Carnaval 2023: Grande Rio defende o título do carnaval carioca com alegorias da vida de Zeca Pagodinho
Um devoto de São Jorge, o santo guerreiro; um praticante de religiões afro-brasileiras; Carmen Miranda decorada com frutas e uma sacola de compras; uma onda com um camarão na crista; um doce admirador de Cosme e Damião, os santos gêmeos celebrados em 27 de setembro com "cocada, paçoca, suspiro, pipoca, bolo, bala, bola, cuscuz e manjar", como diz o célebre samba "Falange do erê", um dos muitos sucessos de... ele mesmo, Zeca Pagodinho, enredo da Grande Rio, atual campeã do carnaval. Depois de assumir a tricolor de Duque de Caxias e levá-la ao inédito campeonato em 2022 com "Fala, Majeté! Sete chaves de Exu", os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora se viraram para o ilustre morador de Xerém.
As fantasias retratadas por Custodio Coimbra com exclusividade para O GLOBO (e envergadas com orgulho e algum nervosismo por funcionários do barracão) mostram, segundo Haddad, o clima festivo e solar que a escola pretende imprimir a seu desfile, marcado para as 23h do domingo de carnaval.
- A primeira ala da escola é "Quem vai pela boa estrada", que traz sete fantasias diferentes, duas das quais são o romeiro e o macumbeiro - diz o carnavalesco.
A ala é inspirada na música "Pra São Jorge", de Pecê Ribeiro (Zeca era um compositor ativo no começo da carreira, mas logo passou a ser mais intérprete e descobridor de talentos): uma "representação carnavalesca das gentes que celebram Jorge e Ogum, na aurora de 23 de abril, fazendo pedidos e oferecendo agradecimentos, bebendo e rezando, tudo a um só tempo", segundo a sinopse dos carnavalescos.
Na ala 7 vem "Cadê o doce que eu quero comer?", inspirada pelas afinidades de Zeca com o universo infantil e a devoção a Cosme e Damião.
- As pessoas são saquinhos de doces - define Haddad, lembrando músicas como "Patota de Cosme" ("Porque Cosme é meu amigo e pediu a seu irmão Damião/ Pra reunir a garotada e proteger meu amanhã").
Uma das raras fantasias inspiradas diretamente em canções do repertório de Zeca é a que tem a onda no corpo e o camarão na cabeça.
- Não vamos vestir toda a escola com as músicas, mas "Camarão que dorme a onda leva" dá uma roupa legal, e foi uma canção muito importante do Zeca no começo - avalia Haddad, lembrando que a faixa é da época em que o cantor era afilhado musical de Beth Carvalho. - Ele não nos pediu quase nada, mas reforçou que ela deve estar muito presente. Estaria conosco na avenida se estivesse viva.
Por último, a Ala dos Leques, dedicada à população LGBTQIA+, virá com o "Sururu na feira", outro ambiente frequente no universo do homenageado.
- É isso: nosso passeio irreal tem uma Carmen Miranda vestindo frutas e comprando verduras na feira - define o sorridente Haddad.