Quase 60% das empresas fecham as portas em cinco anos

Em Niterói. Comércio fechado na Rua Marechal Deodoro, no Centro

Se abrir uma empresa no Brasil jĂĄ Ă© difĂ­cil, tentar mantĂȘ-la Ă© ainda mais complicado. De acordo com o levantamento Demografia das Empresas e EstatĂ­sticas de Empreendedorismo, do IBGE, seis em cada 10 empresas abertas em 2012 nĂŁo conseguiram manter as portas abertas por mais de cinco anos.

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Conforme os anos passam, vai ficando mais desafiador manter o negĂłcio. Segundo a pesquisa, entre as empresas que nasceram em 2012, a taxa de sobrevivĂȘncia foi de 78,9% apĂłs um ano de funcionamento; 64,5% apĂłs dois anos; 55% apĂłs trĂȘs anos; 47,2% apĂłs quatro anos; e 39,8% apĂłs cinco anos.

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O relatĂłrio mostra, ainda, que em 2017 havia cerca de 4,9 milhĂ”es de empresas no paĂ­s, sendo 22,5% no Sudeste. Nesta regiĂŁo e tambĂ©m no Sul foram registradas as maiores taxas de sobrevivĂȘncia. No Norte e no Nordeste, porĂ©m, as empresas fecham mais rapidamente.

No Rio, no período findo também em 2017, foram registradas 52.422 aberturas de empresas e 55.176 fechamentos. Considerando as que jå existiam (297.681), o total do saldo entre ativas e sobreviventes foi de 350.103.

Os irmãos Luiz Felipe e Luiz Sergio Costa sabem bem o que é isso. Eles abriram uma franquia de alimentação em 2009, mas o investimento que tinham planejado triplicou e o treinamento prometido pela matriz não aconteceu. Fecharam no ano seguinte.

— A concorrĂȘncia era grande e a experiĂȘncia na administração, pouquĂ­ssima. Com isso, as dĂ­vidas começaram e o dinheiro que tĂ­nhamos acabava rapidamente — diz Felipe.

Para tentar reverter a situação sem desistir do sonho, eles buscaram ajuda. Felipe fez cursos de gestĂŁo e Sergio trocou a engenharia pelo curso de gastronomia. AlĂ©m disso, contrataram uma nutricionista e dois profissionais com experiĂȘncia em operação de restaurantes para iniciar a formatação de um novo negĂłcio.

No mesmo ano em que fecharam a primeira empresa, abriram outra, a Billy The Grill. Quatro anos depois, lançaram outra marca e, em 2015, a terceira, formando o Grupo Alento, que hoje tem 60 unidades e gera mais de 1.200 empregos diretos.

— É muito importante conhecer a fundo o segmento que vocĂȘ escolher para abrir seu negĂłcio — aconselha Felipe.

Jå no caso da empresåria Edilma Lima foi a sociedade que não deu certo. Em 2015, ela abriu uma empresa que confeccionava fraldas de piscina e acessórios com proteção solar, e teve sucesso: chegou a mais de 360 pontos de venda no país. Mas, em agosto deste ano, o negócio desandou.

— TĂ­nhamos afinidades distintas e visĂ”es de futuro diferentes, criando conflitos de ideias. Decidimos terminar. Assim Ă© no mundo dos negĂłcios. Com a experiĂȘncia, hoje nĂŁo quero mais uma sociedade — diz ela, que agora abriu uma segunda empresa no mesmo ramo, a Ecoeplay.

Gestão, planejamento e capacitação

A coordenadora de atendimento do Sebreae RJ, Tereza Cristina Ferreira, pondera, entretanto, que muitas fecharam para mudar a forma de tributação e abrir o MEI — que Ă© mais simplificado para o microempreendedor — e que, com isso, a taxa de sobrevivĂȘncia pode ser maior.

Mas, ainda assim, ela afirma que Ă© alto o nĂșmero de empresas que encerram as atividades no inĂ­cio da operação. E elenca os trĂȘs principais motivos que costumam levar ao fim do negĂłcio:

— Falta de planejamento, falta de informação e falta de capacitação sĂŁo os principais problemas na gestĂŁo. SĂŁo muitas as histĂłrias de quem pega a rescisĂŁo e aposta tudo sem conhecer direito o negĂłcio, nĂŁo analisa o risco. Outro erro fatal Ă© contratar amigos e parentes sem qualificação ou sem capacitĂĄ-los.

