Fracassa a primeira tentativa de desencalhar navio no Canal do Suez
Fracassa a primeira tentativa de desencalhar navio no Canal do Suez
Parte dianteira do cargueiro bloqueado no Canal de Suez, em imagem divulgada pela Autoridade do Canal de Suez em 25 de março de 2021A primeira tentativa de desencalhar o porta-contêineres de 400 metros de comprimento que bloqueia há quatro dias o Canal de Suez fracassou nesta sexta-feira (26), o que mantém a crucial rota bloqueada e afetando o frete entre Ásia e Europa.
A operação "fracassou", reconheceu a empresa marítima Bernhard Schulte Shipmanagement (BSM), encarregada da gestão técnica do navio. A empresa informou que "dois rebocadores adicionais de 220 a 240 toneladas" chegariam antes de 28 de março para reforçar as manobras.
Rebocadores e dragas fizeram todo o possível para desencalhar o porta-contêineres que há quatro dias bloqueia esta rota comercial chave entre Ásia e Europa.
A empresa responsável pela operação de "resgate" do cargueiro "Ever Given", a holandesa Smit Salvage, afirmou que podem ser necessários "dias ou até semanas" para a retomada do tráfego pelo canal, por onde passa 10% do comércio marítimo internacional.
O incidente, que aconteceu na terça-feira devido provavelmente a ventos violentos combinados com uma tempestade de areia, provocou grandes engarrafamentos.
De acordo com a revista especializada Lloyd's List, quase 200 países estão bloqueados nas duas extremidades e na zona de espera situada na metade do canal. O problema causou grandes atrasos nas entregas de petróleo e de outros produtos.
A gigante do transporte marítimo Maersk e a alemã Hapag-Lloyd informaram que examinam a possibilidade de desviar seus navios e passar pelo Cabo da Boa Esperança, um desvio de 9.000 quilômetros e 10 dias adicionais de viagem margeando o continente africano.
- "Dias ou semanas" de espera -
Desde quarta-feira, a Autoridade do Canal de Suez (SCA, egípcia) tenta desencalhar o cargueiro, de mais de 220.000 toneladas.
"Estão utilizando rebocadores e dragas para romper as rochas e tentar liberar a embarcação", afirmou à AFP uma fonte da empresa japonesa Shoei Kisen Kaisha, proprietária do navio.
A SCA informou que será necessário retirar entre 15.000 e 20.000 metros cúbicos de areia para chegar a entre 12 e 16 metros de profundidade, o que permitirá trazer novamente à tona o colossal porta-contêineres.
Uma maré alta esperada para o início da próxima semana pode ajudar as equipes técnicas.
O Egito recebeu várias ofertas de ajuda internacional, entre elas uma da Turquia, que propôs enviar um grande rebocador, e dos Estados Unidos, que ofereceu mandar uma equipe de especialistas da Marinha.
Mohab Mamish, assessor do presidente egípcio Abdel Fatah al Sissi para o setor portuário, afirmou na quinta-feira à AFP que a navegação seria retomada "em 48 ou 72 horas no máximo".
"Tenho experiência em várias operações de resgate deste tipo e, como ex-presidente da Autoridade do Canal de Suez, conheço cada centímetro do canal", disse Mamish, que supervisionou a recente ampliação da via marítima, muito movimentada.
Mas algumas horas antes, a empresa holandesa Smit Salvage advertiu que a operação poderia demorar "dias ou até semanas".
A empresa que explora o navio, Evergreen Marine Corp, com sede em Taiwan, encomendou da Smit Salvage e da empresa japonesa Nippon Salvage um "plano mais eficaz" para desencalhar o navio. Os primeiros especialistas chegaram na quinta-feira.
A Smit Salvage já participou em grandes operações de resgate, como o submarino nuclear russo Kursk e o cruzeiro italiano Costa Concordia.
- Incidentes "raros" -
Quase 19.000 navios atravessaram o canal em 2020, segundo a SCA, média superior a 51 por dia.
Um relatório da Allianz Global Corporate & Specialty sobre segurança marítima aponta que o "Canal de Suez apresenta um excelente balanço de segurança em seu conjunto, e os incidentes de navegação são extremamente raros, com 75 incidentes na última década".
Segundo a jornalista britânica Rose George, autora de um livro sobre transporte marítimo, o setor "fornece 90% de tudo o que precisamos e por isso somos fundamentalmente dependentes dele".
Ela também indica que "mais de dois terços dos acidentes marítimos são provocados por erros humanos".
Um responsável da diplomacia russa considerou nesta sexta-feira que o bloqueio do Canal de Suez mostra a necessidade de fortalecer o trajeto marítimo no Ártico russo.
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