Bolsonaro chama de 'cartinha' manifesto pela democracia e evoca maioria 'do bem'
BRASĂLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em culto promovido nesta quarta (3) pela bancada evangĂ©lica do Congresso, o presidente Jair Bolsonaro (PL) evocou uma maioria cristĂŁ "do bem" e ironizou mais uma vez a carta em defesa da democracia que jĂĄ acumula mais de 700 mil assinaturas.
"Nenhum de vocĂȘs que assinaram cartinhas por aĂ se manifestaram naquele momento", disse o candidato Ă reeleição ao comentar medidas tomadas por prefeitos e governadores para conter a crise pandĂȘmica nos primeiros meses da Covid-19, que ele chama de autoritĂĄrias.
"VocĂȘs todos sentiram um pouco do que Ă© ditadura", disse Bolsonaro, um notĂłrio defensor do regime militar instalado em 1964 no Brasil.
Na mesma linha, ao final do dia, o chefe do Executivo disse que "assinar papel qualquer um assina".
"Dar demonstração na prĂĄtica que Ă© democrata Ă© algo completamente diferente. Estamos hĂĄ trĂȘs anos e meio no governo, nĂŁo tem uma palavras minha, uma ação minha tentando ferir a nossa Constituição", afirmou a prefeitos do Mato Grosso no PalĂĄcio Alvorada.
Em breve discurso, o presidente repisou temas que julga fulcrais para uma nação verdadeiramente cristĂŁ, como o rechaço a uma suposta onda comunista que tomaria o paĂs em caso de eleição do ex-presidente Lula (PT), adversĂĄrio que venceria no 1Âș turno se a eleição fosse hoje, segundo recente pesquisa Datafolha.
Declarou, num plenårio da Cùmara lotado por aliados: "Peço a Deus que meu povo, nosso povo, não sinta as dores do comunismo".
"NĂłs somos a maioria, nĂłs somos do bem, e tenho certeza que venceremos essa batalha", afirmou no primeiro culto do semestre realizado pela frente parlamentar que reĂșne os evangĂ©licos do Congresso.
Como jå virou praxe, instigou a polarização evocando "a luta do bem contra o mal" e disse que estå claro de que lado ele se posiciona.
Bolsonaro nĂŁo fugiu do script que tem seguido em encontros com esse segmento religioso.
Sugeriu que os rivais da esquerda querem impor uma ideologia de gĂȘnero e sexualizar crianças "de cinco, seis anos" nas escolas, o que nĂŁo tem lastro na realidade. TambĂ©m fustigou a legalização das drogas, bandeira progressista que costuma assustar fiĂ©is.
Mais uma vez, resgatou o atentado a faca que sofreu na campanha que lhe deu a faixa presidencial. Só não morreu naquele dia por causa da intervenção divina, disse.
"Creio que isso é um destino, mas um destino de Deus, tanto é que acredito na medicina, devo muito aos médicos, mas muitos deles me dizem que quem me salvou em 2018 foi a mão de Deus."
Após registrar sucessivos empates técnicos com Lula no eleitorado evangélico, o presidente abriu vantagem sobre o petista pela primeira vez no levantamento feito em julho pelo Datafolha. A dianteira, agora, é de 43% contra 33% nessa parcela cristã, jå fora da margem de erro da sondagem.
A dias do começo oficial da campanha, os correligionĂĄrios evangĂ©licos deram manifestaçÔes explĂcitas de apoio ao catĂłlico que selou a mais forte aliança, entre mandatĂĄrios, com os pares cristĂŁos.
"Que o senhor dĂȘ forças ao presidente Bolsonaro para todos os desafios que ele vai enfrentar nesse tempo", disse a deputada Clarissa Garotinho (UniĂŁo Brasil-RJ). Decano do bloco religioso, Gilberto Nascimento (PSC-SP) fez desagravo parecido.
Marco Feliciano (PL-SP) rogou: "Traga sobre nós uma poderosa vitória em nome de Jesus Cristo, seu filho". Pastor Eurico (PL-PE) lembrou que, antes de Bolsonaro, nenhum presidente havia ido a uma reunião da frente evangélica, oficializada no Congresso em 2003, primeiro ano do governo Lula.
Antes do culto, o presidente da bancada, SĂłstenes Cavalcante (PL-RJ), discutia com sua assessoria o lugar que tomaria na mesa principal do auditĂłrio. Originalmente, estava alocado Ă esquerda de Bolsonaro. Avisou Ă funcionĂĄria que assim nĂŁo poderia ser. "Quero estar Ă direita do Bolsonaro. Me coloca Ă direita."
SĂłstenes tambĂ©m teve sua deixa para exaltar Bolsonaro em pĂșblico. "A gente tem certeza que [o seu] Ă© um mandato que defende os nossos valores, os nossos princĂpios e, acima de tudo, o nosso Brasil verde e amarelo."
Bolsonaro acompanhou o culto e riu de uma fala de tom homofóbico do pastor convidado para pregar nesta manhã, Clåudio Duarte, que afirmou que é de uma "época em que homem era homem".
Um dos lĂderes pentecostais mais populares hoje, conhecido por uma oratĂłria sobre a sexualidade cristĂŁ, Duarte repetiu o discurso polĂtico de Bolsonaro e pregou a uniĂŁo entre todas as correntes da religiĂŁo evangĂ©lica. Aos inimigos, o aeroporto. "Se vocĂȘ conhecer alguĂ©m que quer socialismo e comunismo, vamos fazer vaquinha para comprar uma passagem para esse povo ir", disse.