Brasileiro faz paralelo entre tráfico negreiro e migrações atuais em instalação artística na França
Humberto Kzure-Cerquera, arquiteto-urbanista, com especialização em cinema, e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, acaba de encerrar uma residência artística em La Rochelle, no sudoeste da França. Durante dois meses, na cidade que foi o segundo porto negreiro francês mais importante a partir do século 17, ele desenvolveu o projeto “Asikiri”, que na língua Ioruba significa imigrante. O resultado é uma exposição em cartaz no Centre Intermondes de La Rochelle.
Visualmente, a instalação artística criada por Humberto Kzure-Cerquera é “um barco, que propositalmente é negro, que se lança em condições precárias e vai se deteriorando. (...) um tipo de embarcação conceitual propositalmente disposta em lâminas, como aquilo que vai cortando o mal, vai cortando os nossos próprios corpos”, explica o arquiteto-urbanista. “Asikiri” é composto também de vários depoimentos em áudio de migrantes, “principalmente africanos”, que sobreviveram a essa travessia em busca de melhores oportunidades de subsistência ou fugindo de perseguições políticas e guerras.
Kzure-Cerquera lembra que “desde os percursos atlânticos ou mesmo no Mediterrâneo, nós vamos percebendo cada vez mais como vai se construindo uma espécie de cemitério submarino”. O trágico naufrágio desse final de semana, que deixou mais de 60 mortos na costa italiana, é o último exemplo dessa situação. Nem todos os migrantes que sobrevivem “conseguem, de fato, uma inserção nas sociedades europeias. Mas isso também ocorre nas sociedades latino-americanas”, aponta.
Projeto artístico-político
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