Venezuela e a força das redes sociais

"6 mil guerrilheiros cubanos chegaram no Brasil disfarçados de médicos!"

"Somente em uma ponte em Cuba foram gastos 3 bilhões. Tudo pago pelos brasileiros!"

Essas informações estão espalhadas pelas redes sociais e foram confirmadas por Maycon Freitas, um dos líderes das revoltas de junho, em entrevista a este blog. Munido da credibilidade adquirida durante a"Primavera Brasileira", Maycon tem muito a oferecer para os manifestantes venezuelanos. Foi a partir de suas postagens no Facebook que passei a prestar atenção nos últimos acontecimentos.

Maycon está preocupadíssimo com nossos vizinhos e tem compartilhado freneticamente qualquer notícia sobre aquele país. Além de publicar um tweet falso em que Michele Bachelet repreende Maduro, o revolucionário da VEJA também anunciou a importação de 100.000 policiais comunistas chineses que viriam pra defender a ditadura venezuelana. Mas a luta do guerreiro não para aí. Maycon repercute também uma grave denúncia contra o PT e a imprensa brasileira:

Ou seja, depois de torrar 3 bilhões numa ponte cravejada de ouros e diamantes em Cuba, Dilma agora comprou toda a mídia para defender o regime bolivariano e abafar a matança de Maduro.

"Mas, pera lá! GENOCÍDIO, Wando? A informação oficial é de que apenas 3 pessoas morreram e 23 ficaram feridas!"

Bom, mas isso é para quem se informa através de uma mídia que se vendeu ao Abominável Foro de São Paulo. A verdade é outra. Informações que chegam diretamente da Venezuela pela internet confirmam que mais de 3000 pessoas foram assassinadas desde o início das manifestações. Graças ao poder das redes sociais, não dependemos mais da grande mídia pra espalhar nossas próprias mentiras divulgar a verdade dos fatos.

A força da internet é tão grande que muitas vezes acaba rompendo com o silêncio na imprensa. Cesar Filho, ex-namorado de Angélica e atual jornalista do SBT, furou o bloqueio midiático internacional e colocou o tema genocídio venezuelano em pauta. Vejamos o tweet que ele compartilhou com seu público:

Eu, com meu jornalismo-sapeca, atualizei o colega de trabalho com informações ainda mais fresquinhas e estapafúrdias. E não é que nosso garoto compartilhou?

Agora sim seus leitores estão atualizados. Graças à coragem, ao faro jornalístico e ao rigor apurativo desse experiente jornalista.

Se aqui a coisa está assim, imagine na Venezuela. Uma famosa atriz, Amanda Gutierrez, uma espécie de Regina Duarte venezuelana, também aderiu à força das redes sociais e divulgou a imagem de um jovem sendo violentamente estuprado pela ditadura de Maduro:

Sim, querida. Seu dever é compartilhar, claro. Pra que checar a informação antes de dividir com mais de 227 mil fãs preocupados com o futuro de um país em crise?

O único problema é que esses "estupros"já haviam sido registrados em um pornô norte-americano há muitos anos:

Essas coisas acontecem, querida! Uma atriz não é obrigada a checar informações. Podia ser pior. Imagine se você fosse uma jornalista do SBT!

As possibildades de se viralizar uma notícia - qualquer notícia! - são infinitas e isso é o que torna as redes sociais ainda mais sedutoras e poderosas. Basta fazer uma montagem bacaninha e enviar para pessoas-chave como César Filho e Amanda Gutierrez e pronto! Quem vai duvidar de mentiras tão bem acabadas como essas? Uma mentira contada por porta-vozes fofos vale mais do que mil verdades.

Mas essa é uma pequena amostra do que essa fantástica fábrica de verdades é capaz de produzir. As montagens e as farsas são tantas que os mais crédulos já estão equiparando Maduro a Hitler.

Esse vale-tudo promovido pela oposição venezuelana tem atropelado o mundo como uma avalanche. Tanto que internautas brasileiros já falam tranquilamente sobre os estupros e genocídio na Venezuela. Vale até bater na mãe, tirar foto e divulgar como mais uma ação violenta do regime bolivariano. O importante é postar, curtir e compartilhar.

Algumas montagens são tão estapafúrdias que fazem a imagem do "estupro" parecer coisa de profissional. Esse site de notícias não pensou duas vezes antes de publicar mais essa arbitrariedade do governo venezuelano:

Caracas! Que frio que faz por lá! Esses violentos policiais da guarda bolivariana são tão insensíveis que, além do povo, ignoram também o calor venezuelano.

Mas o jornalismo tradicional e as redes sociais muitas vezes se confundem e se comportam de forma parecida. A CNN, cujo silêncio ainda não foi comprado por Dilma, entrou de cabeça na onda acusatória. Vejamos a foto que ela divulgou:

Calma, CNN. É só uma foto antiga de Singapura, e não da Venezuela. Mas, tudo bem. Essa coisa de repassar informação sem checar acontece com todos, até mesmo com jornalistas do SBT!

Checar, apurar, criticar são verbos que já não combinam com o dinamismo do mundo atual. Não importa se você é jornalista conhecido, atriz popular, twitteiro ou comentarista de portal. O negócio é clicar, curtir, postar e compartilhar. Mesmo que seja uma mentira escabrosa capaz de comover o mundo e influenciar decisões políticas importantes.

#AcuerdaVenezuela #REPASSEM

PS: Pra ilustrar esse bom momento da família #SouReaçaMasTôNaModa nas redes sociais, decidi criar um tumblr recheado com cenas reais da Venezuela: o #AcuerdaVenezuela. Nele reunimos todas as informações sonegadas pela mídia corporativa.