Entenda por que a Bovespa não 'desabou' depois dos atos golpistas de domingo
Mercado interpreta as manifestações como um "não-evento", disse Rodrigo Lima, analista financeiro;
Reunião de Lula com governadores está marcada para 18h, após o fechamento do pregão.
O Ibovespa abriu o dia com uma queda de 0,42% nesta segunda-feira (09), dia seguinte à invasão do Congresso Nacional, Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal por terroristas em Brasília. O índice da Bolsa de Valores chegou a um mínimo de -0,74% às 10:13 desta manhã, quando voltou a se recuperar.
Da mesma forma, o dólar iniciou o dia em alta de 1,16%, baixando para um saldo de 0,49%, quando voltou a recuperar sua valorização. No momento de escrita desta matéria, a alta do dólar é de 0,7%, enquanto o Ibovespa atingiu um saldo positivo de 0,54%
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A negociação de ambos ativos com estes números representa, ainda que no começo do dia, uma menor volatilidade àquela sentida pelo mercado financeiro no dia seguinte à posse de Lula. No dia 02/01, uma semana atrás, o dólar fechou em alta de 1,51%, enquanto o Ibovespa, principal indicador de desempenho das ações da bolsa de valores brasileira, registrou queda de 3,06%.
Na época, analistas financeiros afirmaram que Lula não tocou em temas importantes para o mercado em seu discurso de posse, como o encaminhamento da reforma tributária e o novo arcabouço fiscal do país, que substituirá o Teto de Gastos.
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Apesar da reação mista de hoje do mercado, Ibovespa em relativa neutralidade e dólar em alta, não é possível apontar uma justificativa clara para isso. Especialistas esperavam uma grande volatilidade no curto prazo devido ao risco institucional. No entanto, para Rodrigo Lima, analista de investimentos e editor de conteúdo da Stake, plataforma de investimentos no exterior, a reação ambígua do mercado tem uma explicação clara.
"O mercado interpreta esse tipo de manifestação como um não-evento, já que não parece haver uma ruptura política ou socioeconômica. O mesmo aconteceu nos EUA durante a invasão do capitólio no dia 06 de janeiro de 2021, quando o S&P 500 subiu +0,57% enquanto manifestantes tomavam um dos edifícios mais representativos do governo americano, continuando a subir por dois pregões subsequentes”, afirmou o analista.
“É fundamental, no entanto, acompanhar a evolução das manifestações e medidas tomadas pelo governo, que possam eventualmente vir a causar disrupções políticas e, então, passar a fazer preço no mercado”, concluiu Lima.
Investidores acreditam que, apesar dos eventos graves do domingo, não haverá mudança de governo à frente, respeitando a ordem institucional.
O que pode afetar, sim, é o tamanho do investimento externo para o Brasil. Os agentes estrangeiros podem ficar receosos em colocar seu dinheiro num país instável, com ameaças de rupturas políticas e econômicas. Porém, a tendência é que os investidores voltem suas atenções para a agenda doméstica brasileira nas próximas semanas, superando o temor de um possível golpe por causa dos atos de domingo.