Celular de diretora da Precisa recebeu quatro chamadas do senador governista Luis Carlos Heize

Senador Luiz Carlos Heinze (Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado)
Senador Luiz Carlos Heinze ligou para Emanuela Medrades, da Precisa Medicamentos, em 18 de abril de 2021 (Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado)
  • Emanuela Medrades, diretora da Precisa, recebeu quatro ligações do senador governista Luis Carlos Heinze

  • Ligações aconteceram no dia 18 de abril de 2021, antes da instalação da CPI da Covid

  • Caso Covaxin é investigado pela CPI da Covid, que retorna na terça-feira

O celular de Emanuela Medrades, diretora da Precisa Mecidamentos, recebeu quatro chamadas do senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), um dos representantes do bolsonarismo na CPI da Covid no senado. As informações foram reveladas pela Folha de S. Paulo.

Medrades também recebeu oito ligações de um capitão-de-mar-e-guerra, que ocupa um cargo de gerência no Ministério da Defesa no governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

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Os contatos foram feitos antes do caso Covaxin vir à tona. O governo negociou a compra de 20 milhões de doses da vacina indiana contra a covid-19 por R$ 1,61 milhão. Os registros estão no relatório da quebra do sigilo telefônico de Emanuela Medrades, determinado pela CPI da Covid.

A diretora da Precisa foi uma das responsáveis por negociar a venda da Covaxin ao Ministério da Justiça.

Procuradas, Emanuela e a Precisa não responderam o contato da Folha de S. Paulo.

Ligações de Luis Carlos Heinze

As ligações feitas por Luis Carlos Heinze a Emanuela Medrades no dia 18 de abril. Ao ser questionado sobre o motivo de ter telefonado para a diretoria da Precisa Medicamentos, o senador perguntou quem seria a pessoa. Ao ouvir o nome, alegou não se lembrar.

“Eu ligo pra tanta gente. São 200 ligações por dia. Não me lembro. Cada dia, passam 300 pessoas pelo meu telefone. Deixa eu olhar e lhe retornar”, disse à Folha. Heinze, no entanto, não voltou a falar com a reportagem.

Ligações de capitão da Marinha

O servidor do Ministério da Defesa que ligou diversas vezes para Emanuela Medrades é o capitão da Marinha Leonardo José Trindade de Gusmão. Ele é gerente do Departamento de Promoção Comercial da pasta, vinculada a Secretaria de Produtos da Defesa.

As ligações foram feitas em 22 e 23 de julho de 2020, muito antes da assinatura do contrato entre o Ministério da Saúde e Precisa. Segundo a Folha, o interesse seria por comprar insumos como seringas, agulhas e testes para covid. O capitão da Marinha foi procurado pelo jornal, mas não retornou.

O Ministério da Defesa afirmou à Folha que “os assuntos pautados na Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19, no Senado Federal, serão tratados apenas naquele fórum”.

Suspensão de contratos

A Bharat Biotech, produtora da Covaxin, havia autorizado a Precisa Medicamentos a ser a representante da farmacêutica indiana no Brasil. O contrato, no entanto, foi rompido recentemente, quando a Bharat Biotech averiguou que a empresa brasileira falsificou documentos para avançar na negociação com o Ministério da Saúde.

Depois dos indícios da falsificação de documentos, o próprio Ministério da Saúde suspendeu o contrato pela compra da Covaxin

Prevaricação de Bolsonaro

O caso Covaxin é investigado pela CPI da Covid no Senado, que retoma os trabalhos na terça-feira (03). Após revelações feitas pela comissão, o presidente Jair Bolsonaro passou a ser investigado pelo crime de prevaricação – ele teria sido alertado sobre irregularidades no caso pelos irmãos Miranda, e não agiu.

O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello depôs à Polícia Federal no inquérito.