Conheça o trabalho Sandra Cattaneo Adorno, brasileira radicada nos EUA que começou a fotografar aos 60 anos
Nascida no Brasil e radicada nos Estados Unidos, a fotógrafa carioca Sandra Cattaneo Adorno assumiu o ofício de imprimir o visível em 2013, aos 60 anos. Seu trabalho, tal qual a Madeleine de Marcel Proust, é capaz de descortinar suas memórias de criança: “Nasci e passei minha infância em Ipanema, mas parti muito jovem para estudar no exterior”, conta ela, formada em História e Economia na Universidade do Sul da Califórnia, em Los Angeles.
As imagens que compõem o ensaio destas páginas fazem parte do projeto “Águas de Ouro”, em que Sandra faz uso de técnica experimental de impressão à base de tinta metálica. Nessas imagens, a fotógrafa propõe um diálogo imaginário-imagético com sua infância. “O objetivo é explorar minhas memórias de infância das praias do Rio. Curioso notar que Ipanema está diferente de quando eu era criança: é muito mais diversificada e mais interessante”, conta ela, que costuma visitar o Brasil pelo menos uma vez por ano.
A diversidade sociocultural encontrada nas areias escaldantes atraiu o olhar da fotógrafa: “Hoje temos cariocas vindos de todas as partes da cidade. Essas pessoas criam uma energia muito mais poderosa e interessante. Há mais gente e mais ação.”
Com a câmera, Sandra busca capturar essa energia, apresentando cenas de movimentos da vida cotidiana, pessoas comuns sendo felizes, recortadas por silhuetas, em contrastes marcados pela luz dourada do fim de tarde. “Quando fotografo em Ipanema, tento me aproximar dos banhistas, e às vezes eu deito e acabo dentro d’água. Em muitos aspectos, eu realmente me sinto criança de novo”
Sucesso no Instagram, com mais de 70 mil seguidores, a carioca acredita que a fotografia tem um poder mágico, o de levar o espectador a um outro lugar. As conexões da rede propiciaram à fotógrafa o reconhecimento em que se destacam dois prêmios Julia Margaret Cameron, em 2020 e 2021, e uma exposição individual na Bienal de Veneza em 2022. “Acredito que nossas experiências e memórias moldam a maneira como vemos, e a fotografia é uma bela maneira de nos reconectarmos com nós mesmos. Sempre me intriga o quanto em nós pode ser despertado em uma fração de segundo e de forma tão inconsciente quando fotografamos.”