Com milhões de torcedores espalhados pelo país, e até mesmo no exterior, os principais times de futebol brasileiros encontraram nova fonte para o caixa: serviços financeiros. Clubes como Flamengo, Corinthians, Palmeiras, Atlético Mineiro e Ceará não são bancos, mas oferecem aos seus torcedores de conta digital a investimentos e seguros, incluindo cobiçados cartões customizados com o escudo do time do coração do cliente.

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Eles embarcaram numa tendência que começou no varejo e se chama Bank as a Service (na sigla em inglês BaaS), a oferta de serviços por uma organização que não é banco, mas que tem uma instituição financeira por trás.

Os clubes buscam também engajar seus fãs com descontos em produtos e ingressos de partidas e shows no estádio ou experiências únicas, como encontrar o craque do time, explica Bruno Diniz, da consultoria de inovação Spiralem.

Ele lembra que, no exterior, times usam fan tokens e NFTs, ativos digitais que dão ao torcedor direito a benefícios, movimento que ganha corpo no Brasil agora:

— Clubes transformam a paixão pelo esporte numa base de consumidores fidelizada, mais uma fonte de receita.

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Um dos últimos a entrar no ramo foi o Palmeiras. Em janeiro, lançou o Palmeiras Pay, plataforma criada em parceria com Pefisa (fintech e braço financeiro do grupo Pernambucanas), Elo e Allianz Seguros.

Quem adere tem direito a conta digital com rendimento de 100% do CDI e serviços como recarga de celular, pagamento de boletos, Pix, transferências gratuitas para todos os bancos e saques em caixas eletrônicos. E se conecta à loja Palmeiras Store, com descontos em compras on-line e gratuidade de até seis meses no programa de sócio-torcedor Avanti. São mais de 60 mil contas já abertas em pouco mais de um mês.

— Abri a conta assim que o programa foi lançado, interessada tanto nos benefícios em ingressos quanto nos shows do Allianz Park — diz a pesquisadora Luana Varela, de 35 anos, torcedora do Palmeiras.

Fla criou banco digital

O Flamengo firmou, em 2020, parceria com o Banco de Brasília para criar o banco digital Nação BRB FLA, que já tem mais de 3,3 milhões de contas, sendo 92% no Brasil. O restante é de flamenguistas que vivem em 39 países, atraídos pela facilidade de abrir a conta digital gratuita pelo aplicativo, onde também são feitas as operações.

No portfólio, há também cartões de débito e de crédito sem anuidade com layouts exclusivos para rubro-negros, seguros e títulos de capitalização.

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Em parceria com a Genial Investimentos, o torcedor do Flamengo também tem acesso a aplicações financeiras. Pontos acumulados nos cartões dão cashback em compras.

A conta dá acesso a uma sala VIP no Aeroporto de Brasília e a um coworking (espaço de trabalho compartilhado) no Santos Dumont, no Rio, e em Congonhas, em São Paulo.

Os times não informam quanto lucram com isso, mas os que mergulharam no ramo são justamente os que mais faturam no país, segundo levantamento da plataforma de marketing esportivo Sport Value nos balanços de 2021. O Flamengo arrecadou R$1,08 bilhão, seguido de Palmeiras (R$ 910 milhões), Atlético-MG (R$ 757 milhões) e Corinthians(R$ 502 milhões).

O avanço da digitalização dos serviços bancários é o que viabiliza o novo modelo de negócios. Os clubes nem precisam montar plataformas digitais ou buscar licenças no Banco Central. Fazem parcerias com bancos ou fintechs, como são chamadas as startups financeiras, que oferecem toda a infraestrutura e licenças regulatórias. O time entra com o torcedor, fisgado pela paixão.

A Pomelo, startup fundada em 2021 que opera em países como Argentina, Brasil, Colômbia, México e Peru, é especializada em infraestrutura para contas digitais e emissão de cartões para empresas interessadas em ter serviços financeiros.

Já atendia varejistas e empresas do agro e de criptoativos quando recebeu, recentemente, a primeira encomenda do mundo do futebol: criar um cartão de crédito para um time europeu e uma carteira digital para um brasileiro, cujos nomes não revela.

— Os clubes estão interessados em se conectar mais com torcedores, conhecê-los melhor, mas só têm sites, não aplicativos. Com as novas tecnologias, isso está se tornando possível, e a tendência é crescer — diz John Paz, chefe das operações da Pomelo no Brasil.

O Internacional é um dos clubes que ainda não lançaram serviços financeiros, mas já perceberam que podem ganhar com o relacionamento digital com torcedores.

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O clube gaúcho criou a plataforma Mundo Colorado, que oferece aos apoiadores cupons com descontos em produtos do Inter ou de parceiros e abatimento na mensalidade de sócio.

— Para essa oferta de serviços, é necessário que os clubes se profissionalizem cada vez mais. Se entregar um bom serviço, é natural que o torcedor prefira a marca do seu clube em vez da de outra empresa — diz Fábio Wolff, especialista em marketing esportivo e sócio-diretor da Wolff Sports.

Desde 2019, times como Corinthians, Vasco e Atlético Mineiro oferecem contas digitais em parceria com o banco BMG, sem taxas. O Ceará fez parceria similar em 2022.

A conta oferece cartão de crédito e débito internacional personalizados nas cores dos clubes, saques na rede Banco 24Horas, crédito consignado, transferências gratuitas e opções de investimento. Os torcedores também participam de sorteios de camisas oficiais (inclusive autografadas), visitas a centros de treinamento e ingressos para jogos.

Orgulho no bolso

O casamento de Samuel Nogueira, de 24 anos, e Larissa Nogueira, de 26, tem em comum o amor pelo Corinthians e contas digitais do time. Samuel sempre foi correntista de bancos tradicionais, mas aderiu à conta do clube no BMG logo que foi lançada. Já ganhou muitos mimos por fazer compras com o cartão personalizado do “timão”:

— Já vi jogos no camarote e faço questão de mostrar meu cartão com o escudo do time.

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O BMG tem parceria regional até com o Barcelona. Clientes do banco brasileiro podem pedir cartão do time espanhol.

— Em 2022, o BMG levou dois clientes escolhidos numa promoção, com acompanhantes, para Barcelona, em uma viagem de cinco dias. Conheceram o centro de treinamento e o museu e assistiram no Camp Nou Barcelona x Celta — diz Sandoval Martins, vice-presidente de Digital, Marketing e Comercial do BMG.

Veja quem já converteu fãs em clientes

Flamengo

Com 42,6 milhões de torcedores, segundo o IBGE, o time já abriu 3,3 milhões de contas digitais.

Corinthians

O mais popular de SP, com quase 30 milhões de fãs, tem 660 mil contas digitais com o BMG.

Vasco da Gama

Com 8,5 milhões de vascaínos no país, o clube de São Januário tem 280 mil cartões com seu escudo.

Atlético-MG

O Galo tem 4,2 milhões de apaixonados. A popularidade já rendeu 200 mil clientes bancários.

Palmeiras

Mais novo nas finanças digitais, o Palmeiras já abriu 60 mil contas entre 12,7 milhões de apoiadores.

Internacional

O Inter ainda não tem serviços bancários, mas atrai torcedores para plataforma com descontos.