Desmatamento recorde em fevereiro? Entenda por que queda dos números pode demorar a aparecer

AFP/Carl de Souza

A revelação de que o último mês de fevereiro foi o que mais registrou alertas de desmatamento da Amazônia desde 2015 agitou os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro – afinal, os números negativos ocorrem no segundo mês do novo governo, que prometeu zerar a devastação da floresta até o fim desta década. Entretanto, especialistas no tema advertem que os resultados do novo plano para combater o problema podem demorar meses, ou até anos, para aparecer.

Conforme os dados do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), alertas de desmatamento foram verificados em 322 km² da Amazônia, número 62% superior ao recorde anterior, de 2022 (198 km²). Ao comentar os números, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima ressaltou que, neste período do ano, "há grande concentração de nuvens” na região, o que dificulta a visualização dos satélites ópticos que identificam a queda da cobertura florestal.

O período de chuvas na Amazônia ocorre de novembro a abril. Uma hipótese para explicar o elevado número de alertas de devastação em fevereiro é que, na realidade, a derrubada de árvores tenha ocorrido antes, em janeiro ou dezembro, porém só tenha sido possível identificá-la agora. O fato de o Deter ter verificado um índice muito mais baixo de alertas de desmatamento em janeiro, em 166 km², corrobora essa tese.

Calendário do desmatamento

Rômulo Batista, porta-voz do Greenpeace Brasil, salienta que, no balanço do ano comparado com o mesmo período de 2022, houve uma queda de 22%. Para ele, o desempenho do atual governo só poderá ser avaliado a partir do segundo semestre, uma vez que os índices anuais são medidos de agosto a julho.


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