Carnaval 2023: Mangueira encerra primeira noite de desfiles com trio elétrico e Margareth Menezes
Vinte e um anos após ser campeã com o famoso samba do “Vou invadir o Nordeste”, a Mangueira volta ao tema, quando abordará os cortejos afros da Bahia, dos cucumbis dos tempos da escravidão aos afoxés e blocos atuais, até chegar ao axé (que não é só o gênero musical). A verde e rosa fecha a primeira noite de desfiles na Sapucaí, com início previsto para entre 3h e 3h50.
— A partir do carnaval, lutou-se em vários campos e se reconstruiu a África na Bahia. Vamos mostrar isso com destaque para o protagonismo da mulher nesse processo — explica a carnavalesca Annik Salmon, que faz dupla com Guilherme Estevão.
O enredo da verde e rosa propõe levar para a avenida a construção das visões da África na Bahia, por meio da musicalidade e das instituições carnavalescas negras, com destaque para o protagonismo feminino e questões como o racismo.
— A Mangueira nunca se isentou do debate social. Com uma perspectiva festiva, vamos tratar também de liberdade, tolerância religiosa e combate ao racismo — diz Estevão, que estreia no Grupo Especial.
O desfile vai contar a participação de representantes dos vários blocos e afoxés vindos diretamente da Bahia. Vale prestar atenção na presença feminina, que deve dominar o cenário, inclusive na bateria da escola, que vai contar com um naipe de xequerês, tocado por 12 mulheres.
Para contar a história da estrutura dos cortejos baianos, a escola promete recorrer ao uso de muita coreografia em alas e nas alegorias. O desfile será encerrado em grande estilo com um trio elétrico baiano, que trará como destaque a cantora baiana Margareth Menezes, atual ministra da Cultura.
“As Áfricas que a Bahia canta"
Autores: Lequinho, Junior Fionda, Gabriel Machado, Guilherme Sá e Paulinho Bandolim
Oyá, oyá, oyá eô!
Ê, matamba, dona da minha nação
Filha do amanhecer, carregada no dendê
Sou eu a flecha da evolução
Sou eu, Mangueira, a flecha da evolução
Levo a cor, meu ilu é o tambor
Que tremeu Salvador, Bahia
Áfricas que recriei
Resistir é lei, arte é rebeldia
Coroada pelos cucumbis
Do quilombo às embaixadas
Com ganzás e xequerês, fundei o meu país
Pelo som dos atabaques canta meu país
Traz o padê de Exu
Pra mamãe Oxum tocar o ijexá
Rua dos afoxés
Voz dos candomblés, xirê de orixá
Deusa do ilê aiye, do gueto
Meu cabelo black, negão, coroa de preto
Não foi em vão a luta de Catendê
Sonho badauê, revolução didá
Candace de Olodum, sou debalê de Ogum
Filhos de Gandhi, paz de Oxalá
Quando a alegria invade o Pelô
É carnaval, na pele o swing da cor
O meu timbau é força e poder
Por cada mulher de arerê
Liberta o batuque do canjerê
Eparrey oya! Eparrey mainha!
Quando o verde encontra o rosa, toda preta é rainha
O samba foi morar onde o Rio é mais baiano
O samba foi morar onde o Rio é mais baiano
Reina a ginga de iaiá na ladeira
No ilê de Tia Fé, axé Mangueira!