Deputado petista chama ocupação indígena de 'barbaridade' e é rebatido por secretário de Lula: 'Lamentável'
As declarações do deputado estadual e ex-governador do Mato Grosso do Sul Zeca do PT — ele chamou de "barbaridade" a ocupação por indígenas de uma fazenda na cidade de Rio Brilhante — vêm gerando uma onda de repúdio. Além de entidades indígenas, o secretário-executivo do Ministério dos Povos Indígenas, Eloy Terena, também criticou o posicionamento do parlamentar.
"Lamentável o pronunciamento do deputado Zeca do PT na Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul ao questionar a revindicação legítima dos Guarani e Kaiowá ao seu território tradicional. Laranjeira Nhanderu é terra indígena, possui estudo antropológico e é espaço essencial para sobrevivência física e cultural dos GK", escreveu Terena, nascido em uma comunidade indígena em Aquidauana, também no Mato Grosso do Sul.
Na última quinta-feira, na tribuna da Assembleia Legislativa, Zeca do PT criticou a demarcação territorial que acoplou a propriedade de José Raul das Neves Júnior, um dos dirigentes petistas no estado.
— É uma barbaridade o que estão fazendo com os donos da propriedade. Sem nenhum estudo antropológico definido, para dizer que é propriedade tradicional indígena, dois ônibus foram derramados lá, trancando e proibindo 7 mil sacas de soja de serem comercializadas. Na minha ida a Brasília semana passada, fiz questão de dizer da preocupação. É uma vergonha. Quero, nesta Casa, me manifestar também. Não contem comigo essa gente que, sem nenhuma razão, invade terra produtiva, correndo risco desnecessário. O presidente Lula não concorda com isso. Ele já disse que quer fazer assentamento comprando propriedades e não apoiando invasões — discursou.
O parlamentar se referiu à ocupação que ocorreu no último dia 3 na Fazenda Inho por parte de famílias Guarani e Kaiowá, que reivindicam a demarcação do território, sob o argumento de que a terra faria parte da Terra Indígena Laranjeira Nhanderu (Brilhantepeguá). Há estudos em curso que ainda não foram concluídos.
Em notas de repúdio, entidades indígenas também se posicionaram. O Conselho do Povo Terena exigiu a retratação por parte do partido: "Em seus mais de 30 anos de carreira política, o deputado sabe como esses são responsáveis, indiretamente, pelo genocídio e situação precária que vivem os 70 mil indígenas do Mato Grosso do Sul. Solicitamos imediata reparação do deputado frente às inverdades e insultos proferidos, bem como manifestação urgente do Partido dos Trabalhadores (PT) e sua bancada estadual e federal no MS", diz um trecho do texto.
Já a Assembleia Geral do povo Guarani Kaiowá, denominada Aty Guasu, pediu para que apoiadores traduzissem o vídeo do parlamentar para que o caso ganhasse a repercussão internacional. "O povo Guarani e Kaiowá, ainda lutamos pela garantia do respeito e dignidade da vida humana que são violados diariamente pelo Estado, como por exemplo agora, em seu lamentável posicionamento", afirma a entidade.