Chuvas: 'Tive que quebrar o forro de casa pra fugir com meus filhos pelo telhado', diz morador de São Sebastião
O ajudante de pedreiro Thiago Aparecido da Silva, natural de Santos, é um dos desalojados que estão no abrigo improvisado na Escola Municipal Professora Patrícia Viviani, no centro de São Sebastião, cidade mais afetada pelas chuvas que assolam o Litoral Norte de São Paulo desde a madrugada de domingo. O local recebeu 36 pessoas e se prepara para abrigar outras 100, informou a prefeitura da cidade.
Silva se mudou há cinco meses para o município, com três filhos e a mulher, que é diarista. Há três meses, ele aluga uma casa por R$ 500 no Morro do Juramento, no bairro de Itatinga. Como o bairro fica próximo ao centro da cidade, é o único na município dos que mais sofreram com as chuvas que não ficou ilhado.
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— Estávamos dentro de casa e, por volta de 2h da madrugada (de domingo), acordamos com um barulho de pedra no meio da chuva forte. Minha esposa abriu a porta e viu as pedras descendo ladeira abaixo. Pouco tempo depois, vimos uma geladeira e parte de paredes descendo a rua. Como a chuva estava forte, não saímos, mas a casa do vizinho deslizou e bateu na nossa. Tive que quebrar o forro e o telhado para fugir com meus filhos — afirma.
O ajudante de pedreiro e os filhos de 13, 5 e 2 anos de idade estão, agora, sem teto. Durante o dia, ele cuida das crianças enquanto a mulher continua a fazer faxina para ajudar a bancar a família.
— Não sobrou nada da nossa casa, só salvamos os documentos e um botijão de gás na pressa de escapar. A primeira noite sem teto a gente passou na casa da patroa da minha esposa. Agora, vamos ficar aqui até resolver o que faremos da vida — diz.
Na base do mesmo morro, morava a cozinheira Zuleide Alves, de 38 anos, com três de seus seis filhos e o marido. A caçula, Rhillary Vitória, nasceu no dia 12 de fevereiro.
— Estávamos todos em casa quand,o por volta da meia-noite, ouvimos um estrondo. Achei que era um trovão, mas era a terra cedendo. Um tempo depois vimos que a lama estava levando tudo: árvore, poste, pedras, casas, geladeiras, fogões. Aí tivemos que sair correndo — conta.
A cozinheira ligou para a Defesa Civil, que chegou a ir ao local mas, segundo ela, não alertou para o risco de deslizamento:
— Há anos dizem que o morro ia cair, mas que não chegaria à base, onde eu morava — conta. Ela e uma irmã vizinha perderam as casas.
Já Maria Antônia Ferreira, de 65 anos, inspetora de ensino aposentada, vive em Itatinga, na entrada do bairro, há mais de 20 anos.
Hipertensa, diabética e cadeirante, ela mora só e percebeu que havia algo errado ao receber a ligação de uma amiga:
— Acordei com o telefone às 7h de domingo. Olhei na janela e vi que estava chovendo bem forte, vi um monte de pedra e lama e fiquei com medo. Só consegui sair porque funcionários da Defesa Civil me carregaram no colo e me tiraram de lá — diz.
A aposentada tem recebido no abrigo visitas de ex-estudantes de quem ajudou a cuidar antes da aposentadoria.
— Aqui é bom, mas minha casa ainda está inteira, queria voltar pra lá. Não me deixam ir lá ainda, nem sei se vou poder voltar — lamenta.