Bolsonaro diz que não terá vacina para todos os brasileiros antes de 2022
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desferiu uma série de ataques em sua live semanal nesta quinta-feira (17), ofendendo pessoas que ele considera parte da "direita idiota" e fazendo a defesa de Kassio Nunes Marques, o ministro que ele indicou ao Supremo Tribunal Federal.
Em uma de suas falas, Bolsonaro citou as vacinas contra a Covid-19 e disse que não há a possibilidade de todos os brasileiros serem vacinados até o final de 2021.
A live, que ocorre às 19h todas as semanas, foi atrasada em duas horas nesta quinta por causa de uma visita do presidente à Vila de Vera Cruz, em Porto Seguro (BA).
Bolsonaro iniciou a transmissão criticando supostos eleitores de direita que o criticam nas redes sociais. "A esquerda bate palma para essa direita burra. Essa direita idiota. Não sabem interpretar e descem o cacete em mim", disparou.
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Em seguida, defendeu uma decisão de Kassio Nunes, no Supremo, que beneficiou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Você sabe o que é embargo de declaração? Enquanto não sabe, não fica criticando, agindo como um papagaio na internet repetindo o que um idiota escreve", declarou Bolsonaro.
O presidente fez menção a outras duas decisões de Kassio Nunes. A primeira delas foi o seu voto sobre a obrigatoriedade da vacina – nesta quinta, a maioria do STF decidiu que os governos federal, estaduais ou municipais podem obrigar a população a tomar a vacina, mas sem aplicar o uso da força.
Enquanto os dez ministros mais antigos do STF votaram a favor de que os governos possamd estabelecer penalidades a quem não tomar a vacina, Nunes Marques foi o único que que divergiu, defendendo que a imunização obrigatória só poderia ser adotada após aval do Ministério da Saúde e depois da realização de uma campanha de vacinação voluntária.
"O voto do Kassio foi vencido. Ele falou que as medidas restritivas só seriam aplicadas se fossem impostas pelo governo federal. Nada mais justo. Quando fala em vacinação e saúde, tem que ter uma hierarquia", afirmou o presidente.
Ele disse que não irá impor qualquer restrição a quem não tomar vacina – o presidente é contrário à obrigatoriedade e já disse que não se imunizará – e, em seguida, afirmou que a medida pode ser inócua "porque a vacina não vai chegar de uma hora para outra".
"Vamos supor que comece a vacinação no final de janeiro. Não temos como conseguir a vacina para todo mundo até o final do ano. Então não tem medida restritiva. O cara pode falar 'quero tomar e não tem'. Pode ser uma medida inócua. Com todo o respeito ao Supremo, entrou numa bola dividida, não precisava disso", criticou. Depois, Bolsonaro falou que a medida foi antecipada porque "nem vacina tem" e "não vai ter para todo mundo".
Mais tarde, ele voltou a falar sobre a questão e disse que é contrário à obrigatoriedade da vacina porque tem "responsabilidade", citando a possibilidade de efeitos colaterais. Ele questionou a norma que obriga a Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) a analisar em até 72 horas qualquer medicamento de combate à covid-19, desde que o imunizante tenha sido aprovado por autoridades sanitárias dos Estados Unidos, Europa, China ou Japão.
"Será que o prazo de 72 horas é suficiente para saber se a vacina tem efeito colateral? Alguém sabe quanto tempo a pessoa ficaria imunizada com a vacina? Ninguém sabe. É irresponsabilidade lidar com uma questão que trata com vidas com correria", disse Bolsonaro.
"F*deu a família"
O outro voto de Kassio Nunes Marques citado por Bolsonaro na live foi sobre o direito de amantes de dividirem uma pensão com a viúva – o STF, por 6 votos a 5, decidiu há dois dias que os amantes não têm esse direito. Nunes Marques votou com a maioria.
Além de defender o ministro, Bolsonaro ainda afirmou que Celso de Mello, a quem Nunes Marques substituiu no Supremo, teria votado a favor da tese, o que teria alterado o resultado do julgamento. O presidente não esclareceu sobre a origem dessa sua afirmação em relação ao ex-ministro do STF e disparou palavrões, rebatendo críticas.
"Se tivesse o Celso de Mello, teria sido aprovado o direito da amante. Você abre direito à poligamia. F*deu a família, deu para entender? Você, fedelho, que está me criticando", disparou.
Bolsonaro também afirmou que teria votado "igual" a Nunes Marques nos três julgamentos. Apesar de defender o ministro que indicou para o Supremo, Bolsonaro disse não ter "ascendência" sobre ele. "Pode ser que um dia o Kassio vote uma coisa que eu seja contra. Ele tem total autonomia."
Ataques a Major Olímpio e Doria
O presidente também utilizou parte da live para atacar outros adversários. Acompanhado do ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, Bolsonaro lembrou que Pontes era segundo suplente de um senador que o "enganou" – no caso, Major Olímpio (PSL-SP). "Não fala o nome dessa porcaria desse senador de São Paulo, que me enganou", disse Bolsonaro a Pontes.
Bolsonaro também citou a visita que fez nessa semana à Ceagesp, em São Paulo, elogiando o seu indicado para comandar a companhia federal de abastecimento, o coronel de reserva da Polícia Militar Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo.
O presidente disse que Araújo está acabando com casos de corrupção que atingem a Ceagesp e descartou privatização da companhia no momento. Em seguida, ele atacou o governador João Doria (PSDB-SP) sem citá-lo nominalmente.
"Estavam arrebentando [a Ceagesp] para vender rapidinho para os amigos daquele cara da roupa ajustada. Não vou falar quem é, não vou ser leviano."