Biden propõe aumentar impostos para os ricos em projeto orçamentário com cara de campanha

Com promessas sociais e aumento de impostos para ricos, o projeto orçamentário apresentado nesta quinta-feira (9) por Joe Biden tem na mira as eleições de 2024, mas suas medidas mais contundentes têm poucas chances de aprovação no Congresso.

"Meu orçamento reflete o que podemos fazer para aliviar o fardo dos trabalhadores americanos", disse Biden em um discurso para sindicalistas na Filadélfia, Pensilvânia, um estado estratégico para as eleições de 2024. O presidente, porém, ainda não anunciou oficialmente se irá concorrer à reeleição.

O democrata de 80 anos parece querer apelar aos eleitores do movimento "Make America Great Again" (MAGA) de seu antecessor, o republicano Donald Trump. Biden tenta convencer a classe média de que as medidas mais benéficas são de autoria democrata.

O plano orçamentário de 2024 contempla a redução do déficit fiscal previsto em quase US$ 3 trilhões de dólares nos próximos 10 anos.

Mas suas medidas mais chamativas quase não têm chance de ser aprovadas, já que o Partido Democrata controla apenas a câmara alta do Congresso, o Senado. A Câmara de Representantes está nas mãos dos republicanos, que se opõem veementemente ao aumento de impostos.

- "Proposta imprudente" -

O presidente dos Estados Unidos quer introduzir um imposto mínimo de 25% para os bilionários, ou seja, 0,01% dos mais ricos. Com receita adicional, Biden estima que poderia garantir por mais 25 anos o financiamento do Medicare, um seguro de saúde público que beneficia os americanos acima de 65 anos.

"Meu orçamento pedirá aos ricos que paguem sua parte justa para que milhões de trabalhadores que ajudaram a construir essa riqueza possam se aposentar com o Medicare pelo qual pagaram", tuitou Biden.

O presidente democrata também quer aumentar a carga tributária das empresas, de 21% para 28% de sua receita, ainda bem abaixo dos 35% vigentes antes da reforma do ex-presidente Trump em 2017.

O presidente republicano da Câmara baixa, Kevin McCarthy, chamou o plano de "proposta imprudente" e comparou-o a "políticas de gastos de extrema esquerda que levaram a uma inflação recorde" e "à atual crise da dívida".

Em sua opinião, é preciso "reduzir gastos públicos desnecessários".

Biden propõe reduzir alguns gastos, especialmente no setor farmacêutico e na indústria petrolífera. E, para seduzir o eleitorado republicano, disse que seu orçamento prevê grandes investimentos em defesa e exército.

- Imigração -

Uma das seções do orçamento está focada na migração, especialmente na fronteira com o México, um tema que causa dores de cabeça para o governo faltando apenas algumas semanas para que seja suspensa uma lei que permite impedir a entrada de quase todos os migrantes interceptados na fronteira por questões sanitárias.

Para "melhorar a segurança nas fronteiras e a aplicação da lei", quase US$ 25 bilhões seriam destinados à Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP) e à Imigração e Fiscalização Aduaneira (ICE), um aumento de quase US$ 800 milhões em relação a 2023.

O valor inclui, entre outras coisas, fundos para contratar mais 350 agentes de patrulha de fronteira, US$ 535 milhões para tecnologia de segurança nos portos de entrada e US$ 40 milhões para combater o tráfico de fentanil, um opioide produzido principalmente no México por cartéis de drogas que causa estragos no EUA.

Dado o crescente número de migrantes interceptados na fronteira com o México (mais de dois milhões em 2022), o orçamento propõe um novo fundo de US$ 4,7 bilhões para ajudar o DHS (Departamento de Segurança Interna) a "responder aos aumentos repentinos da migração".

Para abordar as chamadas "causas profundas da migração e melhorar a vida das pessoas na América Central", Biden pede mais de US$ 1 bilhão como parte de seu compromisso de fornecer US$ 4 bilhões em quatro anos para esse fim.

Biden pede também US$ 430 milhões para administrar a migração, US$ 40 milhões para "apoiar programas direcionados para melhorar a vida de migrantes e refugiados" na América Latina e no Caribe e US$ 75 milhões para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

O governo também fornece US$ 865 milhões para processar casos de asilo e pretende investir US$ 291 milhões no Haiti, um país atolado em uma profunda crise humanitária.

- "Teto" da dívida -

Há outra questão financeira urgente para democratas e republicanos: o chamado "aumento do teto da dívida".

Os Estados Unidos devem aumentar periodicamente, por meio de votação no Congresso, a capacidade de endividamento do governo.

Kevin McCarthy garante que suas fileiras não votarão a favor do aumento do teto da dívida até que Joe Biden contenha os gastos públicos.

As apostas são altas: se o confronto se prolongar demais, os Estados Unidos estariam sob risco de default.

A dívida da maior economia do mundo atingiu 31,4 trilhões de dólares em 19 de janeiro, teto acima do qual o país não pode mais emitir títulos para se financiar e, portanto, não consegue mais honrar seus pagamentos. Por enquanto, o governo adotou medidas temporárias para continuar pagando.

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