Em dois anos, número de falências de empresas cresceu 80%, diz Serasa Experian

Nos últimos dois anos, o número de empresas em dificuldades financeiras que se encaminharam para a falência saltou 80% no país entre janeiro de 2021 e o mesmo mês de 2023. No mês passado, foram 72 requerimentos registrados, segundo dados de um novo levantamento apurado pela Serasa Experian.

O aumento foi impulsionado por pedidos de empresas de médio porte, que tiveram crescimento superior a 270% no intervalo. Dos 25 requerimentos feitos em janeiro, quatro foram aceitos.

Embora o número de pedidos seja maior entre as empresas médias, são as micro e pequenas empresas que têm a maior proporção de falências decretadas. Foram 28 pedidos e 31 falências deferidas apenas em janeiro. No caso das grandes empresas, foram cinco pedidos de falência aceitos e 19 pedidos.

No início de fevereiro, a Livraria Cultura teve falência decretada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo por descumprimento do plano de recuperação judicial, que se arrasta desde 2018. Na época, as dívidas da empresa somavam cerca de R$ 285 milhões.

Por volta de duas semanas depois, a Cultura conseguiu uma liminar suspendendo a sentença e passou a estar autorizada a manter a atividade de suas duas lojas, que ficam na cidade de São Paulo e em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, além das plataformas on-line.

Outro caso recente foi o da fábrica de chocolates Pan, fundada em 1935. A empresa ficou conhecida no passado pelos cigarrinhos de chocolate havia pedido recuperação judicial em 2021, mas não conseguiu se reerguer e pediu falência à Justiça de São Paulo na semana passada.

Ainda segundo a pesquisa, os pedidos de recuperação judicial entre micro e pequenas empresas dobraram em relação ao ano passado. Dos 62 requerimentos em janeiro de 2023, 43 foram aceitos pela Justiça.

A mesma tendência aparece nos dados das empresas médias. Em janeiro de 2022, eram apenas quinze, número que subiu para trinta pedidos no início deste ano. Onze foram reconhecidos.

Para empreendimentos de grande porte, a diferença é maior que o dobro. Os pedidos subiram de seis para quinze, e treze foram aceitos. O caso da Americanas foi emblemático entre o grupo de grandes empresas que enfrentam dificuldades financeiras, do qual também faz parte Oi e Marisa.

Na recuperação judicial, a empresa em dificuldades fica protegida da execução de dívidas por credores até que proponha e aprove entre eles um plano de reestruturação sob mediação da Justiça.

O principal elemento por trás das crises sucessivas nas empresas é a alta dos juros, que encarece o crédito. A Selic disparou de 2% no início de 2021 para 13,75% em agosto de 2020, patamar mantido até hoje pelo Banco Central (BC).

Outro agravante é a lenta retomada do consumo, que sofre com a inflação e com a diminuição na renda da população, que ainda está muito endividada. Por fim, segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO, a incerteza sobre a política fiscal do novo governo também compromete a confiança dos investidores.