Bolsonaro mente a investidores sobre situação da vacinação no Brasil
O presidente Jair Bolsonaro mentiu ao dizer a um grupo de investidores que o Brasil era “o sexto país que mais vacinou no mundo”. A declaração foi feita durante conferência promovida pelo Credit Suisse, nesta terça-feira (26), e ignora os dados de acompanhamentos da vacinação contra a Covid-19 no país.
“Já somos o sexto país que mais vacinou no mundo. Brevemente estaremos nos primeiros lugares, para dar mais conforto à população e segurança a todos, de modo que a nossa economia não deixe de funcionar”, disse o presidente, ao lado dos ministros Paulo Guedes, da Economia, e Ernesto Araújo, Relações Exteriores.
Segundo o consórcio de imprensa que reúne informações sobre o número de vacinados Brasil, 685.201 pessoas já tomaram a primeira dose. Já o balanço do projeto "Our World in Data", ligado à Universidade de Oxford, indica que 700,6 mil doses das vacinas contra Covid-19 já foram aplicadas no país.
Os levantamentos contam as doses aplicadas tanto da CoronaVac quanto do imunizante da Oxford.
O governo federal não possui, até agora, uma plataforma que contabiliza o número de vacinas aplicadas no país. No portal do Ministério da Saúde consta apenas a quantidade de doses distribuídas aos estados.
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Levando em conta o maior valor, o Brasil ocupa a 15ª colocação no ranking mundial. Em números absolutos de doses aplicadas, estão a frente países como Polônia, em 14º com 707 mil doses; Turquia, em 9º com 1,3 milhões; e Emirados Árabes Unidos, em 5º com 2,57 milhões.
Os Estados Unidos lideram o ranking mundial com 22,7 milhões, seguido da China, com 17 milhões, e do Reino Unido, com 7 milhões de doses aplicadas.
Confira o ranking abaixo:
Na análise do número de vacinas aplicadas a cada 100 mil habitantes, afirmação de Bolsonaro segue sendo mentirosa. Nesse recorte, a posição do Brasil é ainda pior no ranking mundial.
Proporcionalmente, o país está na 49ª colocação, com 330 pessoas vacinadas a cada 100 mil brasileiros. Em primeiro aparece Israel, com 44,8 mil pessoas imunizadas a cada 100 mil habitantes, seguido de Emirados Árabes Unidos (26 mil a cada 100 mil).
HISTÓRICO DE ATAQUES CONTRA VACINA
Em uma disputa política pela vacina, Bolsonaro tem um histórico de manifestações contrários à CoronaVac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo paulista. Usado como trunfo político do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o imunizante é o que está disponível em maior quantidade hoje no Brasil.
Em outubro do ano passado, por exemplo, Bolsonaro disse que o governo não iria adquirir a vacina do Butantan. "Tudo será esclarecido hoje. Tenha certeza, não compraremos vacina chinesa. Bom dia", escreveu em suas redes sociais.
Em outra ocasião, ele voltou a garantir que a Coronavac não seria comprada e disse que ela não transmitia segurança por conta da sua origem: "Da China nós não comparemos, é decisão minha. Eu não acredito que ela [vacina] transmita segurança suficiente para a população pela sua origem", declarou o presidente.
Bolsonaro também afirmou no passado que não pretende se imunizar porque já se contaminou e tem anticorpos.
A argumentação do presidente contraria especialistas médicos. Eles destacam que ainda não há informação detalhada sobre a duração da proteção de uma pessoa que teve o vírus no passado, que a imunidade gerada pelas vacinas parece ser mais duradoura e que, portanto, a imunização desse público também é necessária.