Bruno Maia: Tamanho da torcida x tamanho do futebol
Pesquisas que registram o tamanho de torcidas sĂŁo frequentemente publicadas em grandes veĂculos, fazendo sucesso junto aos torcedores. Diante da pesquisa O GLOBO/Ipec, Ă© preciso ressaltar que a abordagem etnogrĂĄfica dos grupos identificados com cada clube Ă© relevante. PorĂ©m, Ă© importante lembrar que esses nĂșmeros sĂł tĂȘm real sentido econĂŽmico depois que respondermos Ă pergunta: qual Ă© o tamanho do futebol brasileiro?
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Para dimensionarmos o impacto que as torcidas tĂȘm em geração de receita, precisamos saber quantos brasileiros gostam de futebol em 2022. Nos falta uma anĂĄlise completa de setor. Dentro dela, quantos assistem e consomem futebol?
Futebol é uma paixão nacional, mas não uma unanimidade. E precisamos calcular essa diferença pra mensurar os impactos econÎmicos gerados por cada torcida. à claro que pesquisas não são culpadas pelas conclusÔes equivocadas a que chega quem as interpreta de maneira rasa. E muito menos pela forma irresponsåvel com que se projetam resultados fantasiosos para grandes clubes a partir da confusão gerada.
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Porém, é importante chamar a atenção para aprofundarmos o entendimento sobre o produto futebol.
Como dito, do percentual de pessoas que gosta do esporte, quantas de fato o consomem? E o fazem de maneira direta, com compra de produtos e assinaturas de serviços, ou apenas passiva?
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Quantos tĂȘm conta em banco? Quantos estĂŁo negativados? Afinal, a economia do futebol ainda gira em torno da formalidade. Os brasileiros que estejam Ă margem dela terĂŁo um potencial menor de serem transformados em receita pelo mercado.
Como esses percentuais se comportam em cada torcida, dependendo das condiçÔes socioeconĂŽmicas de cada regiĂŁo do paĂs? A partir daĂ chegaremos mais perto de mensurar o impacto que o tamanho e a distribuição das torcidas, em seus diversos estratos, Ă© capaz de gerar.
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HĂĄ dois anos, escrevi no livro âInovação Ă© o novo marketingâ que nenhum clube brasileiro tem um milhĂŁo de fĂŁs, em um esforço semĂąntico de diferenciar quem pode ser considerado torcedor e quem pode, de fato, influenciar o mercado com seu consumo. O futebol se encaminha, como todos os outros setores do entretenimento, para um consumo mais nichado e menos massificado.
Projetar o impacto do futebol apenas por pesquisas de tamanho das torcidas terå mais relevùncia se corrigirmos o cenårio de pouca informação contextual do produto. Na discussão sobre a liga de clubes, é comum ouvirmos que é necessårio cuidar do produto primeiro. à assim nas principais ligas do mundo. Da mesma forma, precisamos produzir mais informação e discutir mais o produto para entendermos melhor os clubes depois.
*Bruno Maia é CEO da Feel The Match e executivo de inovação e tecnologia no esporte