"Deveria bastar dizer que sou mulher", diz Isabelle Nassar, apontada como trans
Em entrevista ao Yahoo, a atriz de "Travessia" reflete sobre impacto de seu primeiro papel na TV
Resumo da Notícia:
Isabelle Nassar questiona padrões de feminilidade ao ser associada a transsexualidade
Em entrevista ao Yahoo, atriz de "Travessia" reflete sobre impacto de seu primeiro papel na TV
Artista ainda pontua o reflexo da realidade de outras mulheres na tela
Com o espetáculo "Grande Sertão Veredas" no currículo teatral e uma participação na segunda temporada de "Bom Dia, Verônica", Isabelle Nassar estreou na TV em grande estilo, numa novela das nove de Gloria Perez. Como Sarah em "Travessia", a atriz vive a melhor amiga de Debora (Grazi Massafera) no primeiro capítulo e retorna à trama para resgatar um filho perdido da mulher falecida, que, na verdade, se trata de Chiara (Jade Picon).
Em entrevista ao Yahoo, Isabelle abre o coração sobre as expectativas com a personagem e as repercussões acerca de sua atuação. Ela define Sarah como uma mulher empoderada, que trabalha, fez sua vida profissional bem-sucedida no exterior, tem sede de justiça e vai atrás dos objetivos. "É um reflexo de nós, mulher contemporânea, que luta, que vai atrás, que corre, não aceita meias verdades. A inspiração são as mulheres que fazem acontecer, de Medeia a Simone de Beauvoir", declara.
Trans?
O detalhe é que a atriz é frequentemente associada à transsexualidade nas buscas da internet. Embora esteja dentro do padrão de beleza marcado por pele branca e corpo magro, ela tem lidado com julgamentos definidos por questões de gênero. Para Isabelle, enquanto cisgênero, é uma oportunidade de discutir sobre os padrões voltado para uma mulher. "De alguma forma, eu coloco em cheque o que é um padrão apesar de ser um padrão. Muito doido, porque eu sou uma mulher cis, hetero, loira, alta. A gente ainda está muito preso a o que é ser uma mulher, seja cis ou trans", reflete.
Acho que deveria bastar dizer que eu sou uma mulher. Não deveria ter que justificar meu gênero, se sou trans ou cis"Isabelle Nassar
Qual o padrão de feminilidade?
A repercussão inusitada faz Isabelle refletir sobre o conceito de feminino, além do fato das mulheres serem muito mais questionadas em relação a aparência do que os homens. "Me faz pensar sobre o que é estereótipo. Como a gente ainda cumpre dentro do patriarcado, uma ‘escalação’ do que é performar um feminino. O que se espera de uma mulher cis? Ela tem que ser mais baixa que o homem? Tem que ter voz mais fina? Traços mais harmônicos? O que é essa harmonia também, se não é uma construção dentro de um padrão social. Então, quer dizer que meus traços não são harmônicos?",
Versatilidade além dos padrões
Se, por um lado, a aparência que foge do padrão "harmônico" esperado gera curiosidade, por outro, amplia as possibilidade de Isabelle no âmbito artístico. "Encaro isso com muita felicidade de saber que posso ir para qualquer lugar. Como atriz, isso me dá uma linha de poder trabalhar. Com a Sara, a gente está experimentando várias coisas dentro da novela. Cenas muito arrumadas nos últimos tempos, fizemos várias cenas sem maquiagem. Foi muito legal poder mostrar uma mulher sem maquiagem, que gera também estranhamento no público", conta.
Reflexo de muitas
Isabelle ainda reforça a necessidade da desconstrução do que é ser mulher. "É um conceito, um conceito está dentro de uma norma e a norma vem de de lei e a leia é feita por quem? Homens brancos, cis e patriarcais. A gente precisa transformar esses apontamentos em liberdade", afirma.
Seja nas cenas sem maquiagem, na diferença de altura, na resistência à pressão pela validação masculina, a atriz também pontua a importância de refletir outras mulheres na tela. “Está sendo muito interessante poder falar e trocar nesses lugares. Tendo recebido uma troca muito assídua do público, de meninas que tem um rosto, corpo, altura parecida comigo. Falando que ficam felizes em me ver numa novela das nove. Eu acho que são ecos de vozes que nos perpassam. Estou muito feliz em poder fazer Sarah”, conclui.