Com a maior taxa de mortalidade por Covid-19 do país, Rio tem o triplo do índice de letalidade esperado, diz especialista
Dois índices mostram o quanto é preocupante o quadro da pandemia de Covid-19 no Rio de Janeiro. Além de ter a maior taxa de mortalidade em decorrência da infecção pelo novo coronavírus do Brasil, com 131 óbitos por 100 mil habitantes, de acordo com levantamento do MonitoraCovid-19, ferramenta da Fiocruz criada para acompanhar o avanço da doença no país, o estado tem uma letalidade pela doença em torno de 7%, o que é considerado “assustador” pelo sanitarista Christovam Barcellos.
— O mundo todo está caminhando para uma letalidade de 1% a 2%. Já o Rio está chegando a 7%. É um número absurdo. O triplo do esperado. Não é que os casos no Rio sejam mais graves, mas não se está conseguindo detectar os casos com antecedência. Os testes servem para identificar a doença e acompanhar para ver se é o caso de internação — alerta Barcellos, que é coordenador do MonitoraCovid-19.
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A letalidade reflete a quantidade de óbitos pela doença a cada 100 pacientes diagnosticados. Já a taxa de mortalidade mostra a proporção de vidas perdidas em relação à população local. O cálculo da taxa de mortalidade, que pode ser feito por 100 mil ou por 1 milhão de habitantes, costuma ser utilizado para analisar o impacto da doença de acordo com o contexto demográfico de determinado município, estado ou país. Além do Rio, outras seis unidades da federação têm esse índice acima de 100: Brasília, Amazonas, Mato Grosso, Roraima, Espírito Santo e Ceará, de acordo com dados de quarta-feira (2) do MonitoraCovid-19.
A taxa de mortalidade do Rio é bem superior à de São Paulo (91,72), que é o estado com o maior número de mortes no Brasil por conta da pandemia.
— O Rio de Janeiro começou razoavelmente bem na pandemia, com hospitais de campanha e leitos disponíveis. No início, as piores taxas de mortalidade aconteceram no Amazonas e em alguns estados do Nordeste, como Pernambuco e Ceará. A partir de junho e julho, a taxa começou a cair nesses estados, e a do Rio passou a ser a maior do Brasil em agosto — explica Barcellos, que completa: — Os estados onde a taxa de mortalidade caiu conseguiram, de alguma forma, reestruturar seus sistemas de saúde. Esse quadro não mudou pela diminuição do número de casos, mas sim por investimento em testagem e na atenção primária. O Rio manter a taxa ainda alta significa que o sistema de saúde no estado não está funcionando adequadamente.