Como bolsonaristas transformaram 'ataque com fezes' em arma eleitoral

Bom caseira explode em ato de campanha em apoio a Lula no Rio. Foto: Reprodução
Bom caseira explode em ato de campanha em apoio a Lula no Rio. Foto: Reprodução

ViolĂȘncia e escatologia sĂŁo signos estruturados do lĂ©xico bolsonarista.

Com uma simples pesquisa Ă© possĂ­vel encontrar na rede os inĂșmeros episĂłdios em que o presidente recorreu ao que faz no banheiro para adjetivar adversĂĄrios ou ilustrar o que pensa da vida.

Jair Bolsonaro já “cagou” para a CPI da Covid, já prometeu acabar com o cocî na política, já chamou jornalistas e opositores de “bostas”.

TambĂ©m jĂĄ manifestou preocupação com suas hemorrĂłidas, jĂĄ postou vĂ­deos em que um homem mexe no Ăąnus de outro e jĂĄ orientou eleitores a diminuir o nĂșmero de idas ao banheiro para ajudar o meio ambiente.

Os signos, como se vĂȘ, servem a propĂłsitos diversos, mas principalmente para endossar ataques verbais.

Em 2022, mal a campanha começou e seus apoiadores resolveram levar essa escatologia linguística ao palanque –não do presidente, mas dos adversários.

A ideia Ă© enfezar os declarados inimigos no sentido literal. A expressĂŁo, sinĂŽnimo de manifestar raiva, significa tambĂ©m cobrir-se de “fezes”.

Em menos de um mĂȘs, dois atos de campanha que reuniram apoiadores do ex-presidente Lula foram atacados por bolsonaristas enfezados no sentido simbĂłlico e (quase) literal.

Em Minas Gerais, um fĂŁ do presidente pagou dois amigos para ajudĂĄ-lo a lançar, com um drone, uma substĂąncia sobre participantes de um comĂ­cio com o petista que tinha o cheiro e a aparĂȘncia de fezes e urina.

O suspeito de operar a aeronave é um homem com passagem pela polícia por roubo e estelionato detido agora por porte ilegal de arma. Até onde se sabe, o líquido lançado sobre a multidão era um veneno usado em eståbulos para espantar mosquitos.

Dias depois, em outro ato, este no centro do Rio de Janeiro, um homem de 55 anos foi detido apĂłs arremessar uma garrafa de plĂĄstico com um explosivo contra apoiadores do ex-presidente.

Dentro do recipiente de plĂĄstico havia um lĂ­quido marrom que os alvos logo identificaram como fezes. (A assessoria de Lula minimizou o episĂłdio e negou que houvesse cocĂŽ na garrafa).

No mesmo dia, o carro do juiz responsåvel por ordenar a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro foi vandalizado com fezes e ovos. Não é preciso investigar muito para entender a revolta dos autores ou descobrir quem é seu candidato em outubro.

Os casos se avolumam e tĂȘm um propĂłsito claro: intimidar todos os que estiverem no caminho da seita.

No caso dos atos de campanha, a estratégia visa desmobilizar quem ousa sair de casa para demonstrar apoio a qualquer candidato que não seja o seu Mito. Como se dissessem: "é melhor evitar a rua se não quiser voltar para casa cheirando cocÎ".

A trollagem é um passo a mais na fronteira mal delimitada dos ataques coordenados e tomados por expressÔes escatológicas que começam, mas não terminam, nas redes sociais.

O argumento da “livre expressĂŁo” pisoteia um campo perigoso entre a sujeira que constrange e a agressĂŁo que fere e pode matar. NĂŁo Ă© este um atentado ao direito de ir, vir e apoiar quem o eleitor quiser?

No campo da psicologia, hĂĄ um territĂłrio fĂ©rtil para entender a relação entre pessoas reprimidas desde a infĂąncia e o lĂ©xico de signos escatolĂłgicos levados Ă  vida adulta. É bom desconfiar de quem ri atĂ© engasgar quando ouve as palavras "cocĂŽ", "xixi" e "pum".

O humor infantil, depois dos dois anos de idade, quando a criança passa a ver graça nos sons e cheiros produzidos pelo próprio corpo, pode ser sintoma de um adulto infantilóide que ainda age para chocar outros adultos.

Bolsonaro Ă© um sexagenĂĄrio que pensa com a cabeça de uma criança ainda presa nos conflitos da fase inicial da vida. Em vez de terapia, resolveu elaborar os traumas exercendo o poder da PresidĂȘncia. Óbvio que nĂŁo ia cheirar bem.

A multidĂŁo que o acompanha decidiu levar esse lĂ©xico a outros termos na tentativa de marcar um territĂłrio jĂĄ suficientemente violentado. A morte de um militante petista, no Ășltimo fim de semana, Ă© o estĂĄgio mais avançado dessa onda de agressĂ”es.

Simulado ou nĂŁo, o "cocĂŽ" arremessado criminosamente contra oponentes virou arma polĂ­tica e nĂŁo deve sair tĂŁo cedo do palanque transformado em privada.

Não até que o ídolo da turma diga claramente que condena, como um adulto, esse tipo de manifestação de apoio.

O mais provĂĄvel Ă© que o beneficiĂĄrio e maior incentivador do caos esteja, uma hora dessas, com as cuecas sujas e frouxas de tanto rir.

Quem aguarda um sinal de distensĂŁo pode esperar no vaso sentado.

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