Crítica: 'Creed III', Michael B. Jordan dá aura esotérica ao boxe em sua estreia na direção

Quem poderia prever que “Creed”, spin off da longeva série de filmes “Rocky”, se tornaria também uma franquia de sucesso? Depois de dois bons longas, “Creed III” chega cercado de expectativas por ser o projeto com que o ator Michael B. Jordan escolheu estrear na direção, além de marcar a primeira vez sem a presença de Sylvester Stallone (foi só produtor). Jordan faz uma bela estreia, com direção segura em que suas escolhas na decupagem tornam ainda melhor o roteiro escrito por Keenan Coogler e Zach Baylin, a partir de história de Keenan e Ryan Coogler (responsável pela franquia “Pantera Negra”).

A trama mostra que Adonis Creed (Michael B. Jordan) conseguiu seu pote de ouro ao se tornar um sucesso dentro e fora dos ringues. Mas seu pesado passado retorna quando ele reencontra Damian (Jonathan Majors), amigo de infância e ex-prodígio do boxe. Damian não teve a sua tão sonhada chance no esporte porque foi preso por se envolver em uma briga de Adonis. Por estar armado, Damian foi condenado a uma longa sentença na prisão. Adonis se sente responsável pelo amigo e tenta ajudá-lo, mas os dois acabam se estranhando, o que irá resultar numa luta sem precedentes.

“Creed III” tem todos os clichês dos filmes de boxe: provocação entre os desafiantes, frases de efeito, treinamentos exaustivos e cenas de luta tensas e eletrizantes. No entanto, como dizia o mestre Alfred Hitchcock, “o problema não é o clichê, mas saber usá-los”. Ainda assim, a equipe por trás de “Creed III” acerta, mas muito pelas escolhas de Michael B. Jordan ao dar uma aura esotérica ao combate.

Quentin Tarantino já disse: “As pessoas vêm até mim e falam: 'Você escreve ótimos diálogos', e me sinto uma fraude por receber o crédito por isso. São os personagens que escrevem o diálogo” - e essa máxima caracteriza muito do bom resultado de “Creed III”, calcado na performance magnética de Jonathan Majors e Michael B. Jordan. A dupla é responsável por fazer a narrativa fluir, entre o personagem de Jordan com sentimento de culpa e Majors com uma fúria descontrolada. A diferença deste para os filmes anteriores é justamente tal embate entre os dois, algo que já foi explorado nas franquias “Rocky” e “Creed”, mas sem igual nível de excelência.