano tende a pressionar os preços em 2023.

A meta de inflação para este ano, jå abandonada pelo Banco Central, é de 3,5%, com tolerùncia de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Em 2023, a meta serå de 3,25%, também com a mesma margem.

(Com reportagem adicional de José de Castro, em São Paulo)

Nosso objetivo Ă© criar um lugar seguro e atraente onde usuĂĄrios possam se conectar uns com os outros baseados em interesses e paixĂ”es. Para melhorar a experiĂȘncia de participantes da comunidade, estamos suspendendo temporariamente os comentĂĄrios de artigos