Copa: Delator de situação de trabalhadores no Catar foi torturado, diz família
Abdullah Ibahis, um jordaniano que trabalhou nas obras da Copa do Mundo no Catar, teria sido torturado na prisão pouca antes do início da competição, segundo a família dele. Preso desde 2019, o homem cumpre pena de três anos de prisão, após ser condenado em dezembro do ano passado. Ele denunciou o tratamento dado pelo país aos trabalhadores, em especial imigrantes, que trabalhavam em obras da Copa.
Hoje a organização de direitos humanos FairSquare divulgou uma carta da família de Ibahis, que afirma que ele foi torturado recentemente e colocado em confinamento durante quatro dias em uma cela com apenas um buraco no chão para ser usado como banheiro. O ambiente ainda teria sido refrigerado ininterruptamente por um ar-condicionado, para que Ibahis passasse frio durante o tempo todo.
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A prisão, segundo o governo do Catar, se deu por fraude em um contrato para produzir conteúdo sobre a Copa para redes sociais. Abdullah Ibahis, que é gerente de mídias sociais, diz ter contatado a FIFA para realizar denúncias sobre as condições de trabalho, mas após troca de mensagens inicial, passou a ser ignorado pela organização.
A FairSquare agora pede a ONU ajuda para que Abdullah seja libertado da prisão, alegando que ele foi obrigado a confessar o crime e não teve direito a um julgamento justo, e que as alegações contra ele são mentirosas. Na carta a família de Ibahis critica o silêncio da FIFA a respeito da situação.
ENTENDA O CASO
Em 2019 Abdullah Ibahis participou da realização de um documentário sobre as obras da Copa do Mundo, na qual denunciou que o Comitê Organizador da Copa pretendia negar que trabalhadores estariam entrando em greve por conta das condições de trabalho impostas. Ibahis afirmou à equipe do documentário que encontrou entre 200 e 300 trabalhadores no Estádio Cidade da Educação trabalhando sem acesso à agua potável, e que os mesmos trabalhadores estavam há quatro meses sem receber salário.
No Catar, imigrantes só podem residir e trabalhar no país caso tenham uma carta de recomendação de um catari nativo. Isso impede imigrantes de reclamarem em caso de não pagamento de salários ou outros maus-tratos sofridos. O Catar tem uma população de 2,6 milhões de pessoas, das quais cerca de 2,3 são imigrantes.