Em 'quarentena' por suspeita de Covid, Pazuello recebe Onyx em casa, diz jornal
Na terça (4), o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello comunicou à CPI da Covid que não compareceria ao seu depoimento porque estaria de "quarentena"
Nesta quinta (6), no entanto, o jornal Estadão flagrou o ex-ministro da Saúde recebendo a visita do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni (DEM), em Brasília
Além de ter se reunido com Onyx, Pazuello tem mantido uma rotina de poucos cuidados dentro das dependências militares — ou seja, estaria disseminando o vírus se realmente estivesse contaminado
Na terça-feira (4), o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello comunicou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado que não compareceria ao seu depoimento porque estaria de "quarentena" — ele alegou que teve contato com pessoas com suspeita de Covid-19. Os senadores, então, remarcaram o depoimento para o dia 19.
No entanto, dois dias depois, nesta quinta-feira (6), o jornal Estadão flagrou o ex-ministro da Saúde recebendo a visita do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni (DEM), em Brasília.
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Além de Onyx, segundo o jornal, uma assessora do Palácio do Planalto saíram do encontro no Hotel de Trânsito de Oficiais, onde mora Pazuello, no Setor Militar Urbano.
De acordo com o jornal, Onyx deixou a área militar por volta das 10h da manhã. Acontece que o encontro não constava na agenda pública do ministro da Secretaria-Geral.
Pelo contrário, naquele momento, segundo registro oficial do governo Jair Bolsonaro (sem partido), ele participaria de reunião com o assessor José Vicente Santini, no gabinete dentro do Palácio do Planalto.
A reportagem do Yahoo! Notícias entrou em contato com o ministro e sua assessoria direta, mas a Secretaria-Geral da Presidência ainda não se pronunciou.
Mesmo contaminado, é possível reinfecção
Onyx foi um dos primeiros ministros de Bolsonaro a ter Covid-19. Ele comunicou que contraiu a doença em julho do ano passado. Mesmo já tendo sido contaminado, é possível a reinfecção.
Nestes casos, a recomendação sanitária para pessoas que tiveram contato direto com casos confirmados é de se resguardar e manter medidas de isolamento por até 14 dias.
Rotina de poucos cuidados
Além de ter se reunido com Onyx, Pazuello tem mantido uma rotina de poucos cuidados dentro das dependências militares — ou seja, estaria disseminando o vírus se realmente estivesse contaminado.
O pedido para mudar seu depoimento provocou irritação em senadores, que alegaram justamente a falta de cuidados do ex-ministro da Saúde.
Na CPI, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) questionou a justificativa de Eduardo Pazuello. "Vai sem máscara pro shopping e não pode vir pra CPI", comentou, após o anúncio de que o ex-ministro não participaria.
Ela se referia ao episódio em que Pazuello foi visto em um shopping em Manaus, no Amazonas, sem máscara. Na ocasião, uma frequentadora do shopping chamou atenção do ex-ministro, que perguntou: "Onde compra isso?".
Sobre a CPI da Covid no Senado
O que deve ser investigado pela CPI
Ações de enfrentamento à Pandemia, incluindo vacinas e outras medidas como a distribuição de meios para proteção individual, estratégia de comunicação oficial e o aplicativo TrateCOV;
Assistência farmacêutica, com a produção e distribuição de medicamentos sem comprovação
Estruturas de combate à crise;
Colapso no sistema de saúde no Amazonas;
Ações de prevenção e atenção da saúde indígena;
Emprego de recursos federais, que inclui critérios de repasses de recursos federais para estados e municípios, mas também ações econômicas como auxílio emergencial.
Quem é o relator da CPI, Renan Calheiros
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vai apurar eventuais omissões do governo federal no combate à pandemia terá como relator o senador Renan Calheiros (MDB-AL). O colegiado será presidido por Omar Aziz (PSD-AM) e o vice-presidente será o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Crítico ao governo Jair Bolsonaro, Renan Calheiros será responsável por dar o rumo aos trabalhos e produzir o texto final, que pode ser encaminhado ao Ministério Público e a outros órgãos de controle.
É um dos nomes mais antigos no Senado brasileiro. Ele está há 26 anos na Casa e tem mandato até janeiro de 2027. Foi três vezes presidente do Senado, além de ministro da Justiça no governo FHC. É pai do governador de Alagoas, Renan Filho (MDB).
Crítico ao governo de Jair Bolsonaro, nesta semana, Renan Calheiros defendeu que o MDB apoie o ex-presidente Lula na eleição presidencial de 2022.
Como vai funcionar a CPI no Senado
O que diz a Constituição?
A Constituição estabelece que são necessários três requisitos para que uma CPI possa funcionar: assinaturas de apoio de um terço dos parlamentares da Casa legislativa (no caso do Senado são necessários 27 apoios); um fato determinado a ser investigado; e um tempo limitado de funcionamento.
Quanto tempo pode durar uma CPI?
Depende do prazo que o autor do requerimento estipular. No caso da CPI da Covid, o prazo inicial é de 90 dias, conforme requerimento do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) de 15 de janeiro.
Quais os poderes de uma CPI?
Poderes de investigação próprios dos juízes, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas. No Senado, os membros da CPI podem realizar diligências, convocar ministros de Estado, tomar o depoimento de qualquer autoridade, inquirir testemunhas, sob compromisso, ouvir indiciados, requisitar de órgão público informações ou documentos de qualquer natureza e ainda requerer ao Tribunal de Contas da União a realização de inspeções.