Bruno Pereira recebeu bilhete com ameaça de morte: 'melhor se aprontarem'
Carta foi entregue ao advogado da Unijava
Autores da ameaça eram pescadores ilegais da região
Bruno Pereira já havia denunciado ação predatória do narcotráfico no Vale do Javari
O indigenista Bruno Pereira, que desapareceu em 5 de junho junto com o jornalista Dom Phillips no Vale do Javari, foi ameaçado diversas vezes por pescadores ilegais da região. Em carta à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), os criminosos ameaçam Bruno e Beto Marubo, membro da organização, de morte.
"Sei que quem é contra nós é o Beto Índio e Bruno da Funai, quem manda os índios irem para área prender nossos motores e tomar nosso peixe. Só vou avisar dessa vez, que se continuar desse jeito, vai ser pior para vocês. Melhor se aprontarem. Tá avisado", diz trecho da carta, obtida pelo jornal O Globo. O texto foi deixado embaixo da porta do escritório de Eliésio Marubo, advogado da Univaja, em Tabatinga (AM).
Bruno liderou diversas denúncias contra as atividades ilegais na região. O indigenista acompanhou uma Equipe de Vigilância Indígena da Univaja (EVU), que atuou para apreender equipamentos de pesca e caça, além de dezenas de quilos de peixe retirados ilegalmente do rio.
O desaparecido também fez uma denúncia, há dois meses, a pesca e caça ilegal no Vale do Javari. Ele realizou um trabalho de mapeamento da região para entregar à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal (MPF) de Tabatinga, no dia 4 de abril, junto com fotos e identificação dos responsáveis. Entre eles, estava Amarildo da Costa de Oliveira, o “Pelado”, e seu irmão, Oseney da Costa Oliveira, o “Dos Santos”, presos por envolvimento no desaparecimento da dupla.
Desaparecimento de Dom e Bruno: tudo o que você precisa saber
A notícia do desaparecimento de Dom e Bruno surgiu no domingo (5) e ganhou força na segunda (6)
Já no final da noite da segunda, uma força-tarefa de buscas atuava na Amazônia
Apenas no quarto dia de buscas um suspeito foi identificado e preso
Por conta da ineficiência até então, as buscas foram reforçadas após ordem judicial no quinto dia
Arrastadas, as buscas encontraram material humano que foi para análise na sexta (10)
A PF negou que os corpos haviam sido encontrados assim que a notícia foi vazada
No dia seguinte, a embaixada britânica assumiu o erro na comunicação com a esposa de Dom
Um segundo suspeito acabou preso na terça (14), ainda sem os corpos terem sido achados
Na tarde da quarta, os dois suspeitos confessaram ter esquartejado e queimado a dupla
Após receber o material, o MPF abriu um inquérito para apurar as denúncias. Os nomes levantados por Bruno já eram alvo de investigações, por serem suspeitos de participar da morte de outro servidor da Funai, Maxciel Pereira dos Santos, morto em 2019, em Tabatinga.
O esquema denunciado pelo indigenista tem relação com financiamento de tráfico de drogas na região. A carga de peixes e de tracajás, espécie de tartaruga, era usada para lavar dinheiro para o narcotráfico. Os animais eram vendidos para restaurantes fora do Brasil.
O principal nome do crime na região é o do narcotraficante Rubens Villar Coelho, o "Colômbia", que tem dupla nacionalidade brasileira e peruana. Com a venda dos frutos da pesca ilegal, Coelho lava dinheiro de droga trazida do Peru e da Colômbia, países que fazem fronteira com o Vale do Javari.