Elenco de 'Amor perfeito' usa roupas herdadas de 'Além da ilusão' e figurino colorido; veja curiosidades

Transportando o público para as décadas de 30 e 40, “Amor perfeito”, que estreia no próximo dia 20 na Globo, vai levar para a telinha o mais nobre dos sentimentos em suas diferentes formas. Embora a trama das seis mostre o sofrimento de Marê (Camila Queiroz), afastada do filho, Marcelino (Levi Asaf), que busca pela mãe, a promessa é que os personagens tenham um olhar otimista e amoroso e que os temas sejam tratados de maneira leve. Apesar de a história ser de época, as roupas dos personagens serão bem coloridas. A missão das figurinistas Dani Garcia e Karla Monteiro, no entanto, foi árdua por conta de uma técnica usada para gravar a novela, que é uma das curiosidades da produção.

— Os trabalhos de época que eu já fiz e que a gente comumente vê têm menos cor. Nesse, a gente tem uma narrativa colorida o tempo inteiro, com uma técnica diferente, que é o technicolor. Acho que “Nos tempos do Imperador” (2021) usou esse recurso também. Mas tinha uma história com pouca cor. Vocês vão reparar quando a novela estrear. É tipo uma fotografia com uma cara de antiga. Parece que tem um borradinho na imagem — entrega Karla.

A técnica citada pela figurinista dá um efeito de época às cenas, mas acaba mudando o que será visto pelo público na pós-produção. Elas contam que, com o technicolor, algumas cores mudam muito. O verde vira azul, vermelhos e outros tons quentes viram vinho, por exemplo. Por isso, a equipe de figurino teve um intenso trabalho para imprimir as cores que queriam na telinha.

— É difícil colorir com uma câmera que tira a cor. O que se vê laranja na TV, na verdade, é neon. Nos bastidores, a cor é sempre muito mais forte — completa ela, que dá outro exemplo: — No primeiro capítulo, tem uma cena bem séria em que Marê está contando para o pai, Leonel (Paulo Gorgulho), que não quer o noivado, que está apaixonada por outro. A gente escolheu um vestido roxo, que tem bolas amarelas, vermelhas, rosas... Ele é animado e divertido. Só que o que vocês vão assistir é um marrom com apenas um leve toque de cor.

Acervo de ‘Além da ilusão’

Além de prestar atenção às cores, o público pode reparar em diversos detalhes nos figurinos inspirados nos anos 30 e 40. Quem é fã de novela de época talvez até lembre de alguma roupa usada em outra produção, já que grande parte dos itens vem do acervo dos Estúdios Globo.

— Nossa herança veio principalmente de “Além da ilusão” (trama que foi ao ar antes de “Mar do sertão”, que será substituída por “Amor perfeito”). É a última novela de uma época parecida, que já tinha herdado peças de outros três projetos desses anos. Também tem a nossa inserção de outras peças do acervo da TV Globo, de brechó, de loja contemporânea. Tem de tudo um pouco e essa construção vai acontecendo até o fim das gravações — detalha Dani.

Karla completa:

— Temos a missão do reuso. É repensar, rebordar, tingir. Claro que ajuda numa parte orçamentária, mas também é um pensamento para o mundo em geral. Não é um figurino descartado, é uma herança preciosa.

Dezenove trocas de roupa só na estreia

Após as peças passarem pelas mãos das costureiras, tudo ganha uma nova pegada. As figurinistas contam, por exemplo, como foi feita a roupa que Camila usa na primeira foto desta matéria. Só no primeiro capítulo, a personagem troca 19 vezes de roupa.

— Essa é a roupa que ela usa quando volta de São Paulo (onde foi estudar) para Minas Gerais. Foi toda produzida nos Estúdios Globo. A saia tem um tecido de tapeçaria e a parte de cima são duas blusas cortadas ao meio. O bordado em 3D é uma base com misturas de crochê, miçangas, linhas e outras coisinhas já prontas que a gente achou em loja de aviamento — conta Karla.

Ousadia e alegria

Os figurinos da vilã Gilda (Mariana Ximenes) também merecem atenção, já que são deslumbrantes. Enquanto o restante dos personagens aposta no colorido, ela é mais monocromática.

— A paleta dela é com pretos e brancos, com uma cor isolada. A partir dos anos 20, você tem nas roupas da noite, peças mais desnudas, com decotão, drapeado, pele à mostra. Era muito normal — diz Dani.

Karla ressalta que, apesar de os costumes da época serem diferentes dos de hoje em dia, as mulheres já ousavam nos looks.

— O comportamento era muito mais comedido, preconceituoso, cheio de regras que não existem mais. Houve uma mudança de cultura. Ainda bem! A gente foi evoluindo. Tem gente que acha que a época era careta num todo. Mas sempre teve muita ousadia. Cada década tem seus decotes, suas permissões, principalmente na moda feminina — reflete Karla.

Juliana Alves interpretará uma mulher à frente de seu tempo na história. Sua personagem, Wanda, tem uma loja chamada A Brasileira Elegante, que oferece roupas femininas modernas, como tops, calças compridas e terninhos.

— Wanda é elegante, a porta de entrada de um mundo mais visionário naquela cidade. Ela tem as cores da novela com a confiança de quem não tem medo de errar, de propor o novo. Tem até uma pegada afro nas roupas dela — observa Dani.

Já Lucy Ramos é a responsável pelo salão de beleza do Grande Hotel Budapeste. A atriz conta que adora os cintos de Lívia, por exemplo:

— O que eu acho muito legal do figurino é que ele é muito feminino, sempre uso cintos pra marcar a cintura. Amo! A personagem também usa tecidos leves e coloridos, e um decote em V que mostra o colo. Gosto muito!

Os detalhes interessantes

A protagonista também vai ter um acessório diferente em seu armário: um cinto com uma bolsinha.

— A gente tem uma referência de Katharine Hepburn usando um cinto-bolsa desse na época. Mas esse item é muito antigo. Os medievais usavam uma bolsinha pendurada e no século 19 também era comum. É cíclico, como tudo na moda. Nos anos 40, a gente realmente não viu ninguém com isso, mas a gente achou muito legal. O acessório tem a praticidade da Marê, que é essa menina mulher que volta com uma responsabilidade de assumir uma empresa. Então, tem uma coisa de agilidade — explica Dani.

Karla brinca:

— É a versão chique da pochete! (risos) Só que essa é charmosa, né?

As figurinistas entregam quais são os outros detalhes que podem encantar o público.

— Zezé Polessa, a Cândida, tem uns broches, com besouros. Os colares são de fruta. É muito divertido o figurino dela. Tem os desenhos das gravatas também. As do prefeito (Anselmo, vivido por Paulo Betti) são as mais divertidas — opina Karla.

As responsáveis pelo figurino contam ainda que apesar de os homens todos vestirem terno, elas conseguem diferenciar a personalidade de cada um.

— Vamos variar as cores, texturas. Uns usam mais desmontado, com gravata, sem gravata... Também vamos ter roupa mais esporte. Orlando (Diogo Almeida), por exemplo, gosta de camisa de manga curta, jaqueta de couro, de brim. Vamos diferenciar os estilos — diz Dani.

Olhar diferente

As profissionais ressaltam que a novela vai trazer um olhar diferente sobre a época, com uma liberdade de diálogo com o contemporâneo, que se destaca também nos modelitos.

— Tem um pouco do contemporâneo para atrair outro tipo de público. Tem coisas de época, mais desenhadas e características... Mas hoje a gente vê peças em lojas claramente com referências dos anos 20, 30, 40. Tem roupa que minha avó usava e está em vitrine como lançamento — diverte-se Dani.

Então, que tal se inspirar nos figurinos de Marê e companhia, e dar uma de moderninha vintage por aí?