Demência: remédio barato para diabetes pode reduzir pela metade o risco da doença

Não é novidade que o diabetes tipo 2 é um fator de risco para demência. Evidências mostram que a doença dobra o risco da degeneração cerebral progressiva. Por outro lado, um novo estudo, publicado na revista científica Neurology, indica que a pioglitazona, medicamento comum e barato usado no tratamento do diabetes, pode reduzir o risco de demência pela metade.

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Pesquisadores da Universidade Yonsei em Seul, na Coreia do Sul, analisaram um grupo de 91.218 pessoas recém-diagnosticadas com diabetes tipo 2 que não tinham demência, incluindo 3.467 que receberam pioglitazona. Após um acompanhamento médio de 10 anos, a equipe descobriu que cerca de 8% das pessoas que tomavam o medicamento desenvolveram demência, em comparação com 10% daqueles que não tomavam esse remédio específico.

Depois de controlar outros fatores que poderiam afetar os riscos de demência, como pressão alta, tabagismo e atividade física, os autores relataram que as pessoas que tomavam pioglitazona tinham um risco 16% menor de desenvolver demência. Entre aqueles com história de doença cardíaca isquêmica ou acidente vascular cerebral, a probabilidade de desenvolver a condição foi reduzida em 54% e 43%, respectivamente.

Os pesquisadores também relataram que, geralmente, quanto mais tempo as pessoas tomavam pioglitazona, mais forte parecia ser a redução do risco de demência. Além disso, pacientes que tomaram pioglitazona também foram menos propensos a sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) durante o período do estudo.

“Como a demência se desenvolve por anos antes do diagnóstico, pode haver uma oportunidade de intervir antes que progrida. Esses resultados podem sugerir que poderíamos usar uma abordagem personalizada para prevenir a demência em pessoas com diabetes, caso tenham histórico de doença cardíaca isquêmica ou derrame”, disse o autor do estudo Eosu Kim, da Universidade Yonsei em Seul, em um comunicado à imprensa.

A pioglitazona pertence a uma classe de medicamentos chamados tiazolidinedionas que reduzem os níveis de açúcar no sangue entre pessoas com diabete, abordando a resistência à insulina. Embora o estudo não tenha avaliado os possíveis mecanismos por trás desse benefício, existem algumas hipóteses.

Os pesquisadores explicam que controlar os níveis de açúcar no sangue, por exemplo, é benéfico para as funções cerebrais. Essa droga melhora a capacidade metabólica das células e as faz usar a bioenergia de forma mais eficiente, ou seja, melhora a resistência à insulina do cérebro.

Além disso, alguns estudos mostraram que a pioglitazona elimina proteínas tóxicas chamadas beta-amilóide do cérebro, cujo acúmulo é uma das principais causas da doença de Alzheimer - o tipo mais comum de demência.

Em terceiro lugar, como o efeito benéfico do medicamento na redução do risco de demência foi mais significativo em pessoas com problemas de circulação sanguínea, os pesquisadores especulam que a a ação antidemência da pioglitazona pode estar relacionada à melhora da saúde dos vasos sanguíneos.

Vale ressaltar que como o estudo foi apenas observacional, não é possível comprovar que a pioglitazona está realmente levando ao risco reduzido de demência em pessoas com diabetes.

“Precisamos de grandes ensaios clínicos randomizados na população certa para avaliar o verdadeiro benefício”, diz Zhou.