Entenda por que o nome da varíola dos macacos vai mudar
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou nesta terça-feira que os nomes do vírus causador da varíola dos macacos – atualmente chamado de monkeypox –, de suas variantes e até mesmo da própria doença vão mudar. Na última sexta-feira, um grupo de aproximadamente 30 virologistas já havia publicado um manifesto por uma nova nomenclatura que seja “não discriminatória”.
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— A OMS também está trabalhando com seus parceiros e especialistas de todo o mundo para mudar o nome do vírus monkeypox, suas variantes e a doença que ele causa (varíola dos macacos). Faremos anúncios sobre os novos nomes o quanto antes for possível — disse o representante da organização em coletiva de imprensa.
O movimento é semelhante ao realizado em 2021, quando a organização passou a adotar letras gregas para as cepas da Covid-19 no lugar da referência ao país de origem. Na época, a epidemiologista-chefe da OMS e líder da resposta ao novo coronavírus, Maria Van Kerkhove, destacou que “nenhum país deve ser estigmatizado por detectar e relatar novas variantes”. Foi, por exemplo, quando a antiga “variante indiana” passou a ser chamada de variante Delta.
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Na defesa para que o mesmo aconteça com a varíola dos macacos, cerca de 30 especialistas ao redor do mundo fizeram uma publicação no virological.org, site em que virologistas de todo o mundo compartilham informações sobre vírus em tempo real.
Chamada de “Necessidade urgente de uma nomenclatura não discriminatória e não estigmatizante para o vírus monkeypox”, o documento tem entre seus assinantes o brasileiro Tulio de Oliveira, um dos responsáveis por sequenciar a variante Ômicron do Sars-CoV-2 na África do Sul e que foi escolhido como um dos cientistas do ano pela revista científica Nature.
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Macaco não é o principal hospedeiro
O nome “varíola dos macacos” já recebia críticas uma vez que não são estes os animais conhecidos por serem portadores da doença. A confusão começou em 1958, quando o vírus foi isolado pela primeira vez. Para isso, os pesquisadores utilizaram um macaco cinomolgo (Macaca fascicularis), espécie natural da Ásia.
Por isso, o patógeno acabou levando o nome de monkeypox – já que monkey no inglês quer dizer macaco – e, na língua inglesa, a doença foi batizada com o mesmo título. Em português, foi feita a tradução, e o diagnóstico recebeu o nome utilizado hoje de varíola dos macacos.
No entanto, a principal suspeita é de que os hospedeiros do vírus sejam majoritariamente roedores silvestres africanos – ratos e esquilos das florestas ainda pouco conhecidos. O macaco até pode ser infectado, mas, ao que tudo indica, não é ele o principal hospedeiro natural.
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Proposta de nova nomenclatura
Além da confusão com a origem da doença, a principal defesa no manifesto dos virologistas é pela mudança no nome das variantes do vírus. Hoje, elas são associadas à África Ocidental, chamada de West clade, e à África Central na região do Congo, chamada de Congo clade.
Segundo os pesquisadores, sabe-se que a grande maioria dos casos da varíola dos macacos causados por essas cepas nos anos anteriores ao surto atual eram consequência de uma transmissão de animais para humanos, e não entre pessoas como hoje.
Por isso, eles defendem que “no contexto atual, a referência contínua e a nomenclatura deste vírus como sendo africano não é apenas imprecisa, mas também discriminatória e estigmatizante”. Para mudar esse cenário, os virologistas propõem que seja adotado “Cepa 1”, no lugar de Congo clade e “Cepa 2 e 3”, no lugar de West clade.
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Segundo eles, o sistema atual leva a uma narrativa, propagada até pelos próprios cientistas, de que o avanço da doença no momento seria ligado aos países africanos. Porém, eles explicam que o vírus responsável pelo aumento de casos agora apresenta características diferentes dos anteriores que o torna mais transmissível.
Isso também levou os pesquisadores a defenderem que os genomas sequenciados dos casos da doença neste ano sejam enquadrados em uma classificação distinta do vírus, uma vez que demonstram um comportamento diferente – a maior disseminação entre humanos. Para isso, enquanto MPXV é utilizado para o vírus monkeypox tradicional, o atual seria renomeado para hMPXV.
“Acreditamos que um nome distinto e conveniente para o vírus causador dessa epidemia facilitaria a comunicação sem maiores conotações negativas. Aqui usamos o rótulo de espaço reservado 'hMPXV' para denotar onde acreditamos que esse vírus agora humano se torna distinto do MPXV”, escreveram os virologistas.
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Emergência internacional
Na coletiva desta terça-feira, o diretor-geral da OMS disse que, em 2022, a organização já identificou mais de 1.600 casos da varíola dos macacos e quase 1.500 suspeitos. A maioria proveniente de 32 países onde a doença não é endêmica, ou seja, fora do continente africano - muitos com transmissão local do vírus pela primeira vez.
— O surto global da varíola dos macacos é claramente incomum e preocupante. É por essa razão que decidi convocar o comitê de emergência, sob os regulamentos internacionais de saúde, na próxima semana, para avaliar se esse surto representa uma emergência de saúde pública de interesse internacional — afirmou Tedros Adhanom.
O status de emergência internacional é hoje atribuído apenas à Covid-19 e à poliomielite. Em outras épocas, já foi decretado para diferentes doenças, como no caso do ebola, em 2014, e da gripe suína, em 2009.