Caso de idoso que foi atropelado no Leblon é reaberto pela polícia; saiba as possíveis falhas na investigação
Na manhã de uma terça-feira, 5 de julho do ano passado, Alípio Guedes Filho, de 69 anos, saiu pra passear com sua cachorrinha Zoe, da raça Shitzu, , na orla do Leblon. Por volta das 9h40, ao atravessar na Avenida Delfim Moreira, o aposentado foi atropelado e morreu. Dois meses depois, a delegada Daniela Campos, da 14ª DP (Leblon), encerrou o caso por entender que não havia culpa da condutora do veículo, a advogada Tatiana Saboya. Advogados da família de Alípio, no entanto, entraram com uma representação junto ao Ministério Público do Rio de Janeiro alegando falhas na investigação. O caso foi contado na reportagem do RJTV 2, neste sábado (11).
À polícia, Tatiana disse que trafegava a 40 km/h, aproximadamente, e que não conseguiu ver a vítima no momento do atropelamento por conta de um carro que estava na sua frente. Ela parou pra prestar socorro e esperou a chegada da polícia. No pedido de arquivamento, a delegada Daniela Campos disse que o laudo pericial apontava o consumo de álcool pela vítima, que atravessou a avenida fora da faixa de pedestres.
O laudo do exame de alcoolemia feito em Alípio contraria a afirmação da delegada. Segundo o perito que analisou o corpo do aposentado, não dá pra concluir que o mesmo estava bêbado pois a taxa de álcool encontrada no seu sangue estava de acordo com o que o corpo humano produz em seu próprio metabolismo. Além disso, os advogados da família da vítima pediram para que a Polícia Civil incluísse no inquérito vídeos obtidos em câmeras de segurança de outros prédios, que ainda não haviam sido incluídos na investigação, mas a polícia teria ignorado as provas.
Em outubro, o MPRJ pediu que a Polícia Civil reabrisse o caso. Nos vídeos obtidos pelos advogados da família de Alípio, não há qualquer carro na frente de Tatiana no momento do atropelamento. Outros fatores causaram estranheza nos advogados que defendem a vítima.
— A gente pediu perícia do local e do veículo. Nos enrolaram por meses, só foram fornecer agora, em fevereiro. E o carro da condutora não foi apreendido após o atropelamento. Não houve perícia no veículo. Como, em um acidente como esse, você não apreende o carro para perícia? — questiona o Dr. Luis Felipe Sene, advogado da família do aposentado. — Por muito menos, em acidentes sem vítima fatal, o carro fica apreendido. Ela saiu com o carro no mesmo dia — conclui o advogado.
Ainda segundo Luis Felipe Sene, de acordo com o vídeo obtido pela família, é improvável que Tatiana estivesse na velocidade em que alegou:
— Quando o Alípio atravessa, ele olha para os dois lados e vê que o carro está longe. Ele calculou que, pela distância, dava para atravessar. Mas você vê que ela não está a 40 km/h. Quando o carro bate nele, ele gira três vezes no ar e cai no chão. Ele era uma homem pesado, é inocência acreditar que ela estivesse devagar.
Agora, com a reabertura do caso por parte da Polícia Civil, o advogado da família do aposentado diz que aguarda a oitiva de testemunhas indicadas pela defesa, como porteiros de prédios próximos ao local do acidente, além da análise dos novos vídeos por parte da investigação.
— Quando conversei com o promotor do Ministério Público, ele ficou estarrecido. A rapidez com que o caso foi arquivado chamou a atenção. Não estou afirmando que isso pode ter interferido, mas a condutora do veículo é de uma família influente na cidade — diz Luis Felipe Sene.
Tatiana Saboya é advogada e vice-presidente do Instituto Instituto Brasileiro de Direito das Famílias (IBDFam/RJ). Ela é filha do advogado Paulo Eduardo de Araújo Saboya, que morreu em 2009. Paulo Saboya foi presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) e também foi secretário de Justiça do estado do Rio de Janeiro no governo de Benedita da Silva. Procurada pelo GLOBO por meio do contato do escritório do qual é sócia, Tatiana Saboya ainda não se manifestou.