Brasileiro preso com carne humana na mala diz que vítima era canibal: 'Tão bizarro que ninguém acredita'; ouça

Preso em Portugal por suspeita de assassinato, Begoleã Fernandes, de 26 anos, enviou um áudio no qual admite o crime. A mensagem atribuída ao mineiro de Matipó foi encaminhada depois de ele ter cometido o crime, no último domingo, quando tentava fugir de Amsterdã e voltar ao Brasil. O investigado alega ter matado o também brasileiro Alan Lopes, de 21 anos, em legítima defesa após se sentir ameaçado pela vítima, a quem acusa de ser canibal. A família de Alan nega a acusação e sustenta que Begoleã, nos últimos dias, apresentava falas desconexas e paranoicas.

O áudio foi enviado a um interlocutor identificado apenas como Messias. O GLOBO teve acesso ao conteúdo. Atenção: os relatos são perturbadores e descrevem cenas violentas.

— Ele é canibal, tem muito tempo que a galerinha dele sabe, entendeu. O Marcos sabia, Wesley sabia, o Rafael sabia. Mas é uma parada tão bizarra que ninguém acredita — iniciou Begoleã.

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— Aí ele pegou um marroquino e decepou o cara dentro do açougue [onde Alan trabalhava], como um porco. Ele me mostrou o vídeo e me chamou para a casa dele para comer um pedaço da carne do cara — prosseguiu.

Begoleã diz que atacou Alan depois que a vítima tentou agarrá-lo. E, neste momento, reagiu e o matou.

— Na hora que ele tentou me pegar, mano, eu estava com a faca. Eu reagi e 'passei' ele — disse. — Ele estava falando comigo igual um psicopata, um louco, um canibal doente. 'Nossa, o Wesley deve ter uma carne macia, com uma gordura'. Falando igual doente mental — acrescentou.

No áudio, Begoleã admite que havia sido alertado sobre a possível investida de Alan. E assume que sua "galera" havia dado a ordem para matar Alan caso fosse atacado.

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— Não fala para os outros porque eu estou tentando sair da Europa, porque eu fiquei com medo da galera reagir mal reagido e tentar me matar também. Aí eu estou saindo da praça pelo menos por uns dias — finaliza.

A família de Alan nega que a vítima era canibal. Em postagem no Instagram, nesta sexta-feira, Kamila dos Anjos Lopes, irmã do jovem assassinado, afirma que Alan foi morto quando estava dormindo.

"Meu irmão está com diversos ferimentos no rosto, mãos e braços. Ferimentos de defesa. E recebemos áudios nos quais esse assassino [Begoleã] dizia que queria matá-lo", diz a publicação. "Recebemos a informação de que o colchão da minha mãe está repleto de sangue. contudo acreditamos que esse verme atacou meu irmão quando ele estava dormindo. Pois ele sabia que a porta da casa ficava aberta", acrescentou.

Em entrevista ao GLOBO, Kamila rechaçou a hipótese de canibalismo.

— Está confuso para todos nós essa história de canibalismo. Ainda mais vindo do meu irmão, não tem lógica — disse. — Essa pessoa (Begoleã) é amigo de dois, três anos, do meu irmão. Meu irmão abrigava ele, já que ele não tinha casa, moradia. Meu irmão ajudava muito ele. E, infelizmente foi assim que ele retribuiu.

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— Em outro áudio, ele fala que meu irmão matava as pessoas e levava para o açougue, onde meu irmão trabalhava. Isso é uma loucura. Meu irmão não tinha acesso nenhum ao açougue fora do horário de trabalho. Do jeito que ele entrava ele saia: com o dono abrindo e fechando a loja. Não tem lógica falar uma coisa dessas — afirmou Kamila.

Detido com carne humana na mala

Begoleã foi detido no aeroporto de Lisboa quando tentava embarcar para o Brasil. Os agentes do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) de Portugal encontraram carne humana na bagagem do suspeito, segundo a rede de televisão portuguesa SIC Notícias. Ainda não se sabe de quem era esse material orgânico. A polícia da Holanda descartou que seja de Alan. Procurada pelo GLOBO, a corporação holandesa informou que o corpo da vítima está intacto.

Em entrevista à SIC Notícias nesta quinta-feira, a mãe de Begoleã, Carla Pimentel Fernandes, disse que os celulares do filho e de Alan estão em poder dos investigadores. Ela diz que os registros nos aparelhos vão esclarecer o que de fato aconteceu em Amsterdã.

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Para a SIC Notícias, Carla afirmou que Begoleã foi convidado para dormir na casa de Alan, que estava vazia após seus familiares partirem em viagem para a França. Lá, o brasileiro teria servido ao suspeito um prato de carne, que chamou a atenção de Begoleã por ser "preta" e de "gosto estranho", segundo descreveu à mãe.

Questionado sobre o que seria aquela carne, Alan, na versão apresentada por Begoleã à sua família, respondeu que seria "carne de gente". Com o celular, a vítima teria mostrado ao suspeito de homicídio cenas de execuções.

Apesar disso, no entanto, Begoleã optou por continuar na casa e lá teria decidido dormir. Por volta das 15h de domingo, foi acordado por Alan, que estava "em cima dele, para matar ele", disse a mãe ao canal SIC. No áudio enviado a amigos, Begoleã afirma ter ido armado com uma faca ao local por já suspeitar de Alan. Com experiência como lutador de kickboxing, Begoleã conseguiu revidar:

— Ele falou que na luta corporal conseguiu passar a faca no pescoço do Alan. O Alan caiu no chão, mas ainda mexendo. E ele deu uma facada no peito do Alan — diz a mãe, que conta ter recebido a ligação do filho relatando o ocorrido em seguida.