Caixões brancos para crianças mortas em naufrágio na Itália

Em um ginásio de Crotona, no sul da Itália, cinco pequenos caixões brancos se destacam entre os 64 que chegaram nesta terça-feira (28), pertencentes às vítimas do naufrágio de um barco de migrantes ocorrido no domingo.

O balanço da tragédia, ocorrida em frente ao litoral de Crotona, ainda pode piorar, indicou à AFP uma porta-voz dos bombeiros, que continuam buscando eventuais vítimas no mar e ao longo da costa da Calábria.

Segundo a agência europeia de vigilância de fronteiras, Frontex, que foi a primeira a detectar o barco no sábado pela noite, cerca de 200 pessoas estavam a bordo da embarcação, que havia partido de Esmirna, na Turquia. A Guarda Costeira italiana, no entanto, informou o número de 150 passageiros.

Apenas 79 pessoas - oriundas de Afeganistão, Paquistão, Somália e Síria - sobreviveram ao naufrágio, que aconteceu no domingo pela manhã, quando o mar estava bastante agitado.

Os caixões das vítimas, decorados com flores, foram alinhados em três fileiras em PalaMilone, um complexo esportivo de Crotona, município com cerca de 60.000 habitantes.

Alguns jornalistas foram autorizados a entrar para filmar e fazer fotos, mas a capela ardente ainda não foi aberta ao público.

Antes disso, os caixões foram abertos para que familiares e amigos dos falecidos pudessem identificá-los. Uma mulher, que compareceu para reconhecer um corpo, chorava copiosamente, constatou um jornalista da AFP.

O sobrinho de um resgatado afegão que perdeu sua esposa e três filhos (de 5, 8 e 2 anos) veio da Alemanha para se encarregar de seu tio e do único filho que sobreviveu, de 14 anos. Ele explicou que deseja fazer com que o corpo seja transportado para a Alemanha ou o Afeganistão.

- 8.000 euros por pessoa -

Entre as vítimas registradas até agora há 14 menores, com base nos números anunciados nesta terça-feira pelo ministro do Interior, Matteo Piantedosi, durante discurso no Senado.

Trata-se de um dos naufrágios mais letais ocorridos na região central do Mediterrâneo, que dezenas de milhares de pessoas tentam atravessar todos os anos para chegar na Europa, colocando suas vidas em perigo.

No âmbito da investigação, três supostos "coiotes" (dois paquistaneses e um turco) foram presos, confirmou nesta terça-feira um porta-voz da polícia. Segundo a agência italiana AGI, eles são suspeitos de cobrar entre 5.000 e 8.000 euros (entre 28.000 e 45.000 reais) para cada migrante embarcado.

O barco, de madeira, se chamava "Amor de Verão" e havia zarpado em 23 de fevereiro de Esmirna, no sul de Turquia, segundo os socorristas da Cruz Vermelha.

Várias ONGs, como a Médicos Sem Fronteiras (MSF), enviaram equipes à região para atender os sobreviventes, entre os que havia muitas crianças que viram seus familiares se afogando no mar.

Por sua vez, a Frontex indicou que um de seus aviões detectou um barco "com forte sobrecarga de passageiros" se deslocando rumo à Itália e alertou as autoridades do país.

"Não houve chamados de socorro", frisou a agência em comunicado, no qual acrescentou que o avião teve que deixar o local porque havia pouco combustível. Também assinalou que a Itália havia enviado duas patrulhas que tiveram que retornar ao porto pelas condições do mar.

A Guarda Costeira italiana relatou que a Frontex detectou o barco, mas com "apenas uma pessoa visível" a bordo.

Segundo o Ministério do Interior italiano, cerca de 14.000 migrantes desembarcaram no país neste ano, em comparação com os 5.200 que fizeram isso no mesmo período do ano passado e os 4.200 de 2021.

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