Conheça Ju Ferraz, a RP por trás dos eventos mais concorridos do país, que milita por um mundo corporativo melhor para as mulheres

“Na dor, a gente ganha músculos”. A frase, dita mais de três vezes pela business woman Juliana Ferraz, ou apenas Ju, durante esta entrevista, de quase duas horas, é uma síntese de sua história de vida. A baiana de 42 anos, sócia da empresa Holding Clube e nome por trás de produções e eventos concorridos como a de um famoso camarote do carnaval carioca, do Rock in Rio e do festival Lollapalooza, vem escrevendo uma trajetória repleta de sucessos. Não sem antes encarar, quase que diariamente, opressões e preconceitos, por ser uma mulher fora dos padrões.

“O corpo livre é uma das minhas maiores bandeiras. Certa vez, na apresentação de um projeto de um grande evento após a pandemia, um executivo olhava o tempo todo para a minha barriga, como se eu fosse um monstro. Enfrentar o machismo e a gordofobia em um mercado tóxico como o corporativo é um ato de resistência”, conta. Por tamanha dedicação ao trabalho, também não escapou de um burnout há quatro anos.

"Trabalhava em uma empresa de cenografia, um ambiente supermachista, e fui afastada por 43 dias. Tinha duas escolhas: seguir o padrão e pifar, ou recomeçar a minha vida”, relembra. Obstinada e um tanto obcecada com a profissão, chegou a fazer jornadas extenuantes de 18 horas diárias. “Hoje eu ainda trabalho muito, a diferença é a forma como enxergo meu ofício. Faço respiros e pausas entre um projeto e outro”, garante Juliana. Tanta intensidade também é a marca de alguém que viveu, ainda na adolescência, uma tragédia pessoal. Nascida em Salvador, em uma família importante vinda da cultura do cacau, presenciou não só a falência da empresa de seu pai, Ivan, em meados dos anos 1990, como também a morte dele, aos 52 anos. “Meu pai entrou em uma depressão profunda e eu tinha medo de que ele pudesse tirar a própria vida. Mas Deus e os orixás o levaram da forma mais absurda possível”, relembra.

Segundo ela, Ivan dirigia em uma estrada no interior da Bahia quando o veículo quebrou e, ao descer para verificar o que havia acontecido, acabou sendo atropelado pelo próprio automóvel, que sofreu uma colisão com outro carro na pista. “Não tive condições de ir ao enterro, mas vi meu pai morto na TV, no noticiário.” Além de lidar com o luto, a empresária também sofreu uma queda brusca em seu padrão de vida. A mãe, Luiza Ferraz, que até então era apenas dona de casa, precisou voltar ao trabalho como dentista para sustentar Juliana e o irmão, Lucas. “Por um lado, o falecimento de Ivan foi terrível mas, hoje, nós três sabemos o que somos. Conseguimos seguir em frente. Como mãe, entendo que a vida é feita de fases, e acho que a Ju está na melhor delas: bonita, consciente e dedicada às pessoas”, diz Luiza.

Outro revés da dor foi uma compulsão alimentar. Juliana, que começou a trabalhar muito cedo, encontrou conforto na comida e, ao engordar, ganhou o apelido de Ju Bola. “Se eu chegar em Salvador agora, é capaz de alguém ainda me chamar assim. Era difícil não ter o corpo perfeito em uma cidade praiana. Virei uma menina gorda com a morte do meu pai”, conta.

Ser gorda fez com que Ju Ferraz também vivesse relações amorosas tóxicas. Um episódio marcante aconteceu quando ela tinha 17 anos. “Meu primeiro namorado dizia que me amava, mas ia ao shopping comigo e não queria me dar a mão, porque tinha vergonha”. Anos mais tarde, aos 23, quando ainda estava na faculdade de Jornalismo, engravidou de outro namorado, que depois foi seu primeiro marido, e teve um filho, Matheus, hoje com 18 anos.

“Costumo dizer que era uma criança cuidando de outra. O nascimento dele foi uma mola propulsora para eu me desenvolver profissionalmente”, fala. Casada há sete anos com o publicitário Bruno Garms, Ju afirma ter, finalmente, encontrado o parceiro ideal. “Bruno me bota pra cima, me ama incondicionalmente e dá o suporte de que eu preciso.” Para equilibrar-se diante de tantas dificuldades, apoiou-se em mulheres fortes da família. Além da mãe e da avó, Julita, outra figura foi fundamental: a diretora e empresária Monique Gardenberg, prima de sua mãe, a quem Ju considera “uma tia”. “Ela era a pessoa que eu queria ser. Organizou vários festivais, shows, foi empresária da Marina Lima. Quando tudo estava ruim, eu falava: ‘Vou fazer o que ela faz e vai dar certo’”, conta.

Ao mudar-se para São Paulo com o ex-marido e pai de Matheus quando ele tinha apenas três meses, a empresária relata ter sofrido bullying por ser baiana e pelas roupas que usava. Monique, então, decidiu presenteá-la com um guarda-roupa novo, como forma de apoio. “Juliana tem visão, é determinada e obsessiva, atributos fundamentais para conseguir o que se quer. Passou por momentos muito difíceis, o que a tornou uma mulher guerreira e generosa”, diz Monique. Já adaptada à capital paulista, Ju fez amizades e relacionamentos profissionais com famosas como a apresentadora Sabrina Sato.

“Ela é uma mulher inspiradora, à frente do seu tempo e determinada em mudar nossa realidade e a das próximas gerações com sua voz poderosa”, elogia Sabrina. Batalhar não só por um mundo corporativo menos opressor e perverso para as mulheres, mas também oferecer uma rede de apoio ao falar sobre aceitação, amor-próprio e bem-estar é um dos maiores desejos da empresária. Por isso, ela é a organizadora do evento B.O.D.Y, que traz debates sobre os temas e ainda no segundo semestre será realizado no Rio de Janeiro. E como uma boa aquariana que adora se comunicar, lança, ainda em 2023, um livro sobre a sua vida.

“Meu maior arrependimento foi ter tratado, por muito tempo, meu trabalho como a única coisa importante. Mas, ao mesmo tempo, meu maior acerto foi ter tido cuidado com minhas relações e me encontrado comigo mesma”, finaliza. Boas e inspiradoras histórias, com certeza, não faltarão.