Luzia Costa, CEO do Grupo Cetro, com marcas como SĂłbrancelhas e Beryllos, diz que o primeiro passo Ă© investir em algo que vocĂȘ goste e que conheça. O segundo Ă© ter um plano de negĂłcios bem definido, sabendo em qual mercado vai atuar, o que jĂĄ existe na concorrĂȘncia e quem sĂŁo o pĂșblico-alvo e os fornecedores.

— Alguns empreendedores começam no caminho errado ao optar por algo que está na moda em em vez de se dedicar ao que conhece.

Também estão na lista conhecer outros empreendedores para aumentar sua agenda de contatos e futuros parceiros, manter-se sempre atualizando e estudando e ralar muito.

— A histĂłria de que ser dono do seu prĂłprio negĂłcio Ă© fĂĄcil e vocĂȘ terĂĄ mais tempo, horĂĄrios definidos e finais de semana livres, alĂ©m de ganhar dinheiro de forma rĂĄpida, Ă© lenda. O empreendedor irĂĄ trabalhar 24 horas por dia, sem folga, pois sem dedicação o negĂłcio nĂŁo sairĂĄ do papel. Por isso, Ă© importante se dedicar 100% — afirma Luzia.

Para o especialista em marketing Pedro Superti, o maior pecado do empreendedor Ă© nĂŁo se diferenciar.

— O novo consumidor espera que a qualidade seja uma obrigação do negĂłcio, nĂŁo um diferencial. O que vocĂȘ faz alĂ©m de ter qualidade Ă© o que começa a contar. Antes mesmo de abrir as portas para os clientes, Ă© preciso saber responder Ă  pergunta “por que vocĂȘ deve comprar de mim e nĂŁo de outros concorrentes?”. Se vocĂȘ nĂŁo tem uma resposta clara e convincente para essa pergunta, sĂŁo grandes as chances de seu negĂłcio nĂŁo durar trĂȘs anos.

O lado B de ser dono: tributos, muita burocracia e legislação

O segredo da vida longa de um negócio é o planejamento antes de abrir as portas. Mas, depois que o caixa começa a registrar, a burocracia é que se torna um obståculo comum. O primeiro erro é misturar as contas pessoais e da empresa.

— Ao se tornar jurĂ­dica, a pessoa passa a ter acesso a diferentes crĂ©ditos, mas nĂŁo avalia os custos disso. Outros dois pontos a serem considerados Ă© saber negociar bem com os fornecedores e ter fĂŽlego financeiro — diz a coordenadora de atendimento do Sebreae RJ Tereza Cristina Ferreira.

— Saber fazer uma boa pizza nĂŁo faz de vocĂȘ um bom gestor, necessariamente — alerta ela.

Claudia Marchioti e Arthur Rosas, gestores do curso de Administração da Eståcio, acrescentam que, além da conhecida e elevada carga tributåria, e da burocracia na constituição e na legalização do empreendimento, hå a complexidade da legislação.

— É importante o auxĂ­lio de um profissional da ĂĄrea contĂĄbil nĂŁo apenas para o cumprimento das exigĂȘncias legais, mas tambĂ©m para a realização de um planejamento tributĂĄrio eficiente. Por exemplo, para saber de enquadramentos do lucro, isençÔes e deduçÔes fiscais, entre outros — diz Claudia.

Ela lembra que, a partir dessa premissa, o plano de negócios deve contemplar as retiradas de caixa necessårias para pagamentos e também ter capital de giro suficiente para manter a própria operação (compra de estoque, produção e venda), além de considerar demais despesas e o salårio do empreendedor.

Rosas reforça que é fundamental saber a distinção entre lucro e retorno sobre o investimento realizado, pois existe um tempo de maturação do negócio necessårio para amortizar o capital investido. Segundo ele, isso varia muito. Mas, em termos gerais, o mercado considera uma média de 12 meses para começar a ter lucro.

Para as microempresas, isso Ă© ainda mais sensĂ­vel, visto que muitas nĂŁo tĂȘm um grande aporte financeiro. Por mais redundante que pareça, conhecer o negĂłcio, buscar se diferenciar e planejar sĂŁo a chave para nĂŁo estar entre as 60% que fecham as portas.

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