Como a altitude muda o metabolismo, reduzindo o risco de diabetes e colesterol; entenda

Pessoas que vivem acima de 4.500 metros de altitude têm taxas mais baixas de doenças metabólicas como diabetes, doença arterial coronariana, colesterol elevado e obesidade, quando comparadas àquelas que vivem no nível do mar. Esse grupo representa apenas cerca de 2 milhões de pessoas no planeta, como os habitantes do Tibete e de poucas cidades em cordilheiras — a cidade mais alta do Brasil, Campos do Jordão (SP) fica a apenas 1.628 metros, por exemplo.

Pesquisadores do Gladstone Institute, nos EUA, se debruçaram sobre esse fenômeno e descobriram como níveis cronicamente baixos de oxigênio, como os experimentados em grandes altitudes, reprogramam a forma como os ratos queimam açúcares e gorduras.

"Quando um organismo é exposto a níveis cronicamente baixos de oxigênio, descobrimos que diferentes órgãos reorganizam suas fontes de combustível e suas vias de produção de energia de várias maneiras", diz o pesquisador de Gladstone e principal autor do estudo, Isha Jain, em comunicado.

O trabalho, publicado na revista Cell Metabolism, não apenas ajuda a explicar as diferenças metabólicas de pessoas que vivem em grandes altitudes, mas também pode levar a novos tratamentos para doenças metabólicas.

“Esperamos que essas descobertas nos ajudem a identificar interruptores metabólicos que podem ser benéficos para o metabolismo, mesmo fora de ambientes com baixo teor de oxigênio”, diz Jain.

Estudo

Ao nível do mar, onde vive um terço da população mundial, o oxigênio representa cerca de 21% do ar que respiramos. Mas as pessoas que vivem acima de 4.500 metros, onde o oxigênio compõe apenas 11% do ar, podem se adaptar à escassez de oxigênio – conhecida como hipóxia.

Para entender os efeitos da hipóxia a longo prazo, os pesquisadores colocaram camundongos adultos em câmaras de pressão contendo 21%, 11% ou 8% de oxigênio. Ao longo de 3 semanas, eles observaram o comportamento dos animais, monitoraram sua temperatura, níveis de dióxido de carbono e glicose no sangue e usaram pet scans para estudar como diferentes órgãos estavam consumindo nutrientes. Nos primeiros dias de hipóxia, os camundongos que viviam em 11% ou 8% de oxigênio se moviam menos, passando horas completamente imóveis. No final da terceira semana, no entanto, seus padrões de movimento voltaram ao normal.

O metabolismo dos animais, no entanto, parecia permanentemente alterado pela hipóxia. Para os animais sob menos oxigênio, os níveis de glicose no sangue e o peso corporal caíram e nenhum voltou aos níveis anteriores. Em geral, essas mudanças mais duradouras refletem o que foi observado em humanos que vivem em grandes altitudes.

Os efeitos duradouros da hipóxia de longo prazo observados nos camundongos – menor peso corporal e níveis de glicose – estão associados a um menor risco de doenças em humanos, incluindo doenças cardiovasculares. Compreender como a hipóxia contribui para essas mudanças pode levar a novos medicamentos que imitam esses efeitos benéficos.

"Já vemos atletas treinando em altitude para melhorar seu desempenho atlético; talvez no futuro comecemos a recomendar que as pessoas passem tempo em altitude por outros motivos de saúde", diz Ayush Midha, um dos pesquisadores.