Bolsonaro promete “tirar dinheiro da Saúde e Educação” caso veto a distribuição de absorventes seja derrubado

Bolsonaro mostrou-se incomodado com possibilidade de derrubada do seu veto (Mateus Bonomi/Anadolu Agency via Getty Images)
Bolsonaro mostrou-se incomodado com possibilidade de derrubada do seu veto (Mateus Bonomi/Anadolu Agency via Getty Images)
  • Bolsonaro mostrou-se incomodado com a possibilidade da derrubada de seu veto

  • Presidente vetou PL que trata da distribuição gratuita de absorventes menstruais

  • Senadoras prometeram lutar para derrubar a decisão do chefe do Executivo

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mostrou-se novamente incomodado com a possibilidade de derrubada do seu veto à PL que trata da distribuição gratuita de absorventes menstruais. Ele afirmou que caso isso aconteça, vai “tirar dinheiro da Saúde e da Educação” para custear a ação.

O discurso aconteceu no último domingo, em entrevista transmitida pela internet durante a passagem do presidente por Guarujá, litoral de São Paulo.

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“Colocaram ‘distribuição gratuita’, mas não é uma cegonha que vai levar a todo mundo. Se o Congresso derrubar o veto do absorvente, eu vou tirar dinheiro da Saúde e da Educação. Tem que tirar de algum lugar", declarou.

O veto parcial de Bolsonaro à distribuição gerou repercussão negativa também no Congresso. Senadoras utilizaram as redes sociais para manifestar o descontentamento com a decisão e prometeram lutar para derrubar a decisão do presidente.

Presidente vetou a distribuição gratuita de absorventes - Foto: Getty Images
Presidente vetou a distribuição gratuita de absorventes - Foto: Getty Images

Líder da bancada feminista no Senado, Simone Tebet (MDB-MS), por exemplo, criticou o argumento dado pelo presidente de que não haveria fonte de custeio para o projeto.

“Desconexão com a realidade, falta de empatia e desconhecimento da condição feminina, em pleno mês de valorização da saúde da mulher: o Outubro Rosa. O argumento de que não há previsão orçamentária é irreal. Os recursos viriam do SUS e do Fundo Penitenciário. Também não se pode falar em falta de interesse público, em um país onde 52% da população são mulheres. Veto do presidente é mais um sinal do menosprezo dele à condição humana”, avaliou.

As senadoras, agora, articulam a derrubada do veto. Para isso, precisarão de 257 votos de deputados e outros 41 de senadores para a rejeição.

O veto de Bolsonaro

A proposta de distribuição de absorventes para jovens de baixa renda em escolas públicas e pessoas em situação de rua ou vulnerabilidade extrema foi aprovada pelo Senado em 14 de setembro.

Bolsonaro sancionou o projeto, levando à criação do Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual. No entanto, o presidente vetou o artigo 1º, justamente o que falava na distribuição de absorventes menstruais. Além disso, ele negou a inclusão do item de higiene pessoal como parte das cestas básicas distribuídas pelo Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.

O artigo 3º também foi vetado – nele era descrita a lista de beneficiárias, que incluía:

  • Estudante de baixa renda da rede pública de ensino

  • Mulheres em situação de rua ou em situação de vulnerabilidade social

  • Mulheres presidiárias ou apreendidas, que estão em unidades do sistema prisional

  • Mulheres internadas em unidades de cumprimento de medidas socioeducativas

A distribuição de absorventes é considerada um tema importante, pois a falta dos itens de higiene exclui meninas e mulheres da escola. Segundo um levantamento da ONU, no Brasil, uma a cada quatro mulheres já deixou de ir à escola por estar menstruada.

Presidente tentou explicar decisão

“Eu não tenho alternativa, sou obrigado a vetar”, disse Bolsonaro para apoiadores na última quinta-feira (7). A justificativa dada pelo presidente foi a mesma que apareceu no Diário Oficial da União: não haveria fonte de custeio para o programa.

“Quando parlamentar vota alguma coisa qualquer, votando sim ou não, tem problema nenhum para ele. Eu não posso vetar ou sancionar o que vem na minha cabeça e quando qualquer projeto cria despesa, o parlamentar sabe que tem de apresentar a fonte de custeio”, afirmou. “Quando não apresenta, se eu sanciono, estou incurso no artigo 85 da Constituição, crime de responsabilidade.”

Jair Bolsonaro disse que o projeto era “de um deputado do PT”. No entanto, a proposta foi criada por um grupo de parlamentares do Partido dos Trabalhadores, liderado pela deputada federal Marília Arraes.

Ao justificar o veto, o presidente também ironizou os valores do projeto. A previsão era de que o programa custasse R$ 80 milhões por ano com a compra de absorventes.

“Dá R$ 7 milhões por mês. Cada mulher teria oito absorventes por mês e, se fizer as contas, ele (sic) diz que custaria R$ 0,01 para distribuir. Eu perguntei para ele (sic). E a logística para distribuir para o Brasil todo?”, questionou. “Ele (sic) poderia aprovar projeto passando para R$ 10 mil o salário mínimo e estaria resolvido o problema do Brasil. É irresponsabilidade apresentar um projeto e aprovar no parlamento sem apontar fonte de custeio.”