Em meio à grave crise, médicos “escolhem quem salvar” nas terras Yanomami

Equipes trabalham com falta de medicamentos, equipamentos e profissionais

Indígenas Yanomami com casos mais graves são levados à capital Boa Vista (Sesai / Divulgação)
Indígenas Yanomami com casos mais graves são levados à capital Boa Vista (Sesai / Divulgação)

Em meio à grave crise sanitária que assola as terras indígenas Yanomami, os profissionais de saúde que atuam na região têm de escolher quem salvar. Até semana passada, a equipe com apenas cinco pessoas – um médico, uma enfermeira e três técnicos de saúde – se desdobrava dia e noite para cuidar de 30 mil indígenas que vivem no local.

"Neste momento, os profissionais de saúde têm de escolher quem salvar. Eles removem de Surucucu para Boa Vista primeiro quem eles acham que tem maior chance de sobrevivência", disse o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami, Junior Hekurari.

O polo-base de saúde, em Surucucu, fica a 270 quilômetros da capital Boa Vista. A viagem de um lugar para o outro leva, em média, duas horas em um avião de médio porte. Com estrutura para atender somente 25 pacientes, o local contava com 200 internados.

Emergência. No dia 20 de janeiro, o Ministério da Saúde declarou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional nas terras Yanomami.

A última vez que o Brasil havia declarado uma emergência de saúde pública foi em 2020, devido à pandemia de Covid-19. Com hospitais superlotados, os profissionais de saúde também tiveram que escolher quem sobreviveria na época.

A cena que se repete hoje entre os indígenas – provocada, em grande parte, pela desnutrição e malária decorrentes das atividades de garimpo ilegal – é percebida com um sentimento de “agonia” entre a equipe médica. Desde o dia 20, novos voluntários são aguardados com ansiedade.

Reforços. Depois de declarada a emergência, foram convocados os primeiros voluntários da Força Nacional do SUS (Sistema Único de Saúde) ao polo-base.

  • Expectativa era de que chegassem 16 profissionais;

  • No entanto, avião da FAB (Força Aérea Brasileira) pousou com três dias de atraso;

  • Nele, havia menos voluntários do que o esperado: quatro enfermeiros e três médicos.

“Faltam equipamentos nas unidades de saúde da terra yanomami, faltam medicamentos, e não há profissionais para trabalhar nesses lugares. A saúde entrou em colapso no território Yanomami e não é de hoje”, critica Dário Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami.

Sem um hospital no território Yanomami, os casos mais graves continuaram a ser enviados a Boa Vista, mas nem sempre a estratégia é eficaz. No sábado, uma criança de um ano com severo quadro de desnutrição não conseguiu ser removida a tempo por conta das fortes chuvas que assolavam o território há quatro dias. Ela veio a óbito.

Para agilizar atendimentos, a FAB prevê a construção de um hospital de campanha. Este, porém, depende da ampliação da pista de pouco do local, para receber aviões de maior porte